quinta-feira, 26 de abril de 2012

Joba Tridente: Ode ao artista












ode ao artista

vivo
se quer
o artista
conhecido
não morto
conhecido
se quer
o artista
vivo

autor: Joba Tridente. 26.04.2012. Curitiba-PR
ilustração: objeto escultórico: sacrifício, de Joba Tridente

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Massacres e Mortes dos Irantxe



Massacres e Mortes dos Irantxe

marechal Cândido Rondon

“Nada se deve temer da índole pacífica e até mesmo tímida dos Iranche. Mas, apesar disso, o truculento seringueiro entendeu que era necessário expeli-lo das proximidades do ponto em que se estabelecera; e como por ali existisse uma aldeia, assentou dar-lhe cerco, com o auxílio dos camaradas, todos armados de carabinas.

Pela madrugada, ao recomeçar a cotidiana labuta daquela misérrima população, a celerada emboscada rompeu fogo, abatendo os que primeiro saíram das casas para o terreiro. Os que não morreram logo, encerraram-se nas palhoças, na vã esperança de encontrarem aí abrigo contra a sanha de seus bárbaros e gratuitos inimigos. Estes porém já estavam exaltados pela vista do sangue das primeiras vítimas e nada os impedia de darem largas à sua fome de carnagem. Então, um deles, para melhor trucidar os misérrimos foragidos, resolveu trepar à coberta de um dos ranchos, praticar nela uma abertura e, por esta, metendo o cano da carabina, foi visando e abatendo uma após a outra as pessoas que lá estavam, sem distinguir sexo nem idade. Acuados assim com tão execrável impiedade, os índios acabaram tirando do próprio excesso do seu desespero a inspiração de um movimento de revolta: uma flecha partiu, a primeira e única desferida em todo este sanguinoso drama, mas essa embebeu-se na glote do crudelíssimo atirador, que tombou sem vida.

A só lembrança do que então se seguiu faz tremer de indignação e vergonha. Onde haverá alma de brasileiro que não vibre uníssona com a nossa, ao saber que toda aquela população, de homens, mulheres e crianças, morreu queimada, dentro de suas palhoças incendiadas?”

Fonte: Brasil Indígena - Ano III nº5 - dezembro/janeiro 2007 - publicação da Fundação Nacional do Índio – FUNAI.  

NOTA: O índio da foto (FUNAI) não esta relacionado à matéria. Hoje é o Dia (oficial) do Índio. Antes todo dia era dia de índio!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dia Nacional da Literatura Infantil



O Dia Nacional da Literatura Infantil se comemora nesta data em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato: Um País se faz com Homens e Livros!

Fábula: O Ratinho, o Gato e o Galo
Monteiro Lobato em Memória de Emília - Fábulas - Ed. Brasiliense, 1935.

Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez.
Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos. Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa da roça.
- Sim senhor! É interessante isto!
Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de milho e a estrebaria. Em seguida, notou no terreiro um certo animal de belo pelo, que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o, sem receio nenhum. Nisto, aparece um galo, que bate as asas e canta. O ratinho, por um triz, não morreu de susto.
Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à mamãe as aventuras do passeio.
- Observei muita coisa interessante - disse ele. - Mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir impedindo-me de cumprimentá-lo. O outro… Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho, que quase caí de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato, que tamanha destruição faz no nosso povo.
A mamãe rata assustou-se e disse:
- Como te enganas, meu filho! O bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal. As aparências enganam. Aproveita, pois, a lição e fica sabendo que: Quem vê cara não vê coração.


José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté-SP, 18 de Abril de 1882 – São Paulo-SP: 4 de Julho de 1948), jornalista, crítico, cronista, artista plástico, tradutor, editor. Um dos mais importantes escritores brasileiros. Por vezes contraditório (ainda amado e censurado), deixou ao alcance do público adulto uma curiosa e polêmica literatura, onde se destacam: Urupês (1918); Cidades Mortas (1919); Ideias de Jeca Tatu (1919); Negrinha (1920); Contos escolhidos (1923); O Presidente Negro e o Choque de Raças (1926). Ao público infantojuvenil o genial autor legou uma série (atemporal) de aventuras vividas por Emília, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, Dona Benta no Sítio do Pica-Pau Amarelo.

ilustração: Boneco Ratinho - criado por Joba Tridente 

domingo, 15 de abril de 2012

Joba Tridente: Marusca



Marusca

cadela de caça
um tiro, um apito
na bocarra a perdiz
grandesengonçada
perdigueira mansa
gente não estranha
derruba no caminho
o que é menor
briga com reflexo
no espelho quebra
a  gêmea tal
maior que menino
em pé grande
feito o quê pernas
se atrapalham curiosas
no quintal alheio cheiro
glacê molhado mordisca
três andares de bolo
esparramados no chão
foi a Marusca do seu Sílvio
olha a boca dela!
Marusca sua danada
eu vi! eu vi!
foi-se o aniversário de Neuza!

conto e ilustração: Joba Tridente: 13.04.2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Joba Tridente: Galinha



Galinha
a moela dela
de milho cheio
que susto! que susto!
a menina morta
que sem cabeça
a galinha picada
pingando sangue
na pia viu
não como! não como!
bicho que minhoca
cisca barata
taturana engole
não quero! não quero!
que nojo! que nojo!
a espetada tem
sabor que rola
na padaria
igual que nem
galinha fosse
hummmm! hummm!
me dá! me dá!

conto e ilustração: Joba Tridente: 11.04.2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Helena Kolody - 100 anos - 4



A vida da gente é feita de lembranças e de esquecimentos. Dizem que o cérebro escolhe o que lembrar e o que esquecer. Será? Às vezes somos atropelados por algo que queríamos esquecido ou saudado pela memória afetiva. Se escritor, as lembranças viram prosa ou poesia, como esta de Helena Kolody:

Cantiga de Recordar (1970)

Doce lembrança orvalhada
de madrugadas antigas.

