sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Joba Tridente: a média da mídia

 


..., a literatura que pratico nasce num instante. num período. numa situação. na intenção e precisão catártica do verso dando rumo à fala. sem regra reinterpreto a métrica. fala no canto teatral da fala. repercussão do verbo num colóquio de eus coringas. no grito berro incômodos. o humor e a paixão variam conforme as estações... 

..., o poema a média da mídia escrevi em 30.09.2019. a cada dia me parece mais pertinente. tomado que o mundo está por idiotas de toda ordem ideológica. por negacionistas surfando em ondas planas numa Terra que roda feito bambolê no espaço sideral. em tempo de abreviações não temo a prolixidade. hoje 2021 acaba. amanhã 2022 começa. há que se cuidar com o quê há de vir de jabutis em meio às “pandemias”. ilustração: foto e montagem de Joba Tridente. 


                      


a média da mídia

joba.tridente

 

I

tudo anda tão continental

que a gente não sabe mais se

a MENTIRA É VERDADEIRA

e ou se

a VERDADE É MENTIROSA!

 

II

(!)

não se sabe

quando a verdade é mentira

quando a mentira é verdade

quando a verdade é verdade

quando a mentira é mentira

(?)

 

III

nem toda mentira

               é verdade

nem toda verdade

               é mentira

               se...,

     conforme pende

     a fonte varia

     conforme pende

     o jornalista avaria

     conforme pende

     quem publica desvaria

 ou

 conforme pende a fonte

 ..., varia

 conforme pende o jornalista

 ..., avaria

 conforme pende quem publica

 ..., desvaria

ou

conforme a fonte

pende e varia

conforme o jornalista

pende e avaria

conforme quem publica

pende e desvaria

 

: em tempos obtusos

nem toda mentira é mentira

nem toda verdade é verdade

                             ...,

: cada mídia com seu preço
: cada notícia com seu arrefeço
: cada leitor com seu apreço


 

Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, Humanidades, entre outros.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Joba Tridente: 4 Poemas Natalinos


cada um tem a sua própria noção e/ou visão do natal. para uns, é uma data cristã. para outros, é uma data comercial. os 4 Poemas Natalinos que publico aqui, no Falas ao Acaso, foram escritos em momentos distintos. concebidos num instante e/ou versificados ao longo de dias ou meses: no tal natal (2020), pretérito (2021), ao gosto natalino (2021), n a t a l (2019-2021). o tempo não conta. o que fica é o registro da reflexão. o registro da indignação social. ilustrações: joba tridente.
 

                  


no  tal  natal

joba tridente

 

I

da minha janela

ano   a ano      a ano         a ano

nosedifíciosquemecercam

janelas desnatalizadas

não mais um pi*ri*lam*pe*jar

aqui!                   acolá!                 ali!          adiante!

não mais um duelo de luzes

azuis*          verdes*          vermelhas*

amarelas*          brancas*          lilases*

 

de janela a janela e prédio a prédio

não mais piscadeiras noite adentro

nos pinheirinhos artificiais

nos cantos habituais das salas e sacadas

com seus enfeites de terras outras

com sua neve de estações outras..., de longe...,

lonnge..., lonnnge..., lonnnnge...,

         que não daqui

ano   a ano      a ano         a ano

desnatalizando sentimentos

 

a primavera cede ao verão

dias loooooooooongos

chuvas loooooooooongas

noites estreladas

..., de ver planetas distantes

..., da lua mudar de cor

..., de ainda ouvir algum sabiá solitário

o silêncio urra sua mágoa

em tempo de pandemia viral

a solidão das janelas é maior

a dor não tem luminescência

o deus menino é natimorto

 

II

: uma criança de ontem

  monta seu Matinho de Natal

  com laminado de maço de cigarros

          as florezinhas amareladas

          as pequenas bolotas prateadas

           os fiapos coloridos do celofane

       das cestas de Natal

 caixinhas e pedrinhas embrulhadas

                     com papel de bala de fruta

                     com páginas coloridas de revistas

 ..., dão cor à fantasia infantil

      gravetos são gentes e animais

      ao pé do Matinho de Natal

      ali rente à cerca

      no caminho de formigas

      e de minhocas e de tatuzinhos bola

      talvez uma borboleta pouse de ponteira

      talvez os vaga-lumes pousem de pisca-pisca

 

: amanhã a brincadeira será outra

  catar pedras entre as vigas da linha do trem

  e montar o presépio

                       sobre a estante azul

                                            do rádio

                       bem ali na passagem da sala

                                              para o corredor

   bem ali sobre a estante azul

   forrada com papel imitando pedra

  o presépio

           a gruta de pedras

                            com seus personagens de louça lascada

   e uma pequena árvore de natal

   coberta de bolas coloridas e pisca-pisca

   sobre um chão de terra

                     com laguinho de espelho

   caminho de pastores e de animais

                     entre a plantação de arroz

                                 que cresce dia a dia

  até ser jogada fora

               ..., no Dia de Santos Reis

III

duas janelas

um olhar que dilui no passado

um olhar que não compõe o presente

em tempos de pandemia

há uma piscadela no fim do túnel

as janelas estão abertas

jt.16.12.2020

 















pretérito

joba tridente

 

