terça-feira, 30 de novembro de 2021

Flávio Viegas Amoreira: Parque Augusta ou Poema para Solo de Sax


PARQUE AUGUSTA

ou POEMA PARA SOLO DE SAX

Flávio Viegas Amoreira 

O escritor santista Flávio Viegas Amoreira é um dos mais ativos autores paulistas e agitadores intelectuais da Novíssima Literatura Brasileira. Entre as suas temáticas recorrentes estão a cidade de São Paulo, a megalópole do novo milênio, e o sentimento atlântico do mundo, o mar como elemento primordial. O belo e envolvente Parque Augusta ou Poema para Solo de Sax é um poema inédito, dedicado ao mais novo parque de Sampa, que simboliza resistência. Ilustrações de Joba Tridente/2021.

 


Parque Augusta ou Poema para Solo de Sax

Flávio Viegas Amoreira

 

´ talvez um parque

talvez do vento um pretexto

da folha que ecoa

todo tronco do mundo

do ventre o húmus

ainda que em meio do cinza

a mancha

e resoluto

o absoluto dum beijo

procura sua pureza

de eras refeitas

de um bosque nesga relevo

talvez o verde que não fere o sentido mas destoa

toda angustia abduzida

além dos ninhos

nimbos

nebulosas

talvez a queda de todos muros

desta orgia de seivas entre células forasteiras

onde as preces encontram os suspiros

por arbustos velozes na mimese de clorofila

entre a semente oculta de outro coito

incomum múltiplo feroz de todo anseio

numa tarde de primavera

no lance de dados da tua presença

cortando o asfalto

e brota

e rima

entre anjos

e sátiros

acaso de fóton ocluso

no curso de ruas

indestinos

onde andarão os outros percursos?

trajetos de protestos mudos

manifestos

trechos insuspeitos

de descaminhos

porque talvez

no zênite distraído

singelo pranto

talvez augusto ramo

de paz e sonho

nessa árvore de frondosos sonhos

algum pesadelo desfeito

rizoma de paz

rente

prenhe

talvez um parque

mais que parque

porque a luta

aqui perpetuada em tronco

episteme

da louca urbe

porque não medra a rima

alucina exulta

além do verbo ´

 

FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA é escritor (de verso e prosa), dramaturgo, crítico literário e de cinema e jornalista. Nascido em Santos, em 1965, atua como agitador cultural em São Paulo, Rio de Janeiro e Litoral Paulista, em projetos de discussão de temas ligados a artes de vanguarda, saraus poéticos e oficinas de criação literária. Já lançou 14 livros entre eles: Maralto (poesia, 2002,); A Biblioteca Submergida (poesia, 2003); Contogramas (contos, 2004); Escorbuto, Cantos da Costa (poesia, 2005); Edoardo, o Ele de Nós (romance, 2007) - todos editados pela prestigiada 7 Letras Editora, do Rio de Janeiro, além de Oceano Cais, pelo selo Dulcinéia Catadora, de São Paulo, Desaforismos, pelo selo Edições Caiçaras, Pessoa doutra margem, pela Imaginário Coletivo. Participou de diversas antologias brasileiras e internacionais de poesia e conto, como a Geração Zero Zero, que reuniu os mais inquietos e inovadores autores lançados na primeira década do século XXI, organizada pelo crítico literário Nelson de Oliveira e editada pela Língua Geral, em 2001, marcando um encontro de escritores brasileiros destacados por sua forma ousada e temáticas cosmopolitas.  Em 2019 lançou  o livro Walt Whitman, meu brother,  pela Editora Imaginário Coletivo e, em 2020, Gilberto Mendes - Notas Biográficas, seu mais recente livro, que traz a biografia do compositor e maestro santista Gilberto Mendes, seu parceiro estético em adaptações de poemas para canto coral e sinfonias.

Flávio é colaborador do jornal A Tribuna, faz vinte anos. Tem centenas de textos digitalizados e colaboração em portais literários e sites como os importantes espaços da web: Ruído Manifesto: Quatro contos e um fragmento de romance de Flávio Viegas Amoreira; Musa Rara: Sampoema; Germina - Revista de Literatura e Arte: Flávio Viegas Amoreira; Blognroll: Flávio Viegas Amoreira; Mallarmargens: Flávio Viegas Amoreira; Revista Piparote: Oscar Wilde - com Amor, por Flávio Viegas Amoreira; Revista Piparote: Morte em Veneza: um tratado estético de Luchino Visconti - Por Flávio Viegas Amoreira; Pausa - Revista de Arte: As Palavras de Flávio Viegas Amoreira; Leva Um Casaquinho: Face Poemas: Flávio Viegas Amoreira; Revista Confraria:  Irene Ramalho Santos e o atlantismo redentor; Baixada de Fato: “Um Dia Cultivado” Por Flávio Viegas Amoreira; Entretextos: Flávio AMoreira, o poeta sem margem.

Saiba mais: youtube: Provocações: Flávio Viegas Amoreira (TV Cultura-SP, 2009);   Videocast com Flávio Viegas Amoreira / Portal Cronopios TV Cronopios (2015); Flávio Viegas Amoreira (Programa Memória-História Oral, da Fundação Arquivo e Memória de Santos. 2016); Entrevista Flávio Viegas Amoreira (2020) e/ou: www.cronopios.com.br; www.meiotom.art.br.



terça-feira, 2 de novembro de 2021

Joba Tridente: rito e vela

 

r i t o  e  v e l a

de joba tridente

..., cemitérios são cidadelas que me fascinam pelos restos de identidades e pó. ..., em toda a vida, é a morte que aguça a minha curiosidade. ..., gosto de ritos, de rituais praticados com a alma, de se ver e não esquecer. ..., rito, o quase hai-kai, é uma homenagem à minha mãe, que já se foi no tempo. ..., vela, o quase tanka, é uma lembrança aos que ficam um pouco mais. 

 


r   i   t   o

joba tridente

 

branca dor

quase assim

a morte

 

*

 

v   e   l   a

joba tridente

  

dia de todos os mortos

uma vela ao sereno

no caminho dos vivos

...

uma vela serena

o caminho dos vivos

 

 (*)

ilustração de Joba Tridente. (2018)

 

Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

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