quinta-feira, 13 de abril de 2017

Valêncio Xavier e Joba Tridente: Uma Releitura da Via-Sacra


No ano 2000, recebi do então editor de cultura José Carlos Fernandes, do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, um convite desafiador: realizar um trabalho plástico para ilustrar a releitura da Via-Sacra feita pelo escritor e cineasta Valêncio Xavier (1933-2008).

Bem, para mim, um livre pensador que já teve censurada a exposição Sagrados e Profanos, por conta da catarse sobre religião e política, foi um convite inusitado. Todavia(crucis), como tinha liberdade para abordar o tema, aceitei. Trabalhei um bom tempo entre pesquisa e realização, optando por uma técnica de recortes (utilizando uma grande variedade de papel) e sobreposição tridimensional.

Em 2011 fiz uma postagem da Via-Sacra, mas sem o texto contemporâneo de Valêncio Xavier. Esta é a reedição da publicação completa feita em Abril de 2015. Como não tenho as fotos originais do jornal, fotografei as artes (em acervo) com uma câmera simples e a qualidade (com os cortes) não está das melhores, mas queria aproveitar o momento. Quanto ao foco da minha releitura da Via-Dolorosa, publicada na Sexta-Feira, 21 de Abril de 2000, que cada um se deixe enredar pela coroa de espinhos e tire a sua própria conclusão.


Uma Releitura da Via-Sacra
texto de Valêncio Xavier
ilustração de Joba Tridente
21.04.2000



Jesus é condenado à morte
Jesus aceita com submissão e amor a sentença que O condena, pois foi pela sua morte que Ele nos deu a Redenção, e impediu a morte de nossa alma.



Jesus recebe a cruz
Sem reclamar, Jesus recebe sobre seus ombros o peso esmagador da cruz: o peso de teus pecados e todas as misérias do mundo e o desamor dos seres humanos uns pelos outros.



Jesus cai pela primeira vez
O peso da cruz aumenta a cada passo. Seu corpo está coberto pelo sangue derramado nas guerras infindas dos homens contra os homens. Ele perde suas forças e cai por terra, pela Terra.



Jesus encontra-se com sua mãe
Jesus encontra-se com Maria, sua mãe. Mãe e filho se abraçam em meio à dor. A Terra é nossa mãe, vamos nos abraçar a ela e impedir que filhos ingratos destruam seus rios, suas matas, sua vida.



Simão Cirineu ajