sábado, 27 de julho de 2013

Trajano Galvão: O Brasil

..., em tempos de ebulição juvenil, O Brasil, um poema exaltação do escritor maranhense Trajano Galvão (1830 - 1864), para animar os que andam sonolentos depois da grande reivindicação. Este poema se encontra no livro Sertanejas, da Edição da Imprensa Americana, Rio de Janeiro, de 1898.




O BRASIL

Imperium sine fine
Virgílio

Por que gemes, por que choras
Tão triste assim, meu Brasil?
Por que nos lábios demoras
Esse sorriso febril?...
Na alma te pesa algum crime,
Seu ferrete vil te imprime
Na fronte remorso atroz?
Cuspiram-te alguma injúria,
Algum Nero, aceso em fúria,
Infame jugo te impôs?...

Quem ofusca a formosura,
Que te enfeita o lindo céu,
Onde se estampa e fulgura,
Da lua a face sem véu?...
Quem traja tantos verdores,
Quem tem mais lindos amores,
Quem mais garbo e louçanias?
Por que, pois, te quedas triste,
Por que — tão ledos! — baniste
Os sorrisos que sorrias?

Cobra alento, sus, avante!
Despe esse luto, essa dor...
Meu Brasil, és um gigante,
Mas no berço e sem vigor:
És águia inda no ninho,
Que do pico, aos céus vizinho,
Não arrosta a luz do sol;
És um astro no nascente
A brilhar mui frouxamente
Com a frouxa luz do arrebol...

Mas, esse astro que fulgura
Com mui tênue, escassa luz,
Que apenas na face escura
Da noite tíbio reluz.
Há de, em estos referventes,
De fogo vasar enchentes.
Há de o mundo deslumbrar:
Como o cometa, que em Roma.
Sacudindo fero a coma,
Veio o mundo ameaçar!...

Mas essa águia, tenra, implume,
Que inda não sabe voar,
Que do sol o vivo lume
Não pode firme fitar;
Com o fragor da tempestade,
As asas batendo, há de
Junto ao sol ir se aquecer;
Há de, as asas disferindo,
A luz do sol encobrindo,
Há de o mundo escurecer!...

Mas o gigante impotente.
Infante e sem robustez,
Como o Arcanjo luzente,
Que o Rebelde tem aos pés,
Ao mundo, que aos pés lhe treme,
Que em negra borrasca freme,
Com desmedido fragor,
Dirá, batendo no peito:
- Eis-me aqui, rende-me preito...
Eis-me aqui, — sou teu senhor!

Eia, pois, esmalte o riso
Os lábios que a dor crestou!...
Com um magnifico sorriso
Deus pra muito te criou !
Que nação teve um começo
Tão grande, de tanto apreço,
Tão subido... tanto assim?
Si não dormes respeitado
À sombra do teu passado,
- Tens um futuro sem fim.

Olinda. 1850


*
Ilustração de Joba Tridente. 2013


Trajano Galvão de Carvalho (1830 - 1864), escritor maranhense, abolicionista, precursor da poesia afro-brasileira. A maior parte do pouco que produziu, a seu pedido, teria sido destruída pela sua esposa. O que escapou das chamas se encontra recolhido no livro Sertanejas, em que há uma Advertência dos Editores: “...apurado cultor da boa linguagem, purista desafetado, metrificador natural e correto, respeitador da fôrma sem sacrificar o conceito para escravizar-se a ela, explorando na poesia brasileira uma veia quase ignorada, ou raro trabalhada”. A edição que tenho é a digital da Brasiliana USP.

Há pouco material disponível sobre Trajano Galvão. Na web encontrei alguma variação em: Trajano Galvão e a Negritude, de Maria Rita Santos; Trajano Galvão e a luta contra a escravidão, de Lima Coelho; Trajano Galvão, de Jomar Moraes, em Maranharte.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Contos Para A Infância: Presente por Presente

Em seu livro Contos Para a Infância (1877), Guerra Junqueiro selecionou belos contos, fábulas e parábolas da tradição oral europeia. Em alguns trabalhos o moralismo e ou a religiosidade exagerada me incomodam. Prefiro os mais sutis como: Boa Sentença, O Ermitão, Presente por Presente. Atualizei levemente a grafia das postagens.



