terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Hermann Hesse: Tempo Maléfico/Böse Zeit

Há 140 anos, mais precisamente em 02 de julho de 1877, nascia em Calw, na Alemanha, o escritor e artista plástico Hermann Hesse¹, autor que acompanhou a minha adolescência. Lia tudo que encontrava pela frente: Gertrud, Rosshalde, Knulp, Demian, Último Verão, Sidarta, Narciso e Goldmund, O Jogo das Contas de Vidro, O Livro das Fábulas, Viagem ao Oriente... O único livro que nunca cheguei ao final foi O Lobo da Estepe. Tentei, em vão, ir além de algumas páginas.  Talvez fosse muito jovem para ele. Ou não! Talvez um dia, mais velho, eu tente (novamente) ler. Ou não!

Marcílio Farias² é um amigo jornalista, escritor e tradutor que vive nos EUA e cuja obra de excelência e diversas traduções únicas de Thomas Merton já publiquei por aqui. Embora suas traduções sejam notáveis, Marcílio não as faz profissionalmente, mas para compartilhar (via FaceBook) com seus amigos brasileiros. Da seleção que venho guardando para futuras publicações, que inclui Pier Paolo Pasolini, Guillaume Apollinaire, Thomas Edward Lawrence, George Seferis, Jean-Arthur Rimbaud, entre outros, hoje destaco esta beleza melancólica de Hermann Hesse: Tempo Maléfico. É um poema pouco conhecido e dos mais comoventes do autor. Para esta tradução livre, Marcílio Farias..., que está aprendendo alemão, há seis meses, para um dia ler Schiller no original..., usou o poema Böse Zeit (1909) incluído nos Gesammelte Schriften de 1953, publicado pela Verlag, Berlin/1953. A tradução foi aprovada sem correções pelo seu exigente instrutor.

Para quem não domina o português brasileiro, segue também, além do poema original em alemão, a tradução para o inglês, feita por James Wright. Infelizmente não encontrei versão do poema para o espanhol e ou italiano.


                 

Böse Zeit
Hermann Hesse

Nun sind wir still
Und singen keine Lieder mehr.
Der Schritt wird schwer.
Das ist die Nacht, die kommen will.

Gib mir die Hand,
Vielleicht ist unser Weg noch weit.
Es schneit, es schneit.
Hart ist der Winter in dem fremden Land.

Wo ist die Zeit
Da uns ein Licht, ein Herd gebrannt?
Gib mir die Hand,
Vielleicht ist unser Weg noch weit.


Tempo Maléfico
Hermann Hesse
tradução: Marcílio Farias

Fiquemos em silêncio, pois agora
não cantamos mais como antes, e
nosso passo, nosso ritmo, claudica.
E a noite prevista pelo destino se aproxima.

Deixe-me segurar sua mão pois
temos um longo caminho pela frente.
Neva. Neva muito, e todo inverno é
cruel em terra estranha.

Para onde foi o tempo em que uma vela,
uma lareira, um abraço nos aquecia?
Deixe-me segurar sua mão
pois temos um longo caminho pela frente.


Evil Time
Hermann Hesse
translation: James Wright

Now we are silent
And sing no songs any more,
Our pace grows heavy;
This is the night, that was bound to come.

Give me your hand,
Perhaps we still have a long way to go.
It’s snowing, it’s snowing.

Winter is a hard thing in a strange country.
Where is the time
When a light, a hearth burned for us?
Give me your hand!
Perhaps we still have a long way to go.

ilustração de Joba Tridente.2017


1. Herman Hesse (Calw/Alemanha: 02.07.1877 - Montagnola/Suíça: 09.08.1962) foi um escritor e artista plástico que (filho de pais missionários), para a felicidade dos seus admiradores, preferiu a poesia ao ministério (religioso). Hesse, que recebeu, em 1946, o Prêmio Goethe e o Nobel de Literatura, ainda hoje influencia gerações com sua literatura atemporal, de teor humanitário e espiritualista. Para se aprofundar na biografia deste fascinante autor de obras tão sublimes, sugiro, por exemplo, o artigo Hermann Hesse: Poemas Escolhidos, do escritor e ensaísta Ailton Rocha, no blog “Palavra e Melodia”; Hermann Hesse: o guru dos hippies, ensaio de Edgar Welzel, no site “Bula revista”; Hermann Hesse, no site italiano “La Frusta Letteraria”; Hermann Hesse, no site “ZeitOnline”, e a leitura de alguns poemas, em espanhol, no site “Trianart”: Hermann Hesse: El Poeta. Entre as obras de Hermann Hesse mais conhecidas no Brasil estão: Debaixo das rodas (1905), Gertrud (1910), Rosshalde (1914), Knulp (1915), Demian (1917), Sidarta (1922), O Livro das Fábulas (1904/1927), O Lobo da Estepe (1927), Narciso e Goldmund (1930), O Jogo das Contas de Vidro (1943), Viagem ao Oriente (1958).

2. Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela Universidade de Brasília em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Nos anos 70/80 trabalhou para a UNICEF/Brasil, USIS - Brasil e WHO, como consultor e assessor de assuntos públicos e culturais. Atuou como secretário particular do escultor Rubem Valentim, professor visitante da Universidade de Brasília e da Fundação Nacional de Teatro, editor assistente do Jornal de Brasília, colaborador do Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, Jornal do Unicef e The Brazilians (NY). Em 1974, integrou a equipe vencedora do Prêmio Esso para Melhor Contribuição à Edição Jornalística/Jornal de Brasília. No final da década de 80, escreveu e dirigiu o curta-metragem "Digitais" hors-concours em Lausanne e no Festival de Salvador, vetado pelo Concine logo em seguida. Emigrou legalmente para os Estados Unidos em 1989. Foi assessor cultural e adido cultural ad hoc do Consulado Geral do Brasil, em Boston (1993-2003). Professor visitante da Universidade de Massachusetts - Boston, conferencista convidado do David Rockefeller Center for Latin American Studies (Harvard University) e Sloan School of Management (MIT). Professor de Comunicação Impressa e de História da Cultura na Universidade de Phoenix, AZ, EUA. Membro Honorário da American Academy of Poets (Owing Mills, MD), da International Society of Poets (Washington, DC) e da Society of Friends of The Longfellow House (Cambridge, MA). Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras poéticas publicadas: Visual Field (1996), O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), Rito para Ressuscitar um Elefante (2010). Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

3. James Wright, premiado escritor e tradutor norte-americano, nasceu em Martins Ferry/Ohio (13.12.1927) e morreu em Nova York (25.03.1980). Vencedor do prestigiado concurso literário Yale Youger Poets Prize, com The Green Wall, em 1956, Wright aos poucos deixou o formalismo para se enveredar pelos versos livres. Autor de Saint Judas (1959), Autumn Begins in Martins Ferry, Ohio - Broadside (1963), Shall We Gather at the River (1967), Collected Poems (1971), Two Citizens (1973), Moments of the Italian Summer (1976), To a Blossoming Pear Tree (1977)…, póstumos: This Journey (1982), The Temple at Nîmes (1982), James Wright, In Defense Against This Exile. Letters to Wayne Burns (1985), Above the River - the Complete Poems (1992), Selected Poems (2005), A Wild Perfection: The Selected Letters of James Wright (2005), The Delicacy and Strength of Lace: Letters Between Leslie Marmon Silko and James Wright (2009). A obra mais aclamada do ganhador do Pulitzer (poesia) é The Branch Will Not Break (1963). Wright traduziu para o inglês poemas do peruano Cesar Vallejo (1892-1938), dos austríacos Georg Trakl (1887-1914) e Rainer Maria Rilke (1875-1926), do alemão Herman Hesse. A versão publicada acima está em Hermann Hesse - Poems (German & English, 1970).

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