Este
belíssimo soneto de Hermes Fontes
(1888 - 1930),
publicado em Almanach
de Porto Alegre - 1920, continua atual!
Corvo
Em cima, o azul da Esfera interjeições
arranca;
embaixo, o Mar, nervoso e insone, se
espreguiça;
e a praia, em curva, é toda uma toalha
branca,
manchada pela cor sanguínea da carniça.
Vede: um corvo! (Que mau agouro!) Sobre uma
anca
pousa: belisca e rasga, abre, revolve, eriça,
retalha o peito, o ventre. A mesa é lauta e
franca,
e a Fome é um tribunal: - que oficiais de
Justiça!
Desses que, da Miséria alheia,
enriquecidos,
vivem do Ouro pelo Ouro, inda os há mais
ferozes,
- têm cinco dentes mais, ao em vez dos
sentidos
E a civilização não queima esses atrozes
corvos que, a sangue humano de lágrimas
nutridos,
querem do alto pompear com penas de
albatrozes!?
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo
Fontes (Buquim, Sergipe,
28 de agosto de 1888 - Rio de Janeiro, a 25 de dezembro de 1930) foi um
compositor e poeta simbolista brasileiro. Fundou o jornal Estréia, com Júlio Surkhow e Armando
Mota, em 1904, no Rio de Janeiro. Formou-se bacharel em direito em 1911, mas
não exerceu a profissão. De 1903 ao final da década de 1930 colaborou em
periódicos como os jornais Fluminense,
Rua do Ouvidor, Imparcial, Folha do Dia, Correio Paulistano, Diário de Notícias e as revistas Careta, Fon-Fon!, Tribuna, Tagarela, Atlântida. Foi
também caricaturista do jornal O
Bibliógrafo. No período, trabalhou como funcionário dos Correios e oficial
de gabinete do ministro da Viação. Em 1913 publicou seu primeiro livro de
poesia, Gênese, e depois, entre
outros: Ciclo da Perfeição (1914), Miragem do Deserto (1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada Velada (1922) e A
Fonte da Mata (1930). Fonte da biografia: Wikipédia. Outras
informações sobre o autor, aqui. A ficha completa do Almanach de Porto Alegre - 1920, aqui.
Ilustração
de Joba Tridente. 2013
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