quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Teresa Vignoli: zen mistério

..., Teresa Vignoli é uma velha amiga. ..., do tempo em que eu candangava pelo cerrado do Planalto Central, cultuando Coisas da Terra na Ordem de um Universo muito particular. ..., a reencontrei em uma rede social. ..., seus poemas têm a delicadeza e o brilho dos seixos em águas cristalinas. ..., delicie-se, em três postagens, com três preciosidades.



zen mistério

 

o espírito está no ato
vento virando fato

ou
não me venham 
com gurus empanturrados de palavras.


(*)
Foto de Joba Tridente: Sargaço



Teresa Vignoli (ou simplesmente Teca) é psicoterapeuta e coordenadora de oficinas de escrita criativa em encontros de psicologia, educação e criatividade, e escritora. Teca é da geração mimeógrafo, que escancarou a poesia na década de 70. Além dos badalados recitais e encontros de arte e poesia, se fez presente nas coletâneas Pa lavra (RJ, 1973); Alambique (RJ, 1976), esta com os poetas Joel Macedo e Pedro Pellegrino; Pega Gente (SP, 1977), editada por Ulisses Tavares; Po rr etas (DF,1978 e 1980), com Nicolas Behr, Tetê Catalão e Cassiano Nunes. Em parceria com o artista Rômulo Pinto Andrade (projeto visual, capa e ilustrações) lançou Asa Verso (Brasília, 1986) e com a poeta Silma Coimbra Mendes, publicou pela editora Komedi, o livro Chama Verbo (1999). Entre os vários periódicos que colaborou poeticamente, destaca-se a revista Quaternio, editada pelo Grupo de Estudos Carl Gustav Jung e organizada por Nise da Silveira. Teca mora em Campinas, São Paulo.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Teresa Vignoli: de pousos e de pausas

..., Teresa Vignoli é uma velha amiga. ..., do tempo em que eu candangava pelo cerrado do Planalto Central, cultuando Coisas da Terra na Ordem de um Universo muito particular. ..., a reencontrei em uma rede social. ..., seus poemas têm a delicadeza e o brilho dos seixos em águas cristalinas. ..., delicie-se, em três postagens, com três preciosidades.




de pousos e de pausas

sentinelas
do vento,

atentos
como notas
em
partituras
verticais,

pássaros
pastoreiam
o silêncio.


(*)
Foto: Rosa Morena


Teresa Vignoli (ou simplesmente Teca) é psicoterapeuta e coordenadora de oficinas de escrita criativa em encontros de psicologia, educação e criatividade, e escritora. Teca é da geração mimeógrafo, que escancarou a poesia na década de 70. Além dos badalados recitais e encontros de arte e poesia, se fez presente nas coletâneas Pa lavra (RJ, 1973); Alambique (RJ, 1976), esta com os poetas Joel Macedo e Pedro Pellegrino; Pega Gente (SP, 1977), editada por Ulisses Tavares; Po rr etas (DF,1978 e 1980), com Nicolas Behr, Tetê Catalão e Cassiano Nunes. Em parceria com o artista Rômulo Pinto Andrade (projeto visual, capa e ilustrações) lançou Asa Verso (Brasília, 1986) e com a poeta Silma Coimbra Mendes, publicou pela editora Komedi, o livro Chama Verbo (1999). Entre os vários periódicos que colaborou poeticamente, destaca-se a revista Quaternio, editada pelo Grupo de Estudos Carl Gustav Jung e organizada por Nise da Silveira. Teca mora em Campinas, São Paulo.

Rosa Morena é assistente social (PUC-PR), com especialização em arteterapia (Unicamp), e artista plástica. Pesquisou a musicalidade da cerâmica e criou instrumentos percussivos, além de muitos botões, entre outros acessórios. Charlotte, uma Canon G12, seu grude, em caminhadas que pratica por aí, é a ferramenta que dispõe para um olhar atento a delicadas miudezas, às vezes escondidas, às vezes bem exibidas...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Teresa Vignoli: Pitanga

..., Teresa Vignoli é uma velha amiga. ..., do tempo em que eu candangava pelo cerrado do Planalto Central, cultuando Coisas da Terra na Ordem de um Universo muito particular. ..., a reencontrei em uma rede social. ..., seus poemas têm a delicadeza e o brilho dos seixos em águas cristalinas. ..., delicie-se, em três postagens, com três preciosidades.




Pitanga

o sol na tua pele
cria espelhos.

vejo-me
no teu sabor vermelho.


