domingo, 25 de setembro de 2011

Joba Tridente: Roque Leon - II

ilustração de Joba Tridente: Roque Leon II - Falas ao Acaso

Passei pela década de 1970 marcando e sendo marcado. Morava no DF e escrevia nas entrelinhas para o Correio Braziliense. Um dia desapareci na noite. Fui trabalhar com cooperativismo, deixando, por hora, a Boca do Inferno, de lado. 

...da série mordaça

ROQUE LEON - II 
a Roque Leon

Rasquei o silêncio
Onde dormia o medo
Quando a solidão insólita
Urticando meu corpo quimérico
Evocou Deuses e Demônios..., e

Larvas bêbadas de lágrimas
Enlaçando (então) meu esqueleto
Orgiaram num frêmito louco e santo de prazer..., o
Nascer dorido da minha terceira morte


Joba Tridente: 15.10.1979
poema e ilustração: Joba Tridente

sábado, 24 de setembro de 2011

Roubaram a Bicicloteca


No Dia Mundial Sem O Carro, as praças de São Paulo amanhecem mais tristes, roubaram a Bicicloteca, durante uma entrevista.

Robson Mendonça, um senhor de 70 anos, não consegue mais dormir e passa mal.

O sonho, de uma vida toda, despedaçado.

Estamos fazendo um apelo geral para as pessoas cooperarem para sua devolução. 

Quem ver, conhecer ou tiver pistas para informar para gente.

A Bicicloteca faz um trabalho essencial na cidade de SP.Qualquer informação para contato@bicicloteca.com.br

Tuitem nas suas redes #roubobicicloteca



Lincoln Paiva
Instituto Mobilidade Verde
Presidente



Sobre a Bicicloteca

A “Bicicloteca” é uma biblioteca itinerante, um movimento independente existente em diversas comunidades brasileiras e em outros países, geralmente para pessoas sem acesso a biblioteca ou comunidades distantes dos centros, as quais utilizam a bicicleta como veículo para o transporte de livros. A Bicicloteca do Instituto Mobilidade Verde foi desenvolvida para atender moradores de rua através do Movimento Estadual da População em Situação de Rua. Trata-se de um triciclo com capacidade para 150 kg de livros que facilita o trânsito na cidade e o acesso de pessoas a cultura , o objetivo é facilitar o trabalho das comunidades que já atuam com cultura e inclusão social através da leitura.

O conceito de biblioteca itinerante nasceu da necessidade de levar cultura para as pessoas que por diversos motivos não tem acesso a biblioteca. Qualquer ONG que trabalha com população carente, poderá requerer uma Bicicloteca do IMV, bastando para isso o envio de uma solicitação formal ao Instituto Mobilidade Verde. O IMV vai priorizar aquelas que já trabalham com comunidades sem acesso a biblioteca, ou com população em situação de risco e que reúnam condições mínimas para conduzirem o veículo ( que não necessita de habilitação especial) , realizar a manutenção mensal e terem local para guardar a Bicicloteca com segurança. O Instituto realiza um treinamento sobre como abordar as pessoas e formas menos burocráticas para a doação de livros, a Bicicloteca do Instituto Mobilidade Verde tem um padrão diferente das Bibliotecas itinerantes convencionais, que emprestam livros, a ideia não é apenas emprestar livros, mas doá-los para uma outra pessoa apos leitura. O objetivo é formar leitores e que estes novos leitores doem seus livros para outras pessoas. Os livros serão carimbados para “lembrar” ao leitor de doá-los novamente, criando assim um ciclo de leitura permanente.

O programa vai monitorar as doações e realizar o cadastramento das pessoas, desta forma será Possível conhecer o paradeiro de pessoas que estão desaparecidas e abandonadas na cidade, respeitando o direito de cada indivíduo.

Quem quiser doar livros para a Biblioteca Itinerária poderá deixá-los na Biblioteca Mário de Andrade até o dia 25 de julho. Além do Movimento Estadual da População em Situação de Rua, outras ONGs serão contempladas com o triciclo até o final deste ano.

O projeto Bicicloteca do Movimento Estadual da População em Situação de Rua visa recuperar moradores de rua através da inclusão social pela leitura e pelo trabalho de inserção e assessoria jurídica e social que é parte do trabalho desenvolvido pelo Movimento criado por Robson Mendonça.

A ideia de criar uma Bicicloteca do IMV, nasceu da necessidade do Movimento Estadual de População em Situação de Rua em levar livros para os moradores de rua através de um veículo leve que poderia entrar em praças e locais de difícil acesso, que não necessitaria de um condutor com habilitação e que não gerasse custos com combustíveis e tivesse capacidade para levar a maior quantidade de livros possível.

A Secretaria do Verde e Meio Ambiente apóia o projeto de forma Institucional e a Biblioteca Mário de Andrade apóia através da cessão de espaço para a exposição da Bicicloteca até o evento de lançamento e com a doação de livros.

A Bicicloteda foi doada no dia 25 de julho às 16h ( Dia do Escritor).

Local: Biblioteca Municipal Mário de Andrade – Rua da Consolação, 94.

Doações poderão ser realizados na própria Biblioteca Mario de Andrade e no Instituto Mobilidade Verde ( Rua Bela Cintra 409 – Consolação).

Contato:
contato@bicicloteca.com.br
contato@mobilidadeverde.org


Transcrição e fotos do site Instituto Mobilidade Verde
http://institutomobilidadeverde.wordpress.com/bicicloteca/

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Joba Tridente: Roque Leon

ilustração de Joba Tridente: Roque Leon  - Falas ao Acaso

Passei pela década de 1970 marcando e sendo marcado. Morava no DF e escrevia nas entrelinhas para o Correio Braziliense. Um dia desapareci na noite. Fui trabalhar com cooperativismo, deixando, por hora, a Boca do Inferno, de lado. 

...da série mordaça

ROQUE LEON
a Roque Leon

Ruirão tronos e castelos e templos
Onde passar eu..., rei
Querubim animalesco e exterminador
Ultimando os últimos heróis
Entranhando inda no eco-vão das paredes..., e

Lúgubre será meu canto de amor (ou de pax)
Enquanto baionetar corpos flácidos
Onde outrora penas tintadas
Napolearam o meu último silêncio


Joba Tridente. 28.08.1979
poema e ilustração: Joba Tridente


sábado, 10 de setembro de 2011

Joba Tridente: um homem comum


1
Sou um homem comum. Muito comum. Não tenho olhos coloridos. Gostaria azul. Em qualquer tom. O verde eu dispenso. Não combina com qualquer um e nem com um qualquer. Ficaria mais feio do que me suporto. Não tenho um rosto desenhado com capricho. Minha fronte avança sobre os olhos castanhos, até os limites das cerradas sobrancelhas negras. Nasci e cresci loiro de sobrancelhas negras. Só me apercebi da esquisitice na adolescência  quando saia do interior para a grande cidade. Depois a poluição tratou de escurecê-lo um pouco. Hoje ele é castanho em vários tons entremeado de branco.  Meu corpo não é talhado e nem atlético, mas serve ao propósito hospedeiro da alma. Por mais que me olhe, externamente nada encontro que possa chamar a atenção. Nada.


2
Sou um homem comum. Comum demais. Daqueles que nem vale a pena um cumprimento. Um amigo. Uma troca de palavras..., mesmo as jogadas fora. Por dentro sou mais que este silêncio trivial. Mas, quem há de...? Na rua, se me olham e fixam o olhar é por engano. Pura confusão. Se me olha uma mulher com algum desejo, é apenas a carência das mal-amadas abandonadas à própria sorte. As mais feias entre as feias no rejeito do rejeito. Em um mundo onde a mulher é maioria no reino animal humano, outras mulheres são o inimigo e qualquer homem pode servir de caça. Às vezes, até mesmo eu. Logo, nem mesmo eu, também uma sobra do meu próprio reino. Se me olha um outro, com certeza estará equivocado. Talvez eu lhes pareça um fulano ou o beltrano, quem sabe aquele sicrano foragido. Tenho uma cara tão comum que poderia ser confundido com um artista ou um bandido. Um salvador ou matador. Um não sei lá. Também me pergunto ao meu reflexo que me devolve a pergunta. Ciclo vicioso de interrogação. Apenas a sombra permanece calada. Uma mera ilusão. Quimera. Já que me reflete, mesmo despido. Torcido, distorcido, ela fala, ela grita, conforme o olhar da luz sobre mim. Pena eu não ser poliglota.


3
Sou um homem comum. Comum entre os comuns. Daqueles que nem mesmo um verme daria alguma satisfação. Por isso que me permito ser confundido. Atrás de um óculos de sol. Sorriso: como vai? Cabeça baixada rápida, esquivada, passos mais largos. Um palco, se me fosse permitido... Um palco, eu... Mas numa rua, calçada..., somos todos meros espectadores. Da beleza ou da feiura alheia. Ninguém pode se ver como o outro lhe vê. A ordem e desordem externa do corpo vestido ou quase. Aflição interna, ódio, se o olhar resulta em risos, conversinhas, gargalhadas. O desejo de morte está em todos nós. Naquele que olha ou é olhado. Naquele que é comum ou exceção. A regra determina apenas o grau do desejo, se espontâneo, imediato ou a prazo. O desejo de compartilhar a vida ou simplesmente o sexo, também.


4
Sou um homem comum. Comum ao extremo. Confuso com as minhas próprias lembranças de felicidade e dor. Iludido com a falsidade e o desprezo gratuito do alheio. Nem mesmo sei o porquê. Nunca foram com a minha cara. Desde criança. Se falo me odeiam, Se me calo, também. Se concordo ou discordo, idem. No mais das vezes me toleram. Por quê? Têm medo de quê? Do nada que sou o do tudo que desconheço e aparento ser? Onde está a diferença? Em mim ou no outro? Por que ser ou querer ser um homem comum incomoda tanto a tantos? Inclusive a mim mesmo...


5
Sou um homem comum. Comum ao infinito. Nascido desnecessariamente. Penso. Esquisito, gostando sempre do contrário, em qualquer tempo. Sempre remando contra a maré. Mesmo não sabendo nadar. Criança, ao invés da bola, do futebol, preferia as letras. Fossem revistas em quadrinhos proibidas ou permitidas, livros infantis, sagrados ou de aventuras, enciclopédias, dicionários ou bulas. Lia tudo. À confusão, preferia o silêncio. Era bem educado ou medroso, por isso: doloridos apelidos. Sei fazer coisas que a maioria acredita incapaz. Quem se interessa? Mas que me levam a lugar nenhum. Sou apenas um alguém comum. Daí não fazer a menor diferença na emergência ou na aparência. Por conta disso, diversas vezes morri, nesta vida. E, como se nada tivesse acontecido, voltei à ela. Indiferente. Na verdade, desde criança venho morrendo por querer. Ou não. Nunca pra valer. Quem quer saber? Sou azarado demais, para tanto. Comum demais até pra chamar a atenção da morte...

Joba Tridente.03.05.1998
foto-ilustrações de Joba Tridente. 2011

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