quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Joba Tridente: Ode ao Artista

Hoje, 24 de Agosto, comemora-se o Dia do Artista, no Brasil. Há os que chegam lá! Há os que param no caminho! Há os que nunca desistem... O poema ode ao artista escrevi em 2012. A ilustração é um objeto escultórico: Sacrifício, que levei cerca de 30 anos para concluir e que você pode conhecer em detalhes no site Lixo Que Vira Arte.



ode ao artista
joba tridente

vivo
se quer
o artista
   conhecido
não morto
   conhecido
se quer
o artista
vivo

*
ilustração - JT: Sacrifício 

 Joba Tridente em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

sábado, 13 de agosto de 2016

Paulo Kronemberger: Jogo Certo

Paulo Kronemberger (1940-2011), artista plástico, escritor, ufólogo..., um velho amigo que surpreendeu a todos ao morrer um pouco no dia 10 e outro pouco no dia 11 de Agosto de 2011. Eu o conheci em Brasília-DF, num evento de Ufologia, onde além de palestrante, estava expondo suas pinturas fantásticas. Ficamos muito amigos e, no decorrer dos anos, o entrevistei algumas vezes para jornais e revistas. Enquanto eu era um jovem curioso do assunto e sonhava com outros mundos, acreditava em comunidades alternativas (ainda acredito!) e cooperativismo, e sempre que podia me juntava a outros malucos para ir cerrado adentro (ou afora) à caça de Disco Voador, sob o incomparável céu estrelado do Distrito Federal, Kronemberger já era um pesquisador respeitado. Na época ele estava lançando o livro de poemas Mensagens de Mundos da Galáxia 21 e eu cheguei a musicar alguns deles. É desta edição o poema Jogo Certo, que publiquei quando Paulo morreu e a republico agora, cinco anos depois.



J O G O   C E R T O
Paulo Kronemberger

não te preocupes nem pelo céu nem pelo inferno.
nem se algum dos dois existe,
nem se algo existe.
nem pela morte,
nem se com ela terminas.

faz da vida um jogo certo,
com trunfo marcado.
aposta na alma,
na eternidade, na tua imortalidade.

tira do baralho a morte.
sai da corda bamba da sorte.

faz da vida um jogo certo,
com trunfo marcado.
... se perderes, jamais ficarás sabendo ...
terás acabado

*
foto de Joba Tridente: Rainha da Noite
Itapoá. Páscoa. 2015.¹


Paulo Fernando Kronemberger (1940-2011), Fundador e Presidente da União da Força Objetiva (UFO), de Petrópolis-RJ, pesquisador dos mistérios da Ilha de Páscoa (Chile), foi idealizador de diversos eventos ufológicos, como 3º. Congresso Internacional de Ufologia; II Congresso Internacional de Ufologia; II Festival para o Homem do 3° Milênio; II Ciclo de Cursos Especiais para o Desenvolvimento do Corpo Mente e Espírito; Semana do Realismo Fantástico; Salão de Arte Mística/Mítica/Mediúnica, Salão de Arte e Pensamento Ecológico. Kronemberger é autor, entre outros, de Mensagens de Mundos da Galáxia 21 - Poemas Metafísicos, Mensagem para Gente das Estrelas. Dias antes de sua morte eu lhe enviei os estudos de capa que havia me pedido para o seu livro Emergência - você está preparado?


¹. NOTA: O cacto Selenicereus floresce uma vez por ano e a sua belíssima flor branca, de raro perfume, abre à noite e morre de manhã. Quando vi a Rainha da Noite desabrochar, de repente, fiquei tão encantado que corri pegar a câmera e nem me lembrei do flash..., por isso o tom amarelado da foto.

domingo, 7 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Vencedor

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Fazia um tempinho que andava ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. Fiz a hora neste invernal agosto com oito postagens. Comecei com o clássico VersosÍntimos, segui com o emocionante AÁrvore da Serra, o visionário poema Idealização da Humanidade Futura, o mea-culpa Ricordanza della mia gioventú, a pungência de Sonetos (“a meu pai doente” e “a meu pai morto”), a metafísica em Última Visio, a mordida metafórica d’O Morcego. Encerro com o seu celebrado Vencedor.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua. Com esta última postagem, acrescentei um link (no final) onde você poderá baixar gratuitamente (e legalmente) o ebook ilustrado Partes do EU, de Augusto dos Anjos.


v  e  n  c  e  d  o  r
Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.