Fumaça de chaminé
subindo na manhã fria.

Florescida malva-rosa
debruçada no jardim.

Uma revoada de sonhos
na vida que amanhecia.

Cantiga de recordar...
Ai, que saudade de mim!


..., ou, ainda, como esta de Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) em Boitempo:


Copo d’água no sereno

O copo no peitoril
convoca os eflúvios da noite.
Vem o frio nevoso
da serra.
Vêm os perfumes brandos
do mato dormindo.
Vem o gosto delicado
da brisa.
E pousam na água.

ilustração de Joba Tridente

terça-feira, 10 de abril de 2012

La Fontaine: Fábulas - 1



O Galo e a Pérola
Tradução: António Cândido Gonçalves Crespo


Um galo achou num terreiro
Uma pérola, e ligeiro
Corre a um lapidário e diz:
"Isto é bom, é de valia.
De milho um grão todavia
Era um achado mais feliz!"

Um néscio ficou herdeiro
De um manuscrito, e a um livreiro
Vai à pressa, e fala assim:
"É bom, é livro acabado.
Concordo, mas um ducado
Valia mais para mim!"

Jean de La Fontaine (1621 - 1695), escritor e fabulista: “Sirvo-me dos animais para instruir os homens”. Autor de: Fábulas (1668 a 1694); O Eunuco (1654); Adonis (1668); La Captivité de Saint Malc (1673); Le Quinquina (1682); Os Amores de Psiquê e Cupido (1669); Contos e Novelas em Verso (1664).

António Cândido Gonçalves Crespo (1846 – 1883), jornalista e escritor. Autor de: Miniaturas (1870); Nocturnos (1882); Contos para os Nossos Filhos (1886, com Maria Amália Vaz de Carvalho); Obras Completas (1887).

Ilustração: Joba Tridente - 10.04.2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Jorge Luis Borges: Citação - Livro



Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões da sua visão; o telefone é extensão da voz; logo temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Jorge Luis Borges in Borges, Oral: Livro.

Ilustração: Joba Tridente sobre Ding 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Friedrich Hölderlin: Hipérion ou O Eremita na Grécia



Hipérion ou O Eremita na Grécia

Acabei de ler o tocante romance poético Hipérion ou O Eremita na Grécia (1797), de Friedrich Hölderlin (1770 - 1843), com tradução de Erlon José Paschoal, numa edição da Nova Alexandria (2003). A sua narrativa se dá através das cartas que o nostálgico Hiperion, apaixonado por uma Grécia há muito distante, envia ao seu amigo Belarmino, que ficou na Alemanha, falando das suas desventuras em terras gregas e do seu desesperado amor por Diotima. Não sei o quanto gostei. A inconstância de Hipérion me incomodou..., assim como me incomoda a minha. Talvez seja puro reflexo. Talvez autodefesa. Talvez pela leitura tardia. Na década de 1970, ainda estudava Mitologia Grega. Hoje, faço consultas casuais. Posso estar enganado, mas me parece que esta obra de Hölderlin inspirou Mika Waltari (1908 – 1979) em O Etrusco.

Excerto: na terceira carta a Belarmino, diz Hipérion: (...) Como o trabalhador no sono que o revigora, meu ser inquieto afunda muitas vezes, nos braços do passado inocente./ Sossego da infância! Sossego celestial! Quantas vezes me vejo sereno diante de você numa contemplação amorosa, tentando recordá-lo! Mas só nos restam conceitos daquilo que, um dia, foi ruim e depois remediado; mas da infância, da inocência não temos quaisquer conceitos./ Por ser ainda uma criança serena e nada saber de tudo o que nos cerca, não era eu mais do que sou agora, depois de todas as agruras do coração e de todas as reflexões e embates?/ Sim! A criança é um ser divino enquanto não submerge na cor de camaleão dos homens./ Ela é inteiramente o que é e, por isso, tão bela?/ A força da lei e do destino não a toca. Na criança, a liberdade existe sozinha./ Nela, há paz; ela ainda não se desagregou interiormente. Nela, há riqueza; ela conhece seu coração, mas não a escassez da vida. É imortal, pois nada sabe da morte. Mas isso os homens não conseguem suportar. O divino deve se tornar como um deles, deve aprender que eles também estão aí e antes que a natureza o expulse de seu paraíso, os homens o ondulam e o arrastam para o campo da maldição, fazendo-o ganhar a vida como eles, com o suor do próprio rosto./ Mas também é belo o tempo do despertar, desde que não nos despertem na hora errada.

A ilustração encontrei no site Quoting: Hiperion na Travessia até Caláuria - Rudolf Lohbauer (1824)
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