segunda-feira, 12 de março de 2012

Helena Kolody - 100 Anos - 3



Muito religiosa, de não perder a missa e nem a comunhão do domingo: Deus é uma luz que está a iluminar a Humanidade inteira..., é quando se apega à fé que Helena Kolody se apequena humilde diante do Divino. Seus versos confessos tornam-se tristes e de uma candura arrebatadora. Como em Prece (1941) que, conforme declarou (em Sinfonia da Vida, 1997): Esse poema recebeu um “imprimatur” da Igreja e é lido como se fosse uma oração. Salvou uma linda jovem, porém depressiva, do suicídio. Antes do gesto trágico, resolveu ler o livro que eu lhe dera de presente. Abriu-o aleatoriamente, leu “Prece”, jogou o veneno fora e ganhou a vida. Veja só, eu tenho vários poemas depressivos, e se ela abrisse num deles? Depois disso, mudei minha própria maneira de ser. Meus últimos poemas se tornaram mais extrovertidos, abertos, mais otimistas. Devo isso àquela moça.

Prece (1941)

Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas,
Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d’alma alheia o espinho que magoa.


Cheguei a Curitiba em 1990. Um dia, na redação do Nicolau, conheci Jamil Snege (1939 - 2003). Outro dia conheci um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, editado em 1989. Ele é composto de 22 breves monólogos. A sua catarse sacra. Ao lembrar a Prece de Kolody, lembrei do texto 20 de Snege:

Toma a máquina do meu
corpo e nela
transporta socorro para
os teus aflitos.
É de pouca serventia,
sei – o coração me
arde, meus músculos
estão fracos – mas podes
usá-la à exaustão.
E quando não mais prestar,
Senhor, escolhe uma
Tíbia e faze uma flauta.

Foto de Joba Tridente: Cúpula da Igreja Ucraniana em Antonio Olinto-PR

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