quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Joba Tridente: Puta Sentimento Quase


PUTA SENTIMENTO QUASE Haicai ou Tanka
é um mergulho sem (des)culpa, às vésperas do natal, no universo de mulheres à margem da sociedade..., um tema que venho trabalhando ultimamente. Já publiquei a série Passeio Público, que foi parar no livro 101 Poetas Paranaenses (antologia de escritas poéticas do século XIX ao XX, organizada (em dois volumes) pelo escritor Ademir Demarchi e editada pela Biblioteca Pública do Paraná, em 2014). A série de poemas PUTA SENTIMENTO QUASE Haicai ou Tanka também já apareceu por aqui (de forma fragmentada) em 2015. Hoje você lê, numa só postagem, os dez poéticos exercícios amorais. 


PUTA SENTIMENTO QUASE 
Haicai ou Tanka 
joba tridente 



I
 

na porta da puta 

contorna o olho mágico 

a guirlanda de natal 



II 

a puta dá 

aos clientes assíduos 

mimos especiais 



lembranças únicas 

em lares alheios 




III
 

de tão velha 

no puído vestido vermelho 

vira a puta noel 



IV 

no ponto de todo dia 

a puta veste no natal 

roupa de luzinhas 



pisca não pisca embaixo 

pisca não pisca em cima 




V
 

puta que é puta 

depena o pato na véspera 

e recheia a carteira no natal 



VI 

no natal 

não adianta enfeitar o ponto 

os carros tomam outra direção 



entre um bocejo e outro 

a puta come um bombom 




VII
 

belém belém belém 

a um minuto do natal 

a puta despe-se do cliente fortuito 



VIII 

a todo natal 

a puta lembra dos filhos 

que deixou para trás 



a cada lixeira na rua 

um arrepio e um suspiro 




IX
 

no presépio 

confiando a última moeda 

a puta temente reza 



X 

- tia, me dá um troco? 

- puta, me dá uma trepada? 

- não, o natal não me comove! 



à meia-noite ela divide 

um panetone com os mendigos 


ilustrações de joba tridente.2015/2020 


Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

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