terça-feira, 30 de junho de 2015

José Craveirinha: Pena

Em 2012, na Semana da Consciência Negra, postei o belíssimo poema Fábula, de José Craveirinha. Conheci a obra deste genial escritor através da Antologia de Autores Africanos: Do Rovuma ao Maputo, organizada por Carlos Pinto Pereira, em 1999, que encontrei, por acaso, disponibilizada na web. Posteriormente, em 2014, fiz a postagem de três pungentes poesias: Terra de Canaã; Carreira de Gaza e Reza, Maria. Hoje, a propósito da inconveniente declaração de um certo técnico da seleção brasileira de futebol: Pena, do livro Cela 1 - 1980: 



PENA
José Craveirinha

Zangado
acreditas no insulto
e chamas-me negro.

Mas não me chames negro.

Assim não te odeio
Porque se me chamas de negro
encolho os meus elásticos ombros
e com pena de ti sorrio.

*
Ilustração de Joba Tridente: 2015


José João Craveirinha (1922 - 2003) nasceu em Maputo, Moçambique.  Considerado o maior escritor moçambicano, o primeiro a receber o Prêmio Camões, iniciou-se no jornalismo no Brado Africano e se firmou colaborando com diversos veículos de informação. Craveirinha esteve preso entre 1965 e 1969, pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), na Cela 1, com Malangatana e Rui Nogar. O escritor utilizou vários pseudônimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. É autor de Xigubo (1964 - com 13 poemas e 1980 – com 21 poemas); Cantico a un dio di Catrame (1966); Karingana ua karingana (1974);  Cela 1 (1980); Izbrannoe (1984); Maria (1988); Babalaze das hienas (1996); Hamina e outros contos (1997); Maria. Vol.2 (1998); Poemas da Prisão (2004); Poemas Eróticos (2004 - edição póstuma organizada por Fátima Mendonça).

Para conhecer um pouco mais da sua obra, sugiro o ensaio José Craveirinha, publicado no Portal Lusofonia

domingo, 28 de junho de 2015

Joba Tridente: Menina Ururam

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Menina Ururam. Posto Indígena Lages, Rondônia, 1981.

menina ururam
joba tridente

meninágua
voágua
borboletágua
revoágua
...........................
asas e respingos
pra todo lado

*
jt.21.11.2013
sobre foto de Marcos Santilli



Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

sábado, 27 de junho de 2015

Joba Tridente: Biguás

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Biguás, Rio Guaporé, Rondônia, 1981

biguás
joba tridente

biguás no
guaporé
biguasporioé
festa ao luario
...........................
peixes no desvio
d’água salt’acolá

*
jt.01.11.2014
sobre foto de Marcos Santilli



Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Joba Tridente: Boleia

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Ariquemes, a caminho de Ariquemes velha, Rondônia, 1981.

boleia
joba tridente

na boleia um disparo
e o infinito tangencia
o horizonte no ponto
de fuga da estrada
...............................
um tempo para
despedidas
quem se retira?
............................
antes que o barro
retorne poeira
nas entradas
e saídas da beira
..........................
um tempo para
destinos
quem se atira?
........................
um tempo
de desatinos
na velocidade
de um click!

*
jt.10.11.2013
sobre foto de Marcos Santilli



Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Joba Tridente: Esmo

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Menino de Colorado, na rua principal. Rondônia, 1978

esmo
joba tridente

um plantio de casas
na terra rasgada
a esmo
...........................................
galinhas, cachorros, cavalo
a esmo
gente colorindo a passagem
.............................................
a esmo
um menino só
veste a camisa de ontem
.......................................
um tronco dá de ombro:
Colorado, não Eldorado!

*
jt.23.09.2013
sobre foto de Marcos Santilli



Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Joba Tridente: Mãe Paiter Surui

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Mãe Paiter Surui no Parque Indígena 7 de Setembro, Riozinho, RO, 1981.

mãe paiter surui
joba tridente

brasa na pele
mãe e cria
dia que escorre
luz na trilha

33 anos de nascentes
neste olhar horizonte
neste olhar continente
33 anos de poentes

*
jt.04.06.2013
sobre foto de Marcos Santilli


Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Joba Tridente: Madeira - Mamoré

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras.


