quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Joba Tridente: Cortejo



Este conto originou o curta-metragem Cortejo, que dirigi em parceria com Marcos Stankievicz Saboia, em 2008.

Todo dia chegava com o carro (tipo perua) coberto de flores. Às vezes manhã. Outras à tarde. Raramente à noite. Acreditava ser pra ela. Nunca perguntou de onde. Nunca perguntou por que. Bastavam-lhe o amor e as flores diariamente trocadas. Braçadas de cravos, margaridas, dálias, camélias, lírios, copos-de-leite, antúrios, rosas misturadas aos ramos de cedrinho. Todo dia, ou tarde ou, raramente, noite. Um amor florido. Um carro de amor fazendo inveja. Uma cama coberta de pétalas. Gozo alucinante no meio delas. Sexo perfumado. Vontade de nunca acabar.

Um dia distraído na cidade vizinha. Na rua um cortejo. Enterro e carpideiras. Na frente um carro coberto de flores e no meio delas um caixão. Um carro parecido com o outro. Nas flores o mesmo perfume misturado. Baixou os olhos e o motorista era o amado. Não sabia agente funerário. Nem sabia ser dali. Um aceno dele. Não respondido. Um sorriso dele. Não correspondido. Uma lágrima dela. Não vista.

Ali, a última vez dos dois.

Joba Tridente.25.09.1999
Ilustração e cartaz de JobaTridente 

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