sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Carlos Dala Stella: Poemas V

Conheci o Carlos Dala Stella, na década de 1990, na sede do Jornal Nicolau, aqui em Curitiba. Eu fazia a edição gráfica e ele matérias e também algumas ilustrações. Dala Stella realiza um precioso trabalho plástico. Entre os seus livros está O gato sem nome, de 2007, com apenas 300 exemplares impressos em serigrafia. O volume traz além de reproduções de algumas pinturas e desenhos, duas fantásticas (e trabalhosas!) obras em recortes. Confira, em cinco postagens, alguns dos seus poemas presentes nesta rara edição.


                             

V

cada poema é um fruto

colhe, caminhante, conforme a fome
sem gula ou sofreguidão
colhe e come, gomo a gomo
saciando com pevides o desejo

mas lembra: a energia encapsulada neles
é ínfima se comparada
à usina de energia que move
todos os dias todos os eus da natureza


*
     

Arte em recorte de Carlos Dala Stella
para o poema visual A dor de Eleotério in O Gato Sem Nome
- fac-símile das pp. 52/53



Carlos Dala Stella é conciso: poeta-pintor nascido em 1961 em Santa Felicidade, Curitiba-PR. Autor, entre outros, de O gato sem nome. Quem quiser ir além da concisão é só visitar os seus sites: http://www.dalastella.blogspot.com/   e http://www.geocities.ws/cdalastella/

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Carlos Dala Stella: Poemas IV

Conheci o Carlos Dala Stella, na década de 1990, na sede do Jornal Nicolau, aqui em Curitiba. Eu fazia a edição gráfica e ele matérias e também algumas ilustrações. Dala Stella realiza um precioso trabalho plástico. Entre os seus livros está O gato sem nome, de 2007, com apenas 300 exemplares impressos em serigrafia. O volume traz além de reproduções de algumas pinturas e desenhos, duas fantásticas (e trabalhosas!) obras em recortes. Confira, em cinco postagens, alguns dos seus poemas presentes nesta rara edição.


                 

IV

Três vezes ao dia as gaivotas volteiam
sobre o teto vermelho
da igreja São João, o Evangelista.

Três vezes ao dia elas limpam a calçada
e o pequeno jardim das sobras dos indigentes
e toda sorte de desassistidos.

Três vezes ao dia, travestidas de urubus
as gaivotas esquecem os frutos do mar e mergulham
a brancura das penas na indigência urbana.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014



Carlos Dala Stella é conciso: poeta-pintor nascido em 1961 em Santa Felicidade, Curitiba-PR. Autor, entre outros, de O gato sem nome. Quem quiser ir além da concisão é só visitar os seus sites: http://www.dalastella.blogspot.com/ e http://www.geocities.ws/cdalastella/

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Carlos Dala Stella: Poemas III

Conheci o Carlos Dala Stella, na década de 1990, na sede do Jornal Nicolau, aqui em Curitiba. Eu fazia a edição gráfica e ele matérias e também algumas ilustrações. Dala Stella realiza um precioso trabalho plástico. Entre os seus livros está O gato sem nome, de 2007, com apenas 300 exemplares impressos em serigrafia. O volume traz além de reproduções de algumas pinturas e desenhos, duas fantásticas (e trabalhosas!) obras em recortes. Confira, em cinco postagens, alguns dos seus poemas presentes nesta rara edição.



III

toda vez que uma cigarra
canta, morro de inveja

de seu serrilhado seco
escandindo em lâminas o tempo

do sol agudo de seus dentes
iluminando o cérebro

do diamante em linha reta
perfurando os tímpanos

toda vez que canta uma cigarra
levo um susto de aço

e custo a recuperar o coração
no miolo da matéria

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014


Carlos Dala Stella é conciso: poeta-pintor nascido em 1961 em Santa Felicidade, Curitiba-PR. Autor, entre outros, de O gato sem nome. Quem quiser ir além da concisão é só visitar os seus sites: http://www.dalastella.blogspot.com/ e http://www.geocities.ws/cdalastella/

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Carlos Dala Stella: Poemas II

Conheci o Carlos Dala Stella, na década de 1990, na sede do Jornal Nicolau, aqui em Curitiba. Eu fazia a edição gráfica e ele matérias e também algumas ilustrações. Dala Stella realiza um precioso trabalho plástico. Entre os seus livros está O gato sem nome, de 2007, com apenas 300 exemplares impressos em serigrafia. O volume traz além de reproduções de algumas pinturas e desenhos, duas fantásticas (e trabalhosas!) obras em recortes. Confira, em cinco postagens, alguns dos seus poemas presentes nesta rara edição.


                             

II

Três mulheres de Paranavaí
varrem o amarelo, na manhã de domingo.
Com vassouras ancestrais
vão pincelando manchas abstratas
no asfalto deserto, em frente às casas,
até formarem montes odoríficos.

Belo não é o grafite ao sol
o meio-fio a mostra, a calçada limpa
-  de lenhosas vagens e de flores
mas  o amarelo flamboyant
aceso sobre o piche.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014


Carlos Dala Stella é conciso: poeta-pintor nascido em 1961 em Santa Felicidade, Curitiba-PR. Autor, entre outros, de O gato sem nome. Quem quiser ir além da concisão é só visitar os seus sites: http://www.dalastella.blogspot.com/ e http://www.geocities.ws/cdalastella/

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Carlos Dala Stella: Poemas I

Conheci o Carlos Dala Stella, na década de 1990, na sede do Jornal Nicolau, aqui em Curitiba. Eu fazia a edição gráfica e ele matérias e também algumas ilustrações. Dala Stella realiza um precioso trabalho plástico. Entre os seus livros está O gato sem nome, de 2007, com apenas 300 exemplares impressos em serigrafia. O volume traz além de reproduções de algumas pinturas e desenhos, duas fantásticas (e trabalhosas!) obras em recortes. Confira, em cinco postagens, alguns dos seus poemas presentes nesta rara edição.


     

                                                I

no segundo dos sete vasos vazios
enfileirados sobre o banco
a flor de luz de um vaga-lume acende
a intervalos regulares
- onde ainda ontem luzia
o amarelo dos gerânios

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014



Carlos Dala Stella é conciso: poeta-pintor nascido em 1961 em Santa Felicidade, Curitiba-PR. Autor, entre outros, de O gato sem nome. Quem quiser ir além da concisão é só visitar os seus sites: http://www.dalastella.blogspot.com/ e http://www.geocities.ws/cdalastella/

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Joba Tridente: nu princípio

..., nu princípio é um poema antigo, que se perdeu com o último HD. ..., lembrei de fragmentos, nem sei porque. ..., reescrevi, nem sei porque. ..., na verdade sei, mas não importa. ... não tenho certeza se era assim. ..., agora é.


                  

nu princípio - II
Joba Tridente

nu princípio
era o verme
e ele continuou em nós

nu princípio
era o verbo
e ele conjugou sem nós

nu princípio
era o verso
e ele coisificou por nós

nu princípio
era o nada
nu fim


*

Joba Tridente: poesia e ilustração - 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Joba Tridente: Colher

COLHER é um poema em desenvolvimento. Trata de menores delinquentes, que conheci quando orientava Oficinas Culturais em Abrigos (Orfanato, Quartel, Semiliberdade) para adolescentes em situação de risco, e de jovens adultos, que conheci outrora e que desapareceram nos porões do (des)governo..., por ousarem pensar por conta própria.



Colher (fragmentos I e IV)
Joba Tridente

I
aprendeu a ler
com sopa de letrinhas

aprendeu a lei
com sopa de porradinhas

a mesma colher
lhe serviu de guia

menor enchia-lhe
a boca de palavrinhas

maior enchia-lhe
a cela de palavrões 


IV
aziar o corpo aziar a alma aziar a cartilha aziar a lembrança da sopa no prato na mesa
no pão raspando a última letra

*
Joba Tridente - poesia e ilustração - 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Torquato Neto: Bilhetinho Sem Maiores Consequências

Ontem, 9 de 11 de 2014, Torquato Neto faria 70 anos. Hoje, 10 de 11 de 2014, faz 42 anos que Torquato Neto se foi conta própria. A data não é redonda, mas a geleia continua aguda. Alguns a engolem agridoce. Outros a rejeitam azeda. O verso só tem sabor para quem sabe absorver a palavra crua e absolver a cozida. São demais os poemas dessa vida que poderia postar para homenagear Torquato Neto. Preferi o Bilhetinho Sem Maiores Consequências, pela ironia. Ou seria pela ressaca eleitoral?


                                

Bilhetinho Sem Maiores Consequências
Torquato Neto - Rio 7.7.62

Uma retificação, meu bom Vinícius:
Você falou em "bares repletos de homens vazios"
e no entanto se esqueceu
de que há bares
lares
teatros, oficinas
aviões, chiqueiros
e sentinas,
cheinhos (ao contrário)
de homens cheios
Homens cheios.
(e você bem sabe)
entulhados da primeira à última geração
da imoralidade desta vida
das cotidianas encruzilhadas e decepções
da patente inconsequência disso tudo.
Você se esqueceu
Vinícius, meu bom,
dos bares que estão repletos de homens cheios
da maldade das coisas e dos fatos,
dos bares que estão cheios de homens cheios
da maldade insaciável
dos que fazem as coisas
e organizam os fatos
E você
que os conhece tão de perto
Vinícius "Felicidade" de Moraes
não tinha o direito de esquecer
essa parcela imensa de homens tristes,
condenados candidatos naturais
a títulos de tão alta racionalidade
a deboches de tão falsa humanidade.

Com uma admiração "deste tamanho".

*
Ilustração de Joba Tridente – 2014


Torquato Pereira de Araújo Neto (1944 - 1972): escritor, jornalista, letrista (de pérolas gravadas por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Elis Regina), ator, cineasta, ebulidor da contracultura brasileira: "Assumir completamente tudo que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido" (in Tropicalismo para principiantes). O polêmico Torquato viveu um Brasil criativo, repressivo e depreciativo. Da carta que escreveu a Oiticica, em 1971, pincelei quatro desabafos: O chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais tem opinião sobre coisa alguma. (...) eu chamo de conformismo geral (...) poesia sem poesia (...) a paranoia, com perdão da palavra, grassa nos altos círculos. Torquato Neto, esse desconhecido que primeiro festejou o aniversário e depois se mandou: Pra mim chega!

Para saber mais (há farto material na web), sugiro começar com a biografia de Torquato Neto no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

domingo, 9 de novembro de 2014

Cecília Meireles: Vento

O livro Viagem, de Cecília Meireles, publicado pelas Edições Oriente, em 1939, através da Editorial Império - Lisboa, reunindo poesias de 1929 a 1937, possivelmente é a obra mais absurdamente amarga da escritora. A tristeza é tão grande que não permite uma leitura direta. Há que se dar um tempo de poema a poema. VENTO é uma bela raridade neste mar de lágrimas. Cecília Meireles morreu no dia 9 de Novembro de 1964.


                   

VENTO
Cecília Meireles

PASSARAM os ventos de Agosto, levando tudo.
As árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão.
Voaram telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas:
os ninhos que os homens não viram nos galhos,
e uma esperança que ninguém viu, num coração.

Passaram os ventos de Agosto, terríveis, por dentro da noite.
Em todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel.
Mas, sobre a paisagem cansada da aventura excessiva —
sem forma e sem eco,
o sol encontrou as crianças procurando outra vez o vento
para soltarem papagaios de papel.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2014



Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964). Escritora, professora e jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro, o seu primeiro livro de poesia. Cecília Meireles é autora de uma vasta obra onde se destacam: Criança, meu amor (1923), Nunca Mais (1923), Poema dos Poemas (1923). Batuque, Samba e Macumba (1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga Música (1942), Problemas de Literatura Infantil (1950), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963), Poemas de Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964).

domingo, 2 de novembro de 2014

Pierre Jean de Béranger: O Caçador e a Leiteira

Ah, a arte da sedução e o poder da persuasão! Será que toda perseverança leva ao triunfo? O quê os olhos veem o sexo consente? Confira neste malicioso e divertido poema O Caçador e a Leiteira, de Pierre Jean de Béranger, em tradução de Trajano Galvão, publicado no livro Sertanejas (1898). Atualizei apenas a grafia de algumas palavras.


                             

O Caçador e a Leiteira
Pierre Jean de Béranger

Com doces cantos a calhandra alegra
Do almo dia o vermelho despontar;
O amante caçador segue, oh! leiteira,
Meigas falas de amor hás de escutar;
Da primavera as orvalhadas flores
Vamos, oh! bela, para ti colher.
- Não, caçador, de minha mãe hei medo,
E o meu tempo não posso aqui perder.

Tua mãe por detrás d'aquele oiteiro
Co'a mimosa ovelhinha longe está.
Olha, aprende, oh! leiteira, esta modinha,
Tão bonita na Corte outra não há;
A moça, que lograr saber cantá-la,
Os mais volúveis poderá prender.
- Também sei, caçador, modinhas ternas,
E o meu tempo não posso aqui perder.

Porque o possas contar, o triste caso
Aprende de um barão mui furibundo,
Que de cioso arrasta a pobre esposa,
Viva e bem viva, para o outro mundo;
Historia que, narrada em noite escura,
Faz quem ouve de medo estremecer.
- Também sei, caçador, contos mui tristes,
E o meu tempo não posso aqui perder.

Quero ensinar-te uma oração mui santa
Com que aplaques o lobo esfomeado,
Com que possas zombar das feiticeiras,
Livrar-te de quebranto, ou mau olhado.
Bem pode alguma velha malfazeja
Vis malefícios contra ti fazer.
- Não tenho, oh! caçador, o meu rosário?...
E o meu tempo não posso aqui perder.

Pois bem, vês esta cruz?... como é brilhante,
Cravada de rubins de grão valor!...
Da moça que ela ornar, ao lindo seio
Os olhos chamará... cegos de amor.
Será tua, apesar do alto preço;
Mas, vê lá... o que em troca hei de querer!...
- Sou vossa, caçador, quanto é formosa!...
E o meu tempo não posso mais perder!


*
Ilustração de Joba Tridente - 2014


Pierre Jean de Béranger (1780 – 1857): poeta, libretista, cancioneiro..., autor de canções emblemáticas no período da Revolução Francesa e que ainda despertam interesse (em 2005 o músico Jean-Louis Murat, lançou o álbum 1829, com algumas delas). Béranger foi tão popular quanto Victor Hugo e Alphonse de Lamartine. Publicou a primeira coletânea lírica, Chansons morales et autres (Canções morais e outras), em 1815. Chansons nouvelles et dernières (Canções novas e últimas), dedicada a Lucien Bonaparte, saiu em 1833. Além de inúmeras canções, escreveu sua Biographie e uma coleção de epístolas: Correspondance. Fonte Wikipédia: Pierre Jean de Béranger.

Trajano Galvão de Carvalho (1830 - 1864), escritor maranhense, tradutor, abolicionista, precursor da poesia afro-brasileira. A maior parte do pouco que produziu, a seu pedido, teria sido destruída pela sua esposa. Em Julho de 2013 postei o seu poema O Brasil, que se encontra recolhido em Sertanejas (1898), Edição da Imprensa Americana, do Rio de Janeiro. 
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