Locomotiva Maquinista Rivero, Madeira-Mamoré, 1977.

madeira - mamoré
joba tridente

Um dia
Vieram homens
Feriram a mata
Abriram sulcos na terra
Enxertaram troncos e trilhos
Pedras e cascalhos esconderam feridas
Foram os homens
Um dia
................
Outro dia
Um apito longínquo
Cruzou a mata
Confundiu pássaros e mamíferos
Bicho novo no espaço
Locomotiva largando fumaça
Não voava e não andava
Rodava no mesmo caminho
Indo e vindo e ind e vind e in e vin e i e vi e v....
............................................................................
O vento não encontrou barreiras
A mata recomeçou mato
A carcaça fria não servia à toca
A cantilena da chuva não fez eco
A cantilena da chuva fez ferrugem
A carcaça fria ficou esquecida
...
A mata engole a lata
O vento não encontra barreiras
...................................................
MAdeIRA – MAmoRÉ

*
jt.24.07.2013
sobre foto de Marcos Santilli


Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Joba Tridente - Gato - 1, 2 e 3

Conheci o fotojornalista Marcos Santilli em Brasília, em meados dos anos 1970 e o reencontrei no FaceBook, onde está sempre postando suas pérolas raras. Em 2013, estava com mais tempo e mais atento às suas publicações, curti e me intrometi com comentários poéticos em várias delas. Dia desses, selecionando textos, reencontrei algumas dessas intromissões..., reli, gostei e decidi publicar. Marcos Santilli autorizou o uso das suas preciosas fotos inspiradoras. Esta é a primeira postagem, de sete:


Rolim de Moura RO. Principal esquina em 1990

gato - 1
joba tridente

o gato fugiu
na poça
seu contorno

*
jt.4.6.2013
sobre foto de Marcos Santilli



Memória de Canudos. Bendengó, BA, 1978.

gato – 2
joba tridente

um pé
no caminho o gato
confere suas patas
em vão procura
atrás o resto
do corpo que falta

*
jt.31.07.2014
sobre foto de Marcos Santilli



Só ele sabia que o trem não mais viria... Madeira-Mamoré - Teotônio

gato - 3
joba tridente

Floresta cerrada!
Cascalhos, trilhos..., dormentes!
Floresta serrada para nada!
Um gato sem direção!

*
jt.24.02.2013
sobre fotos de Marcos Santilli


Marcos Santilli é fotojornalista desde 1970 e há 38 anos desenvolve o Projeto Nharamaã, que reúne documentação áudio-fotográfica sobre as transformações humanas e ambientais na Amazônia. Santilli fotografou para diversos jornais, revistas nacionais e internacionais e foi fundador e primeiro vice-presidente da União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo e da União dos Fotógrafos de Brasília. Coordenou diversos cursos, palestras e oficinas no Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. É membro fundador e foi coordenador geral do Nafoto - Núcleo dos Amigos da Fotografia, entidade que promove o Mês Internacional da Fotografia e o Seminário Internacional de Fotografia. Marcos Santilli dirigiu o Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, de 1995 a 2003. Atualmente dirige a Memória Comunicações Ltda., que desenvolve projetos culturais nas áreas de fotografia, vídeo e artes gráficas. O fotojornalista publicou: Àre (Sver e Bocato Editores, SP, 1987); Madeira-Mamoré, Imagem e Memória (Memória Comunicações Ltda., SP, 1987) e Amazon, a Young Reader’s Look at the Last Frontier (Boyds Mills Press. Honesdale, EUA, 1991). O currículo integral pode ser conferido na Wikipédia.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Keyane Dias: Sertão do Brasil Central

Li o poema Sertão do Brasil Central, de Keyane Dias, numa postagem no FaceBook e gostei. Talvez por ter morado no planalto central e amar o cerrado ou também por já ter escrito sobre ele me identifiquei. Com autorização da autora, pincei o poema publicado originalmente em seu site Além das Paredes (22.10.2014) e no Xapouri Sócio Ambiental (10.04.2015). Sertão do Brasil Central venceu o Concurso de Poesia do VII Encontro do Bonito, em setembro de 2014.



Sertão do Brasil Central
poesia dedicada aos caminhantes e ao sertão cerrado de Minas Gerais
Keyane Dias

Cerrado é senhor velho
Profunda sabedoria
Onde resiste flor valente
Sempre-viva na estia

Veredas, chapadões
Sertão do Brasil Central
Céu do tamanho do mundo
Sem princípio, nem final

Morada de berço d’água
Clima seco, ora chuvoso
Foi lá que disse o Rosa
“Viver é muito perigoso”

Quem diz que o Cerrado
É mata morta, sem feitio
Não conhece sua cultura
Nem o povo que a pariu

Entre calango e carcará
De pé, em movimento
Se embrenha a sua gente
Na feitura do seu tempo

Benzedeiras, foliões
Divino, Reis vão louvar
Lundu e curralera
Só vê quem lá está

Buriti dá tudo um pouco
Sabor, beleza, proteção
Pequi, único gosto
Do tingui se faz sabão

Sozinha, vendo tudo
Calliandra sempre está
Barbatimão, forte remédio
Da medicina popular

Cura do mato, de tradição
Senhora erveira sabe usar
Vão das Almas, dos Buracos
Quilombo também tem lá

A essência dessas terra
É como aboio de vaqueiro
Vem da alma desse povo
Cerratense, brasileiro.