Presente por Presente

Um grande fidalgo, que se tinha perdido numa floresta, foi dar de noite à choupana de um pobre carvoeiro. Como este ainda não tinha chegado, foi a mulher que recebeu o importante personagem. Acolheu-o o melhor que pôde, desculpando-se da miserável hospitalidade que lhe ia dar, porque eram batatas cozidas a única coisa que lhe poderia oferecer; cama não a tinha, por conseguinte dormiria sobre a palha. Mas o estrangeiro estava morto de fome e de fadiga; as batatas souberam-lhe mais do que faisões, e dormiu melhor em cima da palha do que num leito de príncipes. Ao outro dia pela manhã disse isto mesmo à pobre mulher, gratificando-a ao despedir-se com uma moeda de ouro. Mas, como o desconhecido lhe tinha dito que a guardasse como uma pequena lembrança, a boa camponesa julgou que seria uma medalha, e sentiu que não tivesse um buraquinho para a trazer ao pescoço. Quando o carvoeiro chegou a casa, contou-lhe logo o que lhe tinha acontecido, mostrando-lhe a moeda preciosa. O carvoeiro examinou os cunhos e o valor da moeda de ouro, e disse para a mulher:

- Esse forasteiro era nada mais nada menos do que o nosso príncipe!

E o bom do homem não podia conter-se de alegria, por sua alteza ter achado as suas batatas melhores do que faisões.

É necessário confessar, disse ele com um ar triunfante, que não há talvez no mundo um terreno mais favorável do que este para a cultura das batatas; hei de lhe levar um cesto delas, já que as acha tão boas.

E partiu imediatamente para o palácio com uma provisão de batatas escolhidas. Os lacaios e as sentinelas ao princípio não o queriam deixar entrar; mas insistiu energicamente, dizendo que não vinha pedir nada, e que pelo contrário vinha trazer alguma coisa.

Foi, pois, introduzido na sala da audiência.

- Meu senhor, disse ele ao príncipe: Vossa alteza dignou-se recentemente pedir hospitalidade à minha mulher, e dar-lhe uma peça de ouro, em troca duma enxerga miserável e de um prato de batatas cozidas. Era pagar demasiadamente, apesar de serdes um príncipe muito rico e poderoso. Eis o motivo porque eu venho trazer ainda a vossa alteza um cestinho das batatas, que vos souberam melhor do que os vossos faisões. Dignai-vos aceitá-las, e, se nos fizerdes de novo a honra de ser nosso hóspede, lá as encontrareis sempre ao vosso dispor.

A honrada simplicidade do camponês agradou ao príncipe, e, como estava num momento de bom humor, fez-lhe doação de uma quinta com trinta jeiras de terra.

Ora o carvoeiro tinha um irmão muito rico, mas invejoso e avarento, que, sabendo da fortuna do irmão mais novo, disse consigo: - Porque não me há de suceder a mim outro tanto? O príncipe gosta do meu cavalo, pelo qual lhe pedi sessenta libras, que ele me recusou. Vou lhe fazer presente dele: se deu ao João uma quinta com trinta jeiras de terra, simplesmente por um cesto de batatas, a mim com certeza me há de recompensar ainda mais generosamente.

Tirou o cavalo da estrebaria e levou-o para defronte das portas do palácio; recomendou ao criado que o segurasse, e, atravessando com ar altivo as alas dos lacaios, penetrou na sala da audiência.

- Ouvi dizer, disse ele, que vossa alteza gosta do meu cavalo; não tenho querido trocá-lo a dinheiro, mas dignai-vos permitir-me que lhe ofereça.

O príncipe viu imediatamente onde o nosso homem queria chegar, e disse consigo: - Deixa estar, tratante, que te vou dar a paga que mereces.

Depois dirigindo-se a ele:

- Aceito a tua dádiva, mas não sei como agradecer-te condignamente. Oh! espera um pouco: Eis aqui um cesto de batatas mais saborosas do que faisões. Custaram-me trinta jeiras de terra. Parece-me que é um bom preço para um cavalo, que eu poderia ter comprado por sessenta libras.

E entregando-lhe o cesto, mandou-o embora.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2013


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista, escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas gratuitamente no Projeto Gutemberg.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Contos Para A Infância: O Ermitão

Em seu livro Contos Para A Infância (1877), Guerra Junqueiro selecionou belos contos, fábulas e parábolas da tradição oral europeia. Em alguns trabalhos o moralismo e ou a religiosidade exagerada me incomodam. Prefiro os mais sutis como: Boa Sentença, O Ermitão, Presente porPresente. Atualizei levemente a grafia das postagens.