(*)
Foto de Teresa Vignoli
em releitura de Joba Tridente



Teresa Vignoli (ou simplesmente Teca) é psicoterapeuta e coordenadora de oficinas de escrita criativa em encontros de psicologia, educação e criatividade, e escritora. Teca é da geração mimeógrafo, que escancarou a poesia na década de 70. Além dos badalados recitais e encontros de arte e poesia, se fez presente nas coletâneas Pa lavra (RJ, 1973); Alambique (RJ, 1976), esta com os poetas Joel Macedo e Pedro Pellegrino; Pega Gente (SP, 1977), editada por Ulisses Tavares; Po rr etas (DF,1978 e 1980), com Nicolas Behr, Tetê Catalão e Cassiano Nunes. Em parceria com o artista Rômulo Pinto Andrade (projeto visual, capa e ilustrações) lançou Asa Verso (Brasília, 1986) e com a poeta Silma Coimbra Mendes, publicou pela editora Komedi, o livro Chama Verbo (1999). Entre os vários periódicos que colaborou poeticamente, destaca-se a revista Quaternio, editada pelo Grupo de Estudos Carl Gustav Jung e organizada por Nise da Silveira. Teca mora em Campinas, São Paulo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Silvio Romero: A Proteção do Diabo

..., este conto recolhido por Silvio Romero, no Rio de Janeiro, é um dos mais singelos entre os publicados em Contos Populares do Brasil (1885). ..., gosto dele porque subverte conceitos religiosos. ..., e também porque me lembra o antológico conto O Demônio do Campo, de Hermann Hesse, publicado em O livro das Fábulas, editado no Brasil pela Civilização Brasileira, nos anos 1970.
  

A Proteção do Diabo

Houve um rei que tinha um filho; quando este chegou à idade de dezoito anos, sua mãe mandou ver a sua sina, e lhe responderam que seu filho tinha de morrer enforcado. Desde esse dia sua mãe não pôde ter mais alegria. 0 príncipe, logo que notou a tristeza de sua mãe, perguntou-lhe qual era o motivo. Sua mãe não lhe quis dizer; mas o moço incomodado por esse mistério, também caiu em tristeza. No segundo dia tornou a indagar da rainha, e nada dela lhe querer dizer; no terceiro dia o mesmo. Porém, tanto o príncipe insistiu, que ela se viu obrigada a declarar que a causa de sua tristeza era a triste sina dele ter de morrer enforcado. O príncipe não se atemorizou e disse à sua mãe que por isso não se incomodasse, porque morrer disto ou daquilo, de moléstia ou enforcado, tudo era morrer; e portanto lhe desse licença para ele ir correr mundo, para não morrer aonde tinha nascido e para evitar a seus pais maior dor. Com custo a rainha lhe concedeu licença, e o moço foi ter com o rei, que também a custo lhe quis dar.

O príncipe se aprontou para seguir, e, na despedida, seu pai lhe deu uma grande soma de dinheiro para sua viagem. Depois de ter o moço corrido algumas cidades e reinos, chegou a um lugar onde havia uma capela de São Miguel, com sua imagem e a figura do Diabo, tudo já muito arruinado. Ai parou o príncipe, a fim de mandar consertar a capela e as imagens.

Mandou chamar operários e se pôs à testa da obra. Depois que concluiu o trabalho, o pintor veio lhe dizer que tinha restado um pouco de tinta por não ter pintado o Diabo. O príncipe examinou a obra e ordenou que se pintasse também o Demônio, e, deixando tudo pronto, retirou-se. Depois de ter corrido outras terras, foi dar à casa de uma velha, pedindo-lhe licença para ai pernoitar. Depois que a velha lhe destinou um quarto, o príncipe pôs-se a contar o dinheiro que lhe restava. Vendo aquilo a velha foi dar parte à autoridade, dizendo que um ladrão a estava roubando a sua casa. A autoridade, com uma escolta, se dirigiu à casa da velha, prendeu ao príncipe e o conduziu para a cadeia, para ser processado, o que aconteceu, sendo ele condenado à pena última. Chegando o dia de cumprir, saiu o moço da prisão, no meio de uma escolta, para ser conduzido à forca. São Miguel, que estava na capela que o príncipe tinha mandado consertar, perguntou ao Demônio: “Então, tu agora não estás mais bonito?” Respondeu o Diabo que sim. “E não sabes quem consertou esta capela e nos enfeitou?” Respondeu que o príncipe, que tinha passado por ali. “Pois este príncipe, conduzido por uma escolta, está em caminho para ser enforcado e cumprir a sentença a que foi condenado injustamente. Deves ir defendê-lo.” 

O Diabo montou num fogoso cavalo, dirigiu-se à casa da velha, conduziu-a à justiça, onde ela declarou toda a maquinação que tinha feito para ficar com o dinheiro do príncipe. O rei, sabendo do ocorrido, por intermédio do Diabo, passou ordem para ser solto o príncipe e conduzido à sua presença, sendo o Diabo o portador da ordem. Partiu o Demônio no seu cavalo e apenas teve tempo de chegar, pois o príncipe já estava quase no ato de ser enforcado. Apresentou a ordem de soltura, e, livre o príncipe, o levou ao palácio do rei. Este interrogou ao príncipe para saber quem era e de onde vinha; ao que ele respondeu justamente quem era, e que tinha saído da terra de seus pais para não morrer enforcado perto deles, pois essa era a sina que tinha trazido. O rei obrigou a velha a restituir o dinheiro do príncipe, e mandou-a levar para a prisão até chegar o dia de ser sentenciada pelo crime que tinha cometido.

O príncipe, depois que se viu livre e embolsado de seu dinheiro, indo caminhando por uma estrada, encontrou-se com um fidalgo montado num fogoso cavalo. O fidalgo lhe perguntou para onde ia, ao que respondeu que andava em terra estranha e não sabia onde iria pernoitar. E foram andando-justamente pelo caminho que ia dar à capela que o príncipe tinha mandado consertar. Ele pelo caminho foi contando ao fidalgo o que lhe tinha acontecido, e como se tinha livrado daquela vez, mas que a sua sina era a de morrer enforcado. Então lhe disse o fidalgo: “Não sabeis quem vos defendeu?” Respondeu o príncipe que não. “Pois sabei que fui eu, que sou a figura do Diabo que estava na capela de São Miguel, que vós mandastes consertar e também pintar a mim. O santo me disse o aperto em que estavas, montei a cavalo, e ainda cheguei a tempo de vos salvar. Podeis voltar para vossa terra, porque a vossa sina está desmanchada, indo a velha ser enforcada em vosso lugar.”

Desapareceu o Diabo, que foi para a sua moradia na capela, onde também foi o príncipe fazer sua oração. Depois voltou para a sua pátria, onde seus pais o receberam com grande contentamento.


*
Ilustração de Joba Tridente (2013) 

Silvio Romero (Lagarto, 1851 - 1914): escritor, ensaísta, crítico literário, professor, filósofo. Romero foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897 e escreveu para diversos jornais.  Silvio Romero é, entre outras obras, autor de: A poesia contemporânea e a sua intuição naturalista (1869); Contos do fim do século (1878); A filosofia no Brasil (1878); A literatura brasileira e a crítica moderna (1880);  Cantos Populares do Brasil - vol. 1 e 2 (1883); Contos Populares do Brasil (1885); História da literatura brasileira, 2v. (1888); A poesia popular no Brasil (1880);  Compêndio da História da Literatura Brasileira (1906).

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Silvio Romero: O Homem Que Quis Laçar Deus

Já comentei em outra ocasião que muitas obras, principalmente literárias, me tocam antes pelo título..., como este conto, por exemplo: O Homem Que Quis Laçar Deus. Ele foi recolhido por Sílvio Romero e se encontra em Folclore Brasileiro: Cantos e Contos Populares do Brasil, v.3, da Livraria José Olympio Editora (1954).



O Homem Que Quis Laçar Deus

Havia um homem que era muito pobre e com muita família. No lugar em que morava, havia uma estrada muito grande e se dizia que por ali passava Deus e o mundo. Ouvindo dizer isto o homem, e querendo saber a razão por que Deus o tinha feito tão pobre, armou um laço e assentou-se na estrada à espera de Deus.

Levou assim muito tempo, e todos que passavam perguntavam o que estava ali fazendo. Ele respondia que queria pegar Deus. Afinal, estando desenganado de que nada fazia, ia para casa, quando apareceu-lhe um velhinho e deu-lhe quatro vinténs, dizendo que comprasse um objeto que custasse aqueles quatro vinténs. Nem mais barato, nem mais caro.

