sábado, 24 de março de 2012

Joba Tridente: Narciso



Ser
perder se
desencontrar se
desituar se
anular se
Des

Joba Tridente.18.08.2009
Foto: Narcissus - Norman McLaren (1983)

terça-feira, 20 de março de 2012

Oscar Wilde: Três Aforismos sobre a Literatura


Três Aforismos de Oscar Wilde sobre a Literatura

um - É uma triste verdade: nós perdemos a capacidade de darmos nomes suaves às coisas. Os nomes são tudo. Eu nunca me queixo das coisas, queixo-me das palavras. É por esse motivo que odeio o vulgar naturalismo na literatura. O homem que chama de enxada uma enxada deveria ser forçado a usá-la. É a única coisa que sabe fazer.

dois - O poeta realmente grande é o que pode haver de menos poético. Os poetas menores, no entanto, são realmente fascinantes. Pior eles rimam, mais são pitorescos. O mero fato de ter publicado um livro de sonetos sofríveis torna uma homem irresistível. Ele vive a poesia que não sabe escrever. Os grandes poetas escrevem a poesia que não sabem concretizar.

três - A instrução é uma coisa muito bonita, mas vale lembrar, de vez em quando, que nada daquilo que realmente interessa pode ser ensinado.


Oscar Wilde (16/10/1854 - 30/11/1900), mestre do sarcasmo inglês: A única pessoa no mundo que gostaria de conhecer profundamente sou eu mesmo, mas por enquanto não vejo a menor possibilidade de isso acontecer.

Estes Aforismos têm como base, entre outras fontes, o livro Oscar Wilde - Aforismos, com tradução de Mario Fondelli para Clássicos Econômicos Newton.

ilustração  de Joba Tridente sobre ding OF

quarta-feira, 14 de março de 2012

Joba Tridente: Recuerdos II


Recuerdos II

a Paulo Kronemberger

habitou a minha cabeça
alguns dias
uma serpente

minha cabeça estava vazia
a serpente veio
trouxe muitas imagens
entre elas a de mim
morto

no deserto vivia um escaravelho
que também queria habitar a minha cabeça
mas temia a serpente

ao escaravelho
perguntei porque a serpente habitava
a cabeça de um SER TODO DE NADA
e ele me respondeu que era porque
a serpente era o NADA DE TODO SER

um dia a serpente foi embora
e levou todas as imagens

um dia o escaravelho foi embora
e levou todas as imagens

fiquei apenas eu
vago num deserto infinito

Joba Tridente: 10.06.1976
do livro Exidílio: os fragmentos de quatro estações e considerações finais
foto e montagem de Joba Tridente

segunda-feira, 12 de março de 2012

Helena Kolody - 100 Anos - 3



Muito religiosa, de não perder a missa e nem a comunhão do domingo: Deus é uma luz que está a iluminar a Humanidade inteira..., é quando se apega à fé que Helena Kolody se apequena humilde diante do Divino. Seus versos confessos tornam-se tristes e de uma candura arrebatadora. Como em Prece (1941) que, conforme declarou (em Sinfonia da Vida, 1997): Esse poema recebeu um “imprimatur” da Igreja e é lido como se fosse uma oração. Salvou uma linda jovem, porém depressiva, do suicídio. Antes do gesto trágico, resolveu ler o livro que eu lhe dera de presente. Abriu-o aleatoriamente, leu “Prece”, jogou o veneno fora e ganhou a vida. Veja só, eu tenho vários poemas depressivos, e se ela abrisse num deles? Depois disso, mudei minha própria maneira de ser. Meus últimos poemas se tornaram mais extrovertidos, abertos, mais otimistas. Devo isso àquela moça.

Prece (1941)

Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas,
Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d’alma alheia o espinho que magoa.


Cheguei a Curitiba em 1990. Um dia, na redação do Nicolau, conheci Jamil Snege (1939 - 2003). Outro dia conheci um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, editado em 1989. Ele é composto de 22 breves monólogos. A sua catarse sacra. Ao lembrar a Prece de Kolody, lembrei do texto 20 de Snege:

Toma a máquina do meu
corpo e nela
transporta socorro para
os teus aflitos.
É de pouca serventia,
sei – o coração me
arde, meus músculos
estão fracos – mas podes
usá-la à exaustão.
E quando não mais prestar,
Senhor, escolhe uma
Tíbia e faze uma flauta.

