terça-feira, 31 de maio de 2016

Wilson Bueno: 5 Tankas

Em minha vida há um bocado de coincidências. Algumas eu levei a sério..., outras, infelizmente, acabei negligenciando. Penso nos tantos “e se?” que não respondi e nas decisões adiadas e hoje já corroídas pelo bolor.  No final dos anos 1980, morava em Brasília-DF, trabalhando no Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA) conheci o jornal Nicolau (1987-1985), publicado pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná-PR, cujo editor de texto era o escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010) e editor gráfico o designer Guinski.

Pensava em futuramente oferecer alguma ilustração e ou mesmo literatura para análise e, quem sabe?, publicação no famoso jornal cultural. De Curitiba, além do Nicolau, as minhas referências eram a belíssima e não menos famosa revista Gráfica, do Miran, e a recém criada Gibiteca. Com a mudança de governo e o primeiro fim do MinC (1990) e quase extinção do CNDA, achei que era hora de deixar a capital e vim parar, por acaso, em Curitiba, onde reencontrei o artista plástico Rogério Dias, autor da arte do Nicolau nº. 1, que insistiu para que eu conhecesse o Wilson Bueno que, naqueles dias, estava procurando um substituto para a editoria gráfica.

Era para eu fazer um número e acabei fazendo 23 (34 ao 56..., o nº 56 estava pronto mas jamais foi publicado) de 1990 a 1995..., tempo suficiente para conhecer o grande e generoso escritor. Diziam que era temperamental e isso e mais aquilo. No entanto, em cinco anos de convivência jamais o vi exaltado, nem mesmo quando nos reunimos com o secretário de cultura que decretou o fim do Nicolau original. Com o fim do jornal, em 1995, Wilson Bueno, voltou a se dedicar à sua notória literatura, até ser barbaramente assassinado, em 2010. Seu assassino continua impune!

Já publiquei alguns trabalhos seus por aqui: Manual de Zoofilia (2014); Extras que me pareceram premonitórios: Anjos; Borboletas; Moscas (2014) e os Tankas: Rumor; Manhã; Notícias; Exercício Escolar; Fotografia (2015). Na internet há muito material sobre ele: entrevistas, análises críticas da sua literatura e dissertações (veja links abaixo). Portanto, no momento, não vejo razão para aprofundar a sua biografia. Assim, como hoje faz seis anos que foi assassinado, em sua homenagem publico outros cinco tankas, presentes em Pequeno Tratado de Brinquedo (1996), em português e em tradução do escritor Reynaldo Jiménez, para o espanhol. Amanhã é a vez de Silêncios, quatro poemas breves, de Wilson Bueno, em português e espanhol, traduzidos por Reynaldo Jiménez e Anibal Cristobo.



                    

presente antigo
wilson bueno

arranjo floral
pétala a pétala azul
celofane em véu

solto do fio de seda
o colibri faz o céu



presente antiguo
wilson bueno
traduccione reynaldo jiménez 

arreglo floral
pétalo a pétalo azul
celofán en velo

suelto del hilo de seda
el colibrí hace el cielo



.................
c á l c u l o
wilson bueno

que amor mais escuro
choram árvores da noite
galhos contra muros

a saudade trama triste
três mil anos num segundo



c á l c u l o
wilson bueno
traduccione de reynaldo jiménez 

qué amor más oscuro
lloran árboles de noche
ramas contra muros

la nostalgia trama triste
tres mil años un segundo



.......................
m u d a n ça
wilson bueno

minha mãe nas costas
atravessamos aldeias
mais de cem quilômetros

tanto a levamos nos braços
que agora somos aéreos



m u d a n z a
wilson bueno
traduccione reynaldo jiménez 

mi madre a las espaldas
atravesamos aldeas
más de cien kilómetros

tanto la llevamos en brazos
que ahora somos aéreos



....................
r e f l e x o
wilson bueno

de que olhar a face
espelho meu, espelho meu
tua imóvel festa

fixo reflexo do nada
em ti entanto a cor da tarde



r e f l e j o
wilson bueno
traduccione reynaldo jiménez 

¿de qué mirar la faz
espejo mío, espejo mío
tu inmóvil fiesta?

fijo reflejo de nada
en ti en tanto el color de la tarde



....................
j a r d i n s
wilson bueno

num vaso de flor
planto futuras begônias
e um cacto cantor

florescem róseas falenas
e uma flor, dizem, de menos



j a r d i n e s
wilson bueno
traduccione reynaldo jiménez 

en un vaso de flor
planto futuras begonias
y un cactus cantor

florecen róseas falenas
y una flor, dicen, de menos


*
ilustração de Joba Tridente



Wilson Bueno (1949-2010): escritor, cronista e jornalista. Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Entre as suas principais obras estão: Bolero's Bar (1986); Manual de Zoofilia (1991); Mar Paraguayo (1992); Pequeno Tratado de Brinquedos (1996); Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000); Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004); Pincel de Kyoto (2007); A Copista Kafka (2007); Mano, A noite Está Velha (2011).

Wilson Bueno (1949-2010) nació en Jaguapitá, Paraná. En Curitiba, creó Y dirigió, durante ocho años, el periódico literário Nicolau. También fue coeditor de la revista de Azur (publicada en Nueva York). Es autor de Bolero's Bar (1986); Manual de Zoofilia (1991); Mar Paraguayo (1992); Pequeno Tratado de Brinquedos (1996); Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000); Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004); Pincel de Kyoto (2007); A Copista Kafka (2007); Mano, A noite Está Velha (2011)

Para saber mais sobre Wilson Bueno, é só navegar na web: A Eternidade de Wilson Bueno, em Obvious; Nicolau - Wilson Bueno, em Cândido; Roubando Wilson Bueno, em Cândido; Um Bolero em Curitiba - entrevista em Germina Literatura; Wilson Bueno: o poeta de Curitiba: um pequeno retrato em forma de entrevista do cantor das tardes melancólicas da floresta - entrevista em Germina Literatura; Wilson Bueno - Jornal Memai; Um Zoo de Signos - O Bestiário de Wilson Bueno, em Revista Zunái; Os tricksters nas Fábulas de Wilson Bueno, em  Sibila; O giro animal na literatura de Wilson Bueno - Julieta Yelin; Wilson Bueno - Fronteiras: nos entrecéus da linguagem, em Humboldt; Dissertação: Vozes, labirintos, alegorias: Mar Paraguayo, de Wilson Bueno - Celso Hernandes Favaro (2006); Dissertação: Manuais de Zoologia - Os Animais de Jorge Luis Borges e Wilson Bueno - Eduardo Jorge de Oliveira (2009); Dissertação: O sentido em dizer (Wilson Bueno) deriva da conjunção - Flávia Bezerra Memória (2010); Dissertação: Cachorros do Céu: As Transformações da Fábula em Wilson Bueno - Maria Rojanski Araújo (2012); Dissertação: A Tradição e o Contemporâneo em Jardim Zoológico, de Wilson Bueno - Bianca Estevam Veloso Ferreira (2013).

Reynaldo Jiménez nasceu em Lima, Peru, em 1959. Vive em Buenos Aires desde 1963. Poeta, ensaísta, tradutor e editor, publicou, entre outros, os livros de poemas Tatuajes (1981), Eléctrico y despojo (1984), Ruido incidental/El té (1990), 600 puertas (1993) e La curva del eco (1998). Em 1995 criou com Gabriela Giusti o selo editorial e a revista Tsé-Tsé, que dirige até hoje com Carlos Elliff e Carlos Ricardo. É um importante interlocutor da poesia brasileira contemporânea, que traduz e publica há anos na Argentina. Sites de Reynaldo Jiménez: mmmm; psicodelizado; brinkscadeira.   Para saber mais sobre o escritor: Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Reynaldo Jiménez.

Reynaldo Jiménez nació en Lima en 1959. Reside en Buenos Aires. Pub­licó: Tat­u­a­jes (1980), Eléc­trico y despojo (1984), Las miniat­uras (1987), Ruido incidental/El té (1990), 600 puer­tas (1993), La curva del eco (1988, segunda edi­ción, 2008), Musgo (2001), La inde­fen­sión (2001), San­grado (2006). Dos antologías breves: Shatki (2005, selec­ción, tra­duc­ción al por­tugués y pról­ogo de Clau­dio Daniel) y Ganga (2007, selec­ción y edi­ción de Andrés Kur­first y Mariela Lupi, pról­ogo de Mario Arteca.) Tam­bién ha pub­li­cado, en prosa, Por los pasil­los (1988) y Reflex­ión esponja (2001). Como antól­ogo: El libro de unos sonidos. 14 poetas del Perú (1989) y su ver­sión ampli­ada El libro de unos sonidos. 37 poetas del Perú (2005). Com­piló con Adrián Cangi: Pape­les insum­isos de Nés­tor Per­longher (2004). Del por­tugués tradujo par­cial­mente la obra de var­ios poetas brasileños. Desde 1995, junto a Gabriela Giusti, pro­dujo la revista-libro (y el sello edi­to­r­ial) tsé-tsé. Con Fer­nando Aldao, bajo el nom­bre de Atlanti­co­pací­fico, editó el cd La inde­fen­sión (2002), y como Ex puso a cir­cu­lar otra parte de sus graba­ciones en inter­net, donde tam­bién pub­licó recien­te­mente algunos videopoemas.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 20

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, pela quinta vez (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor. Poemas anteriormente publicados: Poema 3; Poema 8; Poema 13; Poema 19.



S E N H O R
Jamil Snege

20
.....
Toma a máquina do meu
corpo e nela
transporta socorro para
os teus aflitos.
É de pouca serventia,
sei - o coração me
arde, meus músculos
estão fracos - mas podes
usá-la à exaustão.
E quando não mais prestar,
Senhor, escolhe uma
Tíbia e faze uma flauta.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 19

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, e por mais um dia (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor. Poemas anteriormente publicados: Poema 3; Poema 8 e Poema 13.



S E N H O R
Jamil Snege

19
.....
Um homem mata outro e
tu o consentes.
O perverso agride o inocente
e tu não o fulminas.
O poderoso humilha o fraco
e tu aumentas-lhe o poder.
Que Deus és tu,
Senhor, que tudo podes
e tudo permites?
Que deus extermina órfãos
e ilumina a face dos
tiranos com os carmins
da longevidade?
Não respondas, Senhor,
não digas nada.
É esse mistério que me atrai
irremediavelmente a ti.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 13

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, e por mais dois dias (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor. Ontem foi dia de Senhor 8 e anteontem de Senhor 3.



S E N H O R
Jamil Snege

13
.....
Não ouças qualquer
juízo que eu faça sobre
meu semelhante.
Amordaça-me.
Corta minha língua.
A pessoa que acusei
de furtar minhas luvas
não tinha mãos.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 08

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, e por mais três dias (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor. Ontem foi dia de Senhor 03.


                           

S E N H O R
Jamil Snege
                           
08
.....
Na minha infância, havia
um jogo que consistia
em se colocar um porquinho-da-índia
no interior de um círculo
formado por
casinholas numeradas.
Vencia aquele cuja
aposta correspondesse ao
número do esconderijo
escolhido pelo animalzinho.
Nunca mais vi esse jogo,
Senhor, mas eu sei que
alguns religiosos continuam
a praticá-lo contigo.
Cercam-te com suas
igrejas almiscaradas -
e correm a vender apostas
aos seus fiéis.
                           
*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

domingo, 22 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 03

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, e por mais quatro dias (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor.



S E N H O R
Jamil Snege

03
.....
Quando eu era pequeno,
topava contigo a cada instante.
Adolescente, passei
a encontrar-te cada vez menos.
Adulto, duvidei que
algum dia tivesse visto o
brilho de tua face e
te busquei incessantemente
por todos os caminhos.
Não te encontrei,
Senhor, nem poderia.
O piolho que segue na juba
do leão jamais terá
consciência de que possui um
leão inteiro.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

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