O homem foi para casa muito contente, imaginando no que havia de comprar com aquele dinheiro. Lembrou-se de um compadre negociante rico que tinha, o qual estava para fazer viagem a buscar sortimentos para sua loja. Dirigiu-se o compadre pobre para a casa do compadre rico e pediu-lhe que comprasse qualquer coisa que custasse aqueles quatro vinténs.

Fez o compadre a sua viagem e chegando na cidade não encontrou nada por aquele preço. Foi ao mercado e ainda nada. encontrava objetos por três vinténs, um tostão, meia pataca, dois mil réis, três, etc.

Ia para casa, quando ouviu um menino mercar: "Quem quer comprar um gato? Custa quatro vinténs." O homem ficou muito contente e comprou o gato. Era um animal raro naquele lugar. Chegando o negociante em casa do amigo onde estava hospedado, e que também era do comércio, este ficou desejoso de possuir aquele animal e pediu ao amigo para deixar o gato passar a noite na loja, onde havia muito rato, que lhe davam um grande prejuízo.

No outro dia quando abriram a casa, tinha uma quantidade tão grande de ratos mortos que causou admiração. o negociante dono da casa ofereceu uma grande soma de dinheiro ao amigo pelo gato.

Este recusou, dizendo ser o gato de um seu compadre muito pobre, que o tinha encarregado de comprar um objeto qualquer com quatro vinténs. Instou muito o negociante e afinal ofereceu tanto dinheiro que o amigo não pôde recusar e vendeu o gato. Voltou o compadre rico de sua viagem, mas chegando em casa teve tanta pena de dar o dinheiro ao compadre, que o enganou com uma peça de chita, muito ordinária, dizendo ter comprado aquilo com os quatro vinténs.

O compadre pobre ficou muito contente e, chegando em casa, a mulher desmanchou logo a fazenda em camisas para os filhos. Mas como Deus não quer nada mal feito, assim que o compadre saiu com a peça de chita, o rico caiu com uns ataques muito fortes e para morrer. A mulher o aconselhou a que se confessasse, que ele estava muito mal, e chegando o padre e sabendo do segredo, mandou-o restituir todo o dinheiro do compadre pobre. Este veio a chamado do rico, que logo melhorou, com a presença dele.

Mas o ricaço, não tendo coragem de entregar o dinheiro, ainda enganou o outro com outra peça de fazenda ordinária.

O pobre não cabia de si de contente, e mal tinha saído, o rico estava outra vez morre não morre. É chamado de novo a toda pressa o compadre pobre, sendo ainda uma vez enganado com outra peça de fazenda, mas desta vez o rico estava quase expirando, e não teve outro remédio senão declarar ao companheiro que aquelas barricas que ali estavam eram dele com todo o dinheiro que continham.

Ouvindo isto, o pobre quase que não se segurava em , tal foi o choque que sentiu, e como louco correu a dar novas à família, que não sabia como explicar tamanha felicidade. Houve oito dias de festas e o pobre ficou logo cercado de muitos amigos, entre eles o rico que ficou bom da moléstia esquisita, assim que entregou o dinheiro.


*
Ilustração de Joba Tridente (2013)


Silvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (Lagarto, 1851 - 1914): escritor, ensaísta, crítico literário, professor, filósofo. Romero foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897 e escreveu para diversos jornais.  Silvio Romero é, entre outras obras, autor de: A poesia contemporânea e a sua intuição naturalista (1869); Contos do fim do século (1878); A filosofia no Brasil (1878); A literatura brasileira e a crítica moderna (1880);  Cantos Populares do Brasil - vol. 1 e 2 (1883); Contos Populares do Brasil (1885); História da literatura brasileira, I e II (1888); A poesia popular no Brasil (1880);  Compêndio da História da Literatura Brasileira (1906). 

domingo, 10 de novembro de 2013

Joba Tridente: Odores da Infância


odores da infância - 1

homens cheiravam
a Bozzano
..............................
mulheres a cheirar
Cashmere Bouquet
meninas mimadas a talco Gessy
meninos a Água Oxigenada
Mercúrio e Mertiolate
..................................
adolescente, eu
caprichava no Lancaster
......................................
pra sessão de cinema



*
Joba Tridente – Poema (01.09.2013) e Ilustração (10.11.2013)

sábado, 2 de novembro de 2013

Joba Tridente: vela


vela

dia de todos os mortos
uma vela ao sereno
no caminho dos vivos
..................................
uma vela serena
o caminho dos vivos


(*)
Joba Tridente: poema (2000) e ilustração (2013)

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