terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Joba Tridente: o cadelo da barbárie


..., a literatura que pratico é fruto de um instante. de um período. de uma situação. teclo na intenção e precisão catártica do verso dando rumo à fala no tablado. falo no canto teatral da fala. repercuto o verbo num colóquio de eus coringas. no grito berro incômodos. o humor e a paixão variam conforme as estações. sem regra reinterpreto a métrica. em tempo de abreviações não temo a prolixidade. 

..., o poema (em prosa?) o cadelo da barbárie frutou e amadureceu nos últimos anos. seus tons desvelam a pertinência dos dias cruéis no Brasil e no mundo, tomados por idiotas, oportunistas e extremistas de toda ordem (política, religiosa, social) ideológica. 2022 será um ano ambíguo. no horizonte cada vez mais horizonte apenas a cerração. não. ainda não sinto no ar o cheiro doce do orvalho de um novo amanhã. ilustração: fotos e montagem de Joba Tridente. 


                     

o cadelo da barbárie

joba tridente 

...............1 

: quanto mais descrédito

                mais crédulo

                ..., o cidadão

que lambe o chão

que lambe o pelo

que lambe a sola

do sapato do cadelo

..., que assombra

             com a barbárie

quem recolhe o rabo 


...............2

: quanto mais decrépito

                mais débil o caotizador

na oferenda das suas tetas caralhas

                       às bocas famintas das hienas

                       centradas no curral da esfoliação

                                                            sociopolítica

                       acarinhando suas pelotas

                                                ..., pútridas 


...............3 

: quanto mais demente

                o cão-tinhoso

                mais devotos os esfoliados

                que se deleitam

com a enrabação dizimal

e saboreiam o leite acre derramado

e dão graças evangelicais

ao cadelo canalha que rouba

o que lhes resta de cidadania

..., se é que resta algo nas carcaças

                                                 ocas 

                                 de energúmenos 


...............4 

: quanto mais ausente

                          às necessidades cidadãs

mais enojante a fala do cadelo

                                           indecente

extasiado com as firulas do poder

que oferece suas hemorróidas

                                 pestilentas

aos pupilos delirantes que lhe mordiscam

                                         o cu da economia

aos pupilos delirantes que lhe bebem

                                         o pus do desenvolvimento

antes de beijarem sua boca fétida

                com um beijo de língua pururuca

selando um casamento de pusilânimes

                  na pátria armada

                          do fuzil 


...............5 

: quanto mais genocida

                o cão matreiro

                mais os galinhos ciscam

           no cercado

                à caça de vermes polpudos

      que pululam sob e sobre

                                                  as cúpulas

                ..., sob o olhar auspicioso do cadelo

                                                                     da corte

                que pastoreia as raposas

                                          que sobem e que descem

                                          a rampa do castelo

em busca da torre do vizinho

                        que é sempre mais rica...

 

 ...............

Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, Humanidades, entre outros.


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