Autorretrato – IX
excerto – III
trago comigo, há anos, a múmia de um cigarra
encontrei morta nas terras de Ilhéus
não sabia que era uma cigarra
tampouco me lembrava que cantava até morrer
sabia apenas do seu mágico canto
que vazou para o infinito estrelado
misturado ao som’baque
do quebrar das ondas nas praias
num indo e vindo contínuo
na querência de eterna mente espelhar a lua
minha cigarra-múmia não canta mais, bem sei
mas trago comigo, pra sempre,
a lembrança do seu canto
quem se banhou com ele, ao menos uma vez,
sabe que é impossível, felizmente, retirá-lo dos poros
retirá-lo das células onde, feito tatuagem, ele se aninha...
ilustração (?)
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