Foto de Joba Tridente: Cúpula da Igreja Ucraniana em Antonio Olinto-PR

domingo, 11 de março de 2012

Joba Tridente: Dia, logo dois meninos ali



Índigo:
robôs não ficaram
velhos por parecerem velhos
robôs ficaram
velhos por serem velhos

Lúdico:
dizem que o mundo
dá muitas voltas
não sei por que
por mim pode
ir direto ao assunto

conto de Joba Tridente.2001
ilustração: Robô JTMC-01 criação e foto de Joba Tridente

quinta-feira, 8 de março de 2012

Efigênia Ramos Rolim: O que é ser Poeta?



O que é ser Poeta?

O que é ser Poeta?
Ser Poeta não é falar de poesia
Ser Poeta é viver com alegria
Ser Poeta não é chamar a atenção
Ser Poeta é ter amor no coração
Ser Poeta não é fazer caridade
Ser Poeta é viver com simplicidade
Ser Poeta não é ser reconhecida
Ser Poeta é ter amor pela vida
Ser Poeta não é ter dinheiro
Ser Poeta é ser livre do cativeiro
Ser Poeta não é rezar tanto
Ser Poeta é viver a vida de um santo
Ser Poeta não precisa de pão
Ser Poeta é viver em comunhão
Ser Poeta não é saber escalar
Ser Poeta é ter força para no alto chegar
Ser Poeta não precisa nada saber
Ser Poeta é sempre lutar e vencer
Ser Poeta é saber levar a cruz
Ser Poeta é vencer com Jesus
Ser Poeta é quando a morte chegar
Ser Poeta é morrer e descansar
Ser Poeta não é viver entre glória
Ser Poeta é ter sempre na memória
Ser Poeta em todos os caminhos da vida
Ser Poeta é uma vitória vencida
Ser Poeta é viver em Curitiba
Ser Poeta e uma cidade colorida

Efigênia Ramos Rolim é artista plástica: Rainha do Papel, poeta, contadora de histórias. Nasceu em Minas Gerais e vive em Curitiba desde a década de 1970. Este poema é do livro O que é ser Poeta?, publicado pela Feira do Poeta de Curitiba, em 1998.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Hilda Hilst: Poemas aos Homens de nosso tempo - I









Poemas aos Homens de nosso tempo - I
homenagem a Alexander Solzhenitsyn

Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engolido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engolidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDÉIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDÉIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco

Aos vossos olhos possa parecer.

Hilda Hilst (1930 - 2004): Deus pode ser uma negra noite escura, mas também um flambante sorvete de cerejas. Hilda é uma escritora que ainda desperta calorosas discussões. Uma mítica autora ainda não (totalmente) decifrada. Este poema e foto (não espelhada) foram postados no Portal Cultural Hilda Hilst - O Vermelho da Vida, criado pelo Instituto Hilda Hilst - Centro de Estudos Casa do Sol.

terça-feira, 6 de março de 2012

Poesia Rap: Símbolo



Símbolo (Mulheres Pretas ou Brancas)
(Carla Cristine e Rose Mari)

Ah, símbolo de força e beleza!
Mulheres que lutam
com toda a certeza são deusas
que têm o seu grande valor.
Por isso não julgue sua raça,
sua crença, a sua cor.
Trabalham muito, trabalham por querer,
às vezes trabalham pra sobreviver.
Mulheres vulgares, algo sensual,
algo mais, é assim que alguns dizem,
mas não nos deixam em paz.
Então respeite a mulher pelo que ela é.
Essas guerreiras de força,
de força, garra e fé.
Não critique essas guerreiras,
pois eu não aceito.
Deixe o orgulho de lado,
pare com esse preconceito.
Não pense que digo isso
só porque sou mulher,
sou mulher e me orgulho,
estou pro que der e vier.
Instinto selvagem, animal,
que te enlouquece a cada dia
com um toque sutil e sensual.
Mulheres, ah, pretas ou brancas
são mulheres de garra,
de força e esperança.
Mulheres, pretas ou brancas.
Você, você que não acredita
no que agora digo, preste atenção
e verá que não estou mentindo.
Veja sua mãe e olhe do que ela é capaz
ela está sempre a seu lado para te ajudar.
Mulheres, mulheres não são só para o prazer,
querido, tome cuidado, pois temos muito poder.
São elas que com muita força de vontade
encaram essa vida e também essa realidade.
Coloque a mão na cabeça e pare pra pensar
você não tem esse direito de olhar e julgar
erga essa cabeça e bote para funcionar
porque mulheres, como nós, também sabem lutar.
Força, humildade, coragem e fé
são essas as armas pra vencer e ficar de pé.
Não pense que digo isso só porque sou mulher
Sou mulher e me orgulho, estou pro que der e vier,
pro que der e vier.
Digo isso a você, a você que discrimina
e que não tem o que fazer.
(com uma voz de homem junto):
Mulheres, vocês são meus amores.
Vocês, ideia de rua, conhecem nossos valores
Mulheres, ah, pretas ou brancas,
são mulheres de garra, de força e esperança.
Mulheres ...pretas ou brancas.