O Ermitão

Um homem, animado pela mais ardente crença religiosa, deliberou retirar-se a uma gruta solitária para se consagrar inteiramente ao trabalho da sua salvação. Jejuando sempre, orando, ciliciando-se, os seus pensamentos não se desviavam nunca da ideia de Deus. Depois de ter assim vivido durante muitos anos, uma noite lembrou-se de que já tinha merecido um lugar glorioso no paraíso, e podia ser contado entre os santos mais notáveis.

Na noite seguinte o anjo Gabriel apareceu-lhe, e disse-lhe:

- Há no mundo um pobre músico, que anda de porta em porta, tocando viola e cantando, e que mereceu mais do que tu as recompensas eternas.

O ermitão, atônito, ao ouvir estas palavras, levantou-se, agarrou no seu bordão, foi em busca do músico e mal o encontrou disse-lhe:

-Irmão, diz-me que boas obras fizeste, e por meio de que orações e penitências te tornaste agradável a Deus.

- Ora, respondeu-lhe o músico, abaixando a cabeça, santo padre, não zombes de mim. Nunca fiz boas obras, e quanto a orações não as sei, pobre de mim, que sou um pecador. O que faço é andar de casa em casa a divertir os outros.

O austero ermitão continuou a insistir:

- Estou certo que, no meio da tua existência vagabunda, praticaste algum ato de virtude.

- Em verdade não poderia citar nem um só.

- Mas então como chegaste a este estado de pobreza? Tens vivido loucamente como os que exercem a tua profissão? Dissipaste frivolamente o teu patrimônio e o produto do teu oficio?

- Não; mas um dia encontrei uma pobre mulher abandonada, cujo marido e filhos tinham sido condenados à escravidão para pagar uma dívida. Essa mulher era nova e bela, e queriam seduzi-la. Recolhi-a em minha casa, protegia-a em todos os perigos, dei-lhe tudo que possuía para resgatar a sua família, e levei-a à cidade, onde ela devia encontrar-se com seu marido e com seus filhos. Mas quem não teria feito outro tanto?

A estas palavras o ermitão pôs-se a chorar, e exclamou:

- Nos meus setenta anos de solidão nunca pratiquei uma obra tão meritória, e apesar disso chamo-me o homem de Deus, enquanto que tu não passas de um pobre músico.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2013


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista, escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas gratuitamente no Projeto Gutemberg.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Contos Para A Infância: Boa Sentença

Em seu livro Contos Para a Infância (1877), Guerra Junqueiro selecionou belos contos, fábulas e parábolas da tradição oral europeia. Em alguns trabalhos o moralismo e ou a religiosidade exagerada me incomodam. Prefiro os mais sutis como: Boa Sentença, O Ermitão, Presente por Presente. Atualizei levemente a grafia das postagens.



Boa Sentença

Um homem rico, mas avarento, tinha perdido dentro dum alforje uma quantia em ouro bastante avultada. Anunciou que daria cem mil réis de alvíssaras a quem lhe trouxesse. Apresentou-se em sua casa um honrado camponês levando o alforje. O nosso homem contou o dinheiro, e disse:

- Deviam ser oitocentos mil réis, que foi a quantia que eu perdi; no alforje encontro apenas setecentos; vejo, meu amigo, que recebeste adiantados os cem mil réis de alvíssaras: estamos pagos por conseguinte.

O bom camponês, que nem por sombras tocara no dinheiro, não podia nem devia contentar-se com semelhantes agradecimentos. Foram ter com o juiz, que, vendo a má fé do avarento, deu a seguinte sentença:

- Um de vós perdeu oitocentos mil réis; o outro encontrou um alforje apenas com setecentos: Resulta daí claramente que o dinheiro que o último encontrou não pode ser o mesmo a que o primeiro se julga com direito. Por consequência tu, meu bom homem, leva o dinheiro que encontraste, e guarda-o até que apareça o indivíduo que perdeu somente setecentos mil réis. E tu, o único conselho que passo a dar-te, é que tenhas paciência até que apareça alguém que tenha achado os teus oitocentos mil réis.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2013


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista, escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas gratuitamente no Projeto Gutemberg.