Sugestão de leitura: Wikipédia: Augusto dos Anjos; Jornal de Poesia: Horácio de Almeida: As Razões da Angústia de Augusto dos Anjos; amálgama: Uma explosão chamada Augusto dos Anjos; Jornal Opção: Augusto dos Anjos é o herdeiro brasileiro da poesia do horror; Nau Literária: tese: Leonardo Vicente Vivaldo: Uma poética sobre NADA?  O Niilismo em Augusto dos Anjos; Nau Literária: Nara Marley Aléssio Rubert: O lugar de Augusto dos Anjos na poesia brasileira; Nau Literária: Ubiratan Machado Pinto: Sobre a catarse de Augusto dos Anjos; Templo Cultural Delfos: Augusto dos Anjos - o poeta amargo, angustiado e pessimista; Henrique Duarte Neto: Inovação linguística na poesia de Augusto dos Anjos; Luiz Costa Lima: Augusto dos Anjos: A origem como extravioEXTRA: no portal DarkSide Books você pode baixar gratuitamente o ebook ilustrado Partes do EU.

sábado, 6 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: O Morcego

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Faz um tempinho que ando ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. A hora me apareceu agora, em oito postagens. Comecei com o clássico Versos Íntimos, segui com o emocionante A Árvore da Serra, o visionário poema Idealização da Humanidade Futura, o mea-culpa Ricordanza della mia gioventú, a pungência de Sonetos (“a meu pai doente” e “a meu pai morto”), a metafísica em Última Visio. Hoje, a mordida metafórica d’O Morcego.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua.


o   m o r c e g o
Augusto dos Anjos

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...”
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Última Visio

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Faz um tempinho que ando ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. A hora me apareceu agora, em oito postagens. Comecei com o clássico Versos Íntimos, segui com o emocionante A Árvore daSerra, o visionário poema Idealização da Humanidade Futura, o mea-culpa Ricordanza della mia gioventú, a pungência de Sonetos (“a meu pai doente” e “a meu pai morto”). Hoje o metafísico Última Visio.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua.


ú l t i m a   v i s i o
Augusto dos Anjos

Quando o homem, resgatado da cegueira
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante
A mineralogia derradeira!

A impérvia escuridão obnubilante
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gasofiláceo de diamante!

Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...

A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o Infinito!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Sonetos - A meu pai

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Faz um tempinho que ando ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. A hora me apareceu agora, em oito postagens. Comecei com o clássico Versos Íntimos, segui com o emocionante A Árvore daSerra e o visionário poema Idealizaçãoda Humanidade Futura, o mea-culpa Ricordanza della miagioventú. Hoje, toda pungência de Sonetos (“a meu pai doente” e “a meu pai morto”).

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua.


S  O  N  E  T  O  S
Augusto dos Anjos

I
a meu pai doente

Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que coisa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

-- Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!


II
a meu pai morto

Madrugada de Treze de Janeiro,
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!

E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
“Acorda-o”! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!

E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!


III
Podre meu Pai! A morte o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Microrganismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.

Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam,
E a marcha das moléculas regulam,
Com a invariabilidade da clepsidra!

Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...

Amo meu Pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Ricordanza della mia gioventú

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Faz um tempinho que ando ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. A hora me apareceu agora, em oito postagens. Comecei com o clássico Versos Íntimos, segui com o emocionante A Árvore da Serra e o visionário poema Idealização da Humanidade Futura. Hoje, um mea-culpa Ricordanza della mia gioventú.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua.


ricordanza  della  mia  gioventú
Augusto dos Anjos

A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava...
Via naquilo a minha própria ruína!

Minha ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidade de menina:
“- Não, não fora ela! -“ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito...
Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha.

Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Idealização da Humanidade Futura

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Faz um tempinho que ando ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. A hora me apareceu agora, em oito postagens. Comecei com o clássico Versos Íntimos, segui com o emocionante A Árvore da Serra, e hoje ofereço o visionário poema Idealização da Humanidade Futura.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua.


idealização da humanidade futura
Augusto dos Anjos

Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
- Homens que a herança de ímpetos impuros
Tornara etnicamente irracionais!

Não sei que livro, em letras garrafais,
Meus olhos liam! No húmus dos monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros,
Dentre as genealogias animais!

Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...

E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.


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