Este conto originou o curta-metragem Cortejo, que dirigi em parceria com Marcos Stankievicz Saboia, em
2008.
Todo dia
chegava com o carro
(tipo perua)
coberto de flores.
Às vezes manhã.
Outras à tarde. Raramente
à noite. Acreditava ser
pra ela.
Nunca perguntou de onde.
Nunca perguntou por
que. Bastavam-lhe o amor
e as flores diariamente trocadas. Braçadas de cravos,
margaridas, dálias,
camélias, lírios,
copos-de-leite, antúrios, rosas misturadas
aos ramos de cedrinho. Todo dia, ou tarde ou, raramente, noite. Um amor florido.
Um carro
de amor fazendo inveja.
Uma cama coberta
de pétalas. Gozo
alucinante no meio delas. Sexo perfumado.
Vontade de nunca
acabar.
Um dia
distraído na cidade
vizinha. Na rua
um cortejo.
Enterro e carpideiras.
Na frente um
carro coberto
de flores e no meio
delas um caixão.
Um carro
parecido com o outro.
Nas flores o mesmo
perfume misturado. Baixou os olhos e o motorista
era o amado.
Não sabia agente
funerário. Nem
sabia ser dali. Um
aceno dele. Não
respondido. Um sorriso
dele. Não correspondido. Uma lágrima dela. Não
vista.
Ali, a última
vez dos dois.
Joba Tridente.25.09.1999
Ilustração e cartaz de JobaTridente
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