Vanessa Gomsant: Quem Invade Quem?


Quem invade quem?

Parque da Luz. Edifícios, carros e torres...
Viadutos. Condomínios, córregos e esgoto... Alagamentos. Vida?!

São Paulo, zona norte. Bom Retiro, Horto e Tremembé... Fernão Dias.
Avenida Paulista, 23 de Maio e Liberdade...

Praças, árvores e pássaros... Canto, paisagem. Poluição sonora, visual
e luminosa... Atmosférica. Liberdade?!

Mas ainda há vida... Preserve-a!


*
poema e foto de Vanessa Gomsant



Vanessa Gomsant é arte-educadora e educadora ambiental brasileira. Este poema foi criado para a Exposição Fotográfica Vida Invisível, de Bruno Pancera, realizada na Semana do Meio Ambiente da Escola Técnica de São Paulo, que reunia e retratava belezas da Fauna e da Flora e os impactos ambientais gerados pelo Homem. 

domingo, 14 de julho de 2013

Joba Tridente: Alheias Tragédias - 1


amor adeus

... ouviu
... disse
... fez
  adiantou nada...
........................................
... tudo! ... tudo! ... tudo!
........................................

amor...............................
..............................adeus


Poema e ilustração Joba Tridente: 2013

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Joba Tridente: Deus Quequé - 2


subserviência
poesia in complete 


hoje

tudo é
Deus Quequé

nada é
Deus Quequé

puta não pare
Deus Quequé

puta pare
Deus Quequé

filho da puta
... mata ...
Deus Quequé
......................

omni!



*
Joba Tridente em Poesia in Complete: 2013
Ilustração: 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Joba Tridente: Deus Quequé - 1


a fabulosa lenda do Deus Quequé
poesia in complete

ontem no princípio
do nada
uma bolha ácida
ploft!
:Deus Quequé

omni!
o que era é o será
omni!

Deus Quequé
eu bufo eu
Deus Quequé

verbo em verso
desfazedor do que cria
odiador do que ama
desgraçador da alegria
punidor do gentio
prendedor do livre

verso em verbo
vingador docente
doente errante
epifania indecente

omni!
Deus Quequé
ignorância animal
omni!
Deus Quequé
ignorância in natura
omni!
Deus Quequé
sádico reflexo
hominídeo
irônica imagem
Deus Quequé
omni!
..................
ira iriada


*
Joba Tridente em Poesia in Complete: 2013

ilustração de Joba Tridente: 2013

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Friedrich Schiller: A Luva - 1



Gosto demais de A Luva, de Friedrich Schiller (1759-1805), mas não conhecia esta versão de Pietro de Castellamare (ou Joaquim Serra) que se encontra em Versos de Pietro de Castellamare (1868). Muita gente não liga a obra ao autor e ou sequer sabe quem a escreveu. Aproveito para postar outras duas versões. Confira aqui a fascinante tradução de Daniel Innerarity, postado no excelente portal espanhol de arte e literatura serieAlfa. Leia aqui a dramática tradução de Mário de Sá-Carneiro.


                           

A LUVA
Friedrich Schiller 
tradução de Pietro de Castellamare

Na jaula uiva o leão, cansado de esperar.
Chegou enfim o Rei, tomou o seu lugar.
Chegaram os cortesãos. Espalham brilho e chamas.
Do circo em derredor, gentis, formosas damas.
Rolou férreo portão, o Rei dera o sinal.
Na arena entra o leão com passo triunfal.
Percorre-a com furor, detém-se, avança, para.
Eriça a juba além, a fauce escancara.
Por fim exasperado atira-se no chão.
Encolhe e estende os nervos. O Rei levanta a mão.
Repete-se o sinal, investe do outro lado,
Com salto muito veloz, um tigre mosqueado.
Encontram-se no circo os dois monstros cruéis.
O tigre, estremecendo, da cauda faz anéis,
Medonhos uivos dá, lançando olhos ardentes,
E bate sem cessar os navalhados dentes.
Por junto do leão passou, torna a passar!
Novo sinal do Rei, e sai fogoso par.
De feros leopardos, que em torno corre e gira...
O tigre sobre os dois carnívoro se atira.
Levanta-se rugindo e rápido o leão,
E todos frente a frente tomaram posição!
A arena está revolta, o eco além rebrama,
Naquele instante cai a luva de uma dama
Ao pé dos animais. A linda Beatriz
Sorrindo e desdenhosa ao namorado diz:
«Crerei no vosso amor, ilustre cavalheiro,
«Se fordes levantar a luva do terreiro.»
De chofre ele se ergueu, do circo em meio e já,
Caminha firme, o rosto nem desmaiado está...
Ajunta a luva ali, e sobe enquanto dura
O pasmo dos que veem tão súbita loucura!
Anseia a turba, o moço tornou-se único alvo
Das vistas. Houve um grito ao verem que ele é salvo!
Vaidosa ao seu encontro lançou-se Beatriz,
Porém o cavalheiro a faz parar e diz:
- Estou pago do que fiz... de vós não quero nada.
Lançou-lhe a luva aos pés, depois desceu a escada.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2013