*
ilustração de Joba Tridente.2015


Keyane Dias é poeta e jornalista, especializada em comunicação cultural. É também pesquisadora e articuladora social junto a movimentos e projetos voltados para a sustentabilidade e valorização dos saberes tradicionais e de tradição oral. A poesia Sertão do Brasil Central teve como inspiração a travessia do projeto O Caminho do Sertão pelo norte e noroeste mineiro.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Wilson Bueno: Fotografia - tanka 5

No dia 31 de Maio de 2015, fez cinco anos que o escritor e jornalista paranaense Wilson Bueno foi assassinato em. Eu o conheci, através do artista plástico Rogério Dias, em 1990. Naquele momento o Jornal NICOLAU (1987-1995), editado por ele, estava sem artista gráfico e aceitei fazer um número. Fiquei cinco anos como editor gráfico (1990-1995) do NICOLAU. Com o fim do jornal, Wilson Bueno, voltou a se dedicar à sua notória literatura. Seu assassino continua impune!

Em entrevista à escritora e jornalista Marília Kubota, publicada no Jornal Memai, em novembro de 2009, assim falou Wilson Bueno sobre o fazer tanka: “(...) o tanka, sabemos, carrega consigo o chamado “olho” do haicai e ainda pede uma “conclusão” em dois versos finais. Sempre, claro, na rigorosa métrica que inventamos para ele, para transfigurá-lo, creio. Uma “matemática” que me seduz, - 5/7/5 (o haicai!) e 7/7 a dita “conclusão”, uma sutil “moral” da história… (...) A métrica, inventada aqui, também é um exercício de humildade - você se vê obrigado a desprezar o que julga um achado precioso porque este tal de “precioso” o poema só pode acolhê-lo se em rigorosas e calculadas sílabas poéticas… Temos que recusar, jogar literalmente no lixo o que consideramos grandes “insights”, porque não cabem no metro do poema, você me entende?”

Em sua homenagem, durante cinco dias, a postagem de 5 tankas presentes na pré-edição do seu livro pequeno tratado de brinquedos, que me ofereceu no inverno de 1994. Link dos tankas: Rumor. Manhã. Notícias. Exercício Escolar.



pequeno tratado de brinquedos
Wilson Bueno


fotografia

eis o novo outono
é só no porta-retrato
que não mudo de ano

a mesma imóvel idade
com que o pó adere ao pano


*
foto de Mylle Silva.2009



Wilson Bueno (1949-2010): escritor, cronista e jornalista. Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Entre as suas principais obras estão: Bolero's Bar (1986); Manual de Zoofilia (1991); Mar Paraguayo (1992); Pequeno Tratado de Brinquedos (1996); Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000); Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004); Pincel de Kyoto (2007); A Copista Kafka (2007); Mano, A noite Está Velha (2011).

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Wilson Bueno: Exercício Escolar - tanka 4

No dia 31 de Maio de 2015 fez cinco anos que o escritor e jornalista paranaense Wilson Bueno foi assassinato em. Eu o conheci, através do artista plástico Rogério Dias, em 1990. Naquele momento o Jornal NICOLAU (1987-1995), editado por ele, estava sem artista gráfico e aceitei fazer um número. Fiquei cinco anos como editor gráfico (1990-1995) do NICOLAU. Com o fim do jornal, Wilson Bueno, voltou a se dedicar à sua notória literatura. Seu assassino continua impune!

Em entrevista à escritora e jornalista Marília Kubota, publicada no Jornal Memai, em novembro de 2009, assim falou Wilson Bueno sobre o fazer tanka: “(...) o tanka, sabemos, carrega consigo o chamado “olho” do haicai e ainda pede uma “conclusão” em dois versos finais. Sempre, claro, na rigorosa métrica que inventamos para ele, para transfigurá-lo, creio. Uma “matemática” que me seduz, - 5/7/5 (o haicai!) e 7/7 a dita “conclusão”, uma sutil “moral” da história… (...) A métrica, inventada aqui, também é um exercício de humildade - você se vê obrigado a desprezar o que julga um achado precioso porque este tal de “precioso” o poema só pode acolhê-lo se em rigorosas e calculadas sílabas poéticas… Temos que recusar, jogar literalmente no lixo o que consideramos grandes “insights”, porque não cabem no metro do poema, você me entende?”

Em sua homenagem, durante cinco dias, a postagem de 5 tankas presentes na pré-edição do seu livro pequeno tratado de brinquedos, que me ofereceu no inverno de 1994. Link do terceiro tanka: Notícias.



pequeno tratado de brinquedos
Wilson Bueno


exercício escolar

trinta tigres trêfegos
são mais que três tigres tristes
decora o menino

depois dorme mansamente
e sonha com passarinho


*
ilustração de joba tridente



Wilson Bueno (1949-2010): escritor, cronista e jornalista. Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Entre as suas principais obras estão: Bolero's Bar (1986); Manual de Zoofilia (1991); Mar Paraguayo (1992); Pequeno Tratado de Brinquedos (1996); Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000); Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004); Pincel de Kyoto (2007); A Copista Kafka (2007); Mano, A noite Está Velha (2011).

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