Esta é a letra de Símbolo (mulheres), rap composto por Carla Cristine Gomes Xavier e Rose Mari Rodrigues dos Santos, duas garotas gaúchas que enfrentaram o machismo dos rappers e conseguiram se impor no Movimento Hip-Hop de Porto Alegre com o seu grupo ZhaMMp!. Ela faz parte da pesquisa desenvolvida por Mirian Gusmão, para a sua tese de doutorado em Letras: Teoria da Literatura, e está presente no excelente livro A Poética dos Esquecidos, onde a poesia é tratada sem discriminação social, erudita ou popular.

Entre 1993 e 1998, Miriam viajou por todo o Rio Grande do Sul, ouvindo imigrantes italianos, alemães, e negros, pessoas que testemunharam antigas atividades braçais e recordaram antigas canções da lavoura. O livro, acompanhado de um CD com o registro musical e poético destes encontros, foi publicado pela Editora Imprensa Livre, em 2000.

ilustração: Arte Postal criada por Débora, durante a Oficina de Arte Postal que orientei no Projeto Formando Cidadã (2004), em Curitiba.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Poesia Aleatória: Mulheres - 3



Karen Pacheco
(Jaguariaíva-PR)

Cheiro de buquê de flores
É chuva de um
Primeiro amor

Esta poesia de Karen Pacheco foi criada durante a InterAtividade Poesia Aleatória no itinerante Projeto Comboio Cultural (2000/2001), da SEEC-PR que rodou todo o Paraná e também esteve no Ibirapuera, em São Paulo, e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

ilustração de Joba Tridente.2012

domingo, 4 de março de 2012

Poesia Aleatória: Mulheres - 2



M. A. Silva
(Curitiba – PR)

o primeiro beijo
como um arco-íris
na tarde

Esta poesia de M. A. Silva foi criada durante a InterAtividade Poesia Aleatória no itinerante Projeto Comboio Cultural (2000/2001), da SEEC-PR que rodou todo o Paraná e também esteve no Ibirapuera, em São Paulo, e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.


Ana Paula dos Santos
(São Pedro do Iguaçu-PR)

o primeiro arco-íris
como um beijo
na tarde

Esta releitura de Ana Paula dos Santos sobre o poema de M. A. Silva foi criado durante a InterAtividade Poesia Aleatória no itinerante Projeto Comboio Cultural (2000/2001), da SEEC-PR que rodou todo o Paraná e também esteve no Ibirapuera, em São Paulo, e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

ilustração de Joba Tridente.2012



sábado, 3 de março de 2012

Poesia Aleatória: Mulheres - 1



Gizele Cristina Carneiro

 1
homens são
tramas e invenções
violência e paixão
irritação
açúcar
sedução
orgasmo

você quer sempre o melhor
use e descubra

2
você
vai ficar
para sempre
na rua
no jogo
na pele
na boca
na alma
na vida
com efeito arco-íris

3
eu danço
na chuva
pra cortar caminho


Estas poesias de Gizele Cristina Carneiro foram criadas durante a InterAtividade Poesia Aleatória no itinerante Projeto Comboio Cultural (2000/2001), da SEEC-PR que rodou todo o Paraná e também esteve no Ibirapuera, em São Paulo, e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

arte sobre Ding WM-The50s: Joba Tridente

sexta-feira, 2 de março de 2012

Safo: Sobre uma virgem











SAFO
Sobre uma virgem

Semelhante à maçã saborosa
toda vermelha no mais alto galho
rorejada de orvalho,
gloriosa;

Não que os colhedores de maçãs a tivessem esquecido,
Ela era inatingível.

Tradução de Jamil Almansur Haddad (1914 - 1988). Safo Lírica - Edições Cultura. 1942.
ilustração: Arte-postal (1980/2012) de Joba Tridente 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Safo: Beleza e Bondade








SAFO
Beleza e Bondade

Quando ávida contemplo a formosura,
Tão breve é meu prazer que foge co'ela;
Mas bondade e lisura,
Mas a inocência, oh! essa é sempre bela.

tradução de Almeida Garrett (1799 - 1854)
foto (2010) de Joba Tridente

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