Der Handschuh
Friedrich Schiller 

Vor seinem Löwengarten,
Das Kampfspiel zu erwarten,
Saß König Franz,
Und um ihn die Großen der Krone,
Und rings auf hohem Balkone
Die Damen in schönem Kranz.

Und wie er winkt mit dem Finger,
Auf tut sich der weite Zwinger,
Und hinein mit bedächtigem Schritt
Ein Löwe tritt,
Und sieht sich stumm
Rings um,
Mit langem Gähnen,
Und schüttelt die Mähnen,
Und streckt die Glieder,
Und legt sich nieder.

Und der König winkt wieder,
Da öffnet sich behend
Ein zweites Tor,
Daraus rennt
Mit wildem Sprunge
Ein Tiger hervor,

Wie der den Löwen erschaut,
Brüllt er laut,
Schlägt mit dem Schweif
Einen furchtbaren Reif,
Und recket die Zunge,
Und im Kreise scheu
Umgeht er den Leu
Grimmig schnurrend;
Drauf streckt er sich murrend
Zur Seite nieder.

Und der König winkt wieder,
Da speit das doppelt geöffnete Haus
Zwei Leoparden auf einmal aus,
Die stürzen mit mutiger Kampfbegier
Auf das Tigertier,
Das packt sie mit seinen grimmigen Tatzen,
Und der Leu mit Gebrüll
Richtet sich auf, da wird's still,
Und herum im Kreis,
Von Mordsucht heiß,
Lagern die greulichen Katzen.
Da fällt von des Altans Rand
Ein Handschuh von schöner Hand
Zwischen den Tiger und den Leun
Mitten hinein.

Und zu Ritter Delorges spottenderweis
Wendet sich Fräulein Kunigund:
»Herr Ritter, ist Eure Lieb so heiß,
Wie Ihr mir's schwört zu jeder Stund,
Ei, so hebt mir den Handschuh auf.«

Und der Ritter in schnellem Lauf
Steigt hinab in den furchtbarn Zwinger
Mit festem Schritte,
Und aus der Ungeheuer Mitte
Nimmt er den Handschuh mit keckem Finger.

Und mit Erstaunen und mit Grauen
Sehen's die Ritter und Edelfrauen,
Und gelassen bringt er den Handschuh zurück.
Da schallt ihm sein Lob aus jedem Munde,
Aber mit zärtlichem Liebesblick –
Er verheißt ihm sein nahes Glück –
Empfängt ihn Fräulein Kunigunde.
Und er wirft ihr den Handschuh ins Gesicht:
»Den Dank, Dame, begehr ich nicht«,
Und verläßt sie zur selben Stunde.



Pietro de Castellamare é um dos pseudônimos do jornalista, escritor, tradutor, dramaturgo, político Joaquim Serra (1838 - 1888). Patrono da Cadeira 21, da Academia Brasileira de Letras, publicou, entre outros: Quem tem bocca vai a Roma: opera comica em um acto (1863); Julieta e Cecília (1863); Mosaico: Poesias traduzidas (1865); O Salto de Leucade (1866); Um coração de mulher: poema romance (1867), Quadros (1873). Sob os pseudônimos de Pietro de Castellamare: Versos de Pietro de Castellamare (1868); Frei Bibiano: Fabio (1871); Amigo Ausente: A capangada: paródia muito seria (1872); Ignotus: Sessenta anos de jornalismo: a imprensa no Maranhão 1820-1880 (1883). Fontes: Acervo Digital Brasiliana USP - Joaquim Serra e Academia Brasileira de Letras.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...