à noite

em meio ao grito desesperado das sirenes

das ambulâncias recheadas de infectados

que cruzam com motoqueiros imbecilizados

e motoristas sem rumo e ciclistas sem rumo

..., in delivery covid

pisca que pisca

nas janelas que avizinham

à minha frente e ao meu lado

o pisca-pisca nas árvores natalinas

                         vestidas à toa para um natal

               paralisado no calendário

               da agenda jamais preenchida

ainda montada no canto da sala

com suas bolas coloridas

refletindo o tino dos dias

pestilentos e nefastos

 

piscam que piscam

nas janelas que me avizinham

filigranas da memória natalina

        de um não-ontem

        de um talvez-amanhã

incertas do brilho cadencioso

na ambulância no pinheirinho no camburão

na sirene no sino..., que tilinta pequenino

até o de novo a outra vez da data

a se comemorar os sobreviventes

a se lamentar os mortos

a se abominar os imprudentes

 

à frente e à esquerda de mim

piscam e piscam lamuriosas luzinhas

nos pinheirinhos de ráfia

notívagas conversas luzindo

         nas noites e noites de verão

sonâmbulos balbucios luzindo

         nas noites e noites de outono

 

piscam que piscam entre si

iluminando o silêncio na sala vazia

em colorida balburdia

ali  e     aqui e    ali    e    aqui   e       ali

verde branco vermelho azul amarelo lilás

sinais atravessando a noite

                                     atravessando as paredes

lilás amarelo azul vermelho branco verde

......................................................,

piscam que piscam entre si

talvez a promessa pela cura

do pestilento coronavírus

piscam que piscam entre si

talvez a memória de quem se foi

piscam que piscam entre si

talvez a dor de quem ficou

piscam que piscam entre si

na sua conversa insone

talvez da gana assassina

do genocida da nação

e sua quadrilha descerebrada

.........................................................

piscam que piscam sem se saber

um e outro um do outro

                     além do brilho fátuo

os pisca-piscas em seus pretéritos

                                               natais

jt.14.04.2021

  

 

                 

                     
ao gosto natalino

joba tridente

 

I

agosto ainda pelo meio

pandemia arrefecendo

nas notícias de obituário

entre máscaras e termômetros e álcool-gel

lojas armam-se de árvores de natal

tão cedo e tão crentes

a mirar nos desejos consumidores

 

nos arredores

longe dos piscas-piscas

e enfeites multicoloridos

à sombra das notícias capitais

brasileiros famintos

chafurdam caçambas de lixo

escalam depósitos de rejeitos

antes dos porcos de abate

garimpando pelancas e ossos e restos

escorrendo sangue de esgoto

de quaisquer (outros) animais

descartados pelos açougues

e matadouros vinte e quatro horas

de matança irracional

 

feito zumbis em fuga

protegendo seus salvados

e que refletidos disformes

nas bolas brilhantes da árvore de artifício

coberta de flocos de neve de algodão

não se reconhecem humanos

não se reconhecem filhos da mesma mãe gentil

protetora de políticos e assemelhados

 

II

chuva e frio nos dias de primavera-invernal

que adentram setembro e outubro

e novembram sextas-feiras negras

nas semanas torpes de velhos enfeites

do ano passado do passado ano

de antes da pandemia que da China

de outra crença chegaram nas cores

e nos brilhos da ideia coca-cola natalina

de papais e mamães e filhos Noel

ao redor de renas e de mulas e presépios

que no lusco-fusco enternece o mendigo

que sem teto e sem panetone

reza ao brinquedo que dança e dança

e o saúda e o abençoa em ho! ho! ho!

em frente à loja de quinquilharias

por um prato de comida

e um emprego depois

antes que a droga lhe dê mais

uma rasteira no crack e no álcool

 

um anjo voa capenga na ponta

de um verde galho da árvore

disfarçada de pinheiro americano

enquanto luzes piscam e piscam

no mesmo tom da canção de Assis Valente

a lembrar que nem todo mundo

é filho do tal Papai Noel

ou tem pai ou tem mãe ou tem deus

 

- tio*tia*senhor*senhora*

  me**um*troco*

  cinquenta*centavo*um*real*cinco*real*

  pra*comida*pra*bebida*pro*crack*

- tó*não*tenho*procura*assistência*social*

......................................................................,

o deus*te*abençoe* soa como praga

da frase que enfeita a mendicância

escoaaaaaaannnnnnndooo atrás

do bon*do*so*blém*blim*blom*

escoaaaaaaannnnnnndooo atrás

do mal*do*so*blim*blom*blém*

no badalo vivo da graça

no badalo seco do aflito

..., céu e inferno na porta

      da loja de bugigangas

jt.14/11/2021 

                                            

                                               
                              

                                            • n a t a l

joba tridente

 

01

: há alguns anos

             não mais

p*e*r*i*l*a*m*p*e*j*a*m

             em casas

             em apartamentos

             em redor

luzetas coloridas

prenunciando árvores de natal

nevadas de algodão

..., e de melancolia

 

na memória

piscam e piscam

coloridas lembranças

                  infantis

de quando o natal

era coisa de dezembro

assim como a manga

que vai perdendo o sabor

              durante o ano

                                 inteiro

 

02

na ânsia capital

                do presente

o natal que começa

entre abóboras e caldeirões

                            na confusão

das bruxas de outubro

invocadas em setembro

vira-rá-rá e vira-lá-lá guirlanda-dá-dá

         no grito de carnaval

         no distraído janeiro

                           ..., de reis

jt.2019/2021

 

Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, Humanidades, entre outros.


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