PUTA SENTIMENTO QUASE Haicai ou Tanka é um mergulho sem (des)culpa, às vésperas do natal, no universo de mulheres à margem da sociedade..., um tema que venho trabalhando ultimamente. Já publiquei a série Passeio Público, que foi parar no livro 101 Poetas Paranaenses (antologia de escritas poéticas do século XIX ao XX, organizada (em dois volumes) pelo escritor Ademir Demarchi e editada pela Biblioteca Pública do Paraná, em 2014). A série de poemas PUTA SENTIMENTO QUASE Haicai ou Tanka também já apareceu por aqui (de forma fragmentada) em 2015. Hoje você lê, numa só postagem, os dez poéticos exercícios amorais.
PUTA SENTIMENTO QUASE
Haicai ou Tanka
joba tridente
na porta da puta
contorna o olho mágico
a guirlanda de natal
II
a puta dá
aos clientes assíduos
mimos especiais
lembranças únicas
em lares alheios
de tão velha
no puído vestido vermelho
vira a puta noel
IV
no ponto de todo dia
a puta veste no natal
roupa de luzinhas
pisca não pisca embaixo
pisca não pisca em cima
puta que é puta
depena o pato na véspera
e recheia a carteira no natal
VI
no natal
não adianta enfeitar o ponto
os carros tomam outra direção
entre um bocejo e outro
a puta come um bombom
belém belém belém
a um minuto do natal
a puta despe-se do cliente fortuito
VIII
a todo natal
a puta lembra dos filhos
que deixou para trás
a cada lixeira na rua
um arrepio e um suspiro
no presépio
confiando a última moeda
a puta temente reza
X
- tia, me dá um troco?
- puta, me dá uma trepada?
- não, o natal não me comove!
à meia-noite ela divide
um panetone com os mendigos
*
ilustrações de joba tridente.2015/2020
Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.