Há
140 anos, mais precisamente em 02 de julho de 1877, nascia em Calw, na
Alemanha, o escritor e artista plástico Hermann
Hesse¹, autor que acompanhou a minha adolescência. Lia tudo que encontrava
pela frente: Gertrud, Rosshalde, Knulp, Demian, Último Verão, Sidarta, Narciso e Goldmund,
O Jogo das Contas de Vidro, O Livro das Fábulas, Viagem ao Oriente... O único livro que
nunca cheguei ao final foi O Lobo da
Estepe. Tentei, em vão, ir além de algumas páginas. Talvez fosse muito jovem para ele. Ou não!
Talvez um dia, mais velho, eu tente (novamente) ler. Ou não!
Marcílio Farias² é um amigo jornalista, escritor e
tradutor que vive nos EUA e cuja obra de excelência e diversas traduções únicas
de Thomas Merton já publiquei por
aqui. Embora suas traduções sejam notáveis, Marcílio não as faz
profissionalmente, mas para compartilhar (via FaceBook) com seus amigos
brasileiros. Da seleção que venho guardando para futuras publicações, que
inclui Pier Paolo Pasolini, Guillaume Apollinaire, Thomas Edward Lawrence,
George Seferis, Jean-Arthur Rimbaud, entre outros, hoje destaco esta beleza
melancólica de Hermann Hesse: Tempo Maléfico. É um poema pouco conhecido e dos mais comoventes do autor. Para
esta tradução livre, Marcílio Farias..., que está aprendendo alemão, há
seis meses, para um dia ler
Schiller no original..., usou o poema Böse Zeit (1909) incluído nos Gesammelte
Schriften de 1953, publicado pela Verlag, Berlin/1953. A tradução foi aprovada
sem correções pelo seu exigente instrutor.
Para quem não domina o português brasileiro, segue também, além do poema
original em alemão, a tradução para o inglês, feita por James Wright. Infelizmente não encontrei versão do poema para o
espanhol e ou italiano.
Böse Zeit
Hermann Hesse
Nun sind wir still
Und singen keine Lieder mehr.
Der Schritt wird schwer.
Das ist die Nacht, die kommen will.
Gib mir die Hand,
Vielleicht ist unser Weg noch weit.
Es schneit, es schneit.
Hart ist der Winter in dem fremden Land.
Wo ist die Zeit
Da uns ein Licht, ein Herd gebrannt?
Gib mir die Hand,
Vielleicht ist unser Weg noch weit.
Tempo
Maléfico
Hermann Hesse
Hermann Hesse
tradução: Marcílio Farias
Fiquemos em
silêncio, pois agora
não cantamos mais como antes, e
nosso passo, nosso ritmo, claudica.
não cantamos mais como antes, e
nosso passo, nosso ritmo, claudica.
E a noite prevista
pelo destino se aproxima.
Deixe-me segurar
sua mão pois
temos um longo caminho pela frente.
Neva. Neva muito, e todo inverno é
cruel em terra estranha.
temos um longo caminho pela frente.
Neva. Neva muito, e todo inverno é
cruel em terra estranha.
Para onde foi o
tempo em que uma vela,
uma lareira, um abraço nos aquecia?
Deixe-me segurar sua mão
pois temos um longo caminho pela frente.
uma lareira, um abraço nos aquecia?
Deixe-me segurar sua mão
pois temos um longo caminho pela frente.
Evil
Time
Hermann Hesse
translation: James Wright
Now we are silent
And sing no songs any more,
Our pace grows heavy;
This is the night, that was bound to come.
Now we are silent
And sing no songs any more,
Our pace grows heavy;
This is the night, that was bound to come.
Give me your hand,
Perhaps we still have a long way to go.
It’s snowing, it’s snowing.
Perhaps we still have a long way to go.
It’s snowing, it’s snowing.
Winter is a hard thing in a strange country.
Where is the time
When a light, a hearth burned for us?
Give me your hand!
Perhaps we still have a long way to go.
When a light, a hearth burned for us?
Give me your hand!
Perhaps we still have a long way to go.
ilustração de Joba Tridente.2017
1. Herman Hesse (Calw/Alemanha: 02.07.1877
- Montagnola/Suíça: 09.08.1962) foi um escritor e artista plástico que (filho
de pais missionários), para a felicidade dos seus admiradores, preferiu a
poesia ao ministério (religioso). Hesse, que recebeu, em 1946, o Prêmio Goethe
e o Nobel de Literatura, ainda hoje influencia gerações com sua literatura
atemporal, de teor humanitário e espiritualista. Para se aprofundar na
biografia deste fascinante autor de obras tão sublimes, sugiro, por exemplo, o
artigo Hermann Hesse: Poemas Escolhidos, do escritor e ensaísta Ailton Rocha,
no blog “Palavra e Melodia”; Hermann Hesse: o guru dos hippies, ensaio de Edgar Welzel, no site
“Bula revista”; Hermann Hesse, no site italiano “La Frusta
Letteraria”; Hermann Hesse, no site “ZeitOnline”, e a leitura de alguns poemas, em espanhol, no
site “Trianart”: Hermann Hesse: El Poeta. Entre as obras de Hermann Hesse mais
conhecidas no Brasil estão: Debaixo das
rodas (1905), Gertrud
(1910), Rosshalde (1914), Knulp (1915), Demian (1917), Sidarta
(1922), O Livro das Fábulas
(1904/1927), O Lobo da Estepe (1927),
Narciso e Goldmund (1930), O Jogo das Contas de Vidro (1943), Viagem ao Oriente (1958).
2. Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela
Universidade de Brasília em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Nos anos 70/80
trabalhou para a UNICEF/Brasil, USIS - Brasil e WHO, como consultor e assessor
de assuntos públicos e culturais. Atuou como secretário particular do escultor
Rubem Valentim, professor visitante da Universidade de Brasília e da Fundação
Nacional de Teatro, editor assistente do Jornal de Brasília, colaborador do
Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, Jornal do Unicef e The
Brazilians (NY). Em 1974, integrou a equipe vencedora do Prêmio Esso para
Melhor Contribuição à Edição Jornalística/Jornal de Brasília. No final da
década de 80, escreveu e dirigiu o curta-metragem "Digitais" hors-concours em Lausanne e no Festival
de Salvador, vetado pelo Concine logo em seguida. Emigrou legalmente para os
Estados Unidos em 1989. Foi assessor cultural e adido cultural ad hoc do Consulado Geral do Brasil, em
Boston (1993-2003). Professor visitante da Universidade de Massachusetts -
Boston, conferencista convidado do David Rockefeller Center for Latin American
Studies (Harvard University) e Sloan School of Management (MIT). Professor de
Comunicação Impressa e de História da Cultura na Universidade de Phoenix, AZ,
EUA. Membro Honorário da
American Academy of Poets (Owing Mills, MD), da International Society of Poets
(Washington, DC) e da Society of Friends of The Longfellow House (Cambridge,
MA). Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e
Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras poéticas publicadas: Visual Field (1996), O Livro
Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), Rito
para Ressuscitar um Elefante (2010). Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.
3. James Wright, premiado escritor e
tradutor norte-americano, nasceu em Martins Ferry/Ohio (13.12.1927) e morreu em
Nova York (25.03.1980). Vencedor do prestigiado concurso literário Yale Youger
Poets Prize, com The Green Wall, em
1956, Wright aos poucos deixou o formalismo para se enveredar pelos versos
livres. Autor de Saint
Judas (1959), Autumn Begins in
Martins Ferry, Ohio - Broadside (1963), Shall
We Gather at the River (1967), Collected
Poems (1971), Two Citizens (1973),
Moments of the Italian Summer (1976),
To a Blossoming Pear Tree (1977)…,
póstumos: This Journey (1982), The Temple at Nîmes (1982), James Wright, In Defense Against This Exile.
Letters to Wayne Burns (1985), Above
the River - the Complete Poems (1992), Selected Poems (2005), A
Wild Perfection: The Selected Letters of James Wright (2005), The Delicacy and Strength of Lace: Letters
Between Leslie Marmon Silko and James Wright (2009). A obra mais aclamada do ganhador do Pulitzer
(poesia) é The Branch Will Not Break (1963).
Wright traduziu para o inglês poemas do peruano Cesar Vallejo (1892-1938), dos
austríacos Georg Trakl (1887-1914) e Rainer Maria Rilke (1875-1926), do alemão
Herman Hesse. A versão publicada acima está em Hermann Hesse - Poems (German
& English, 1970).
Nenhum comentário:
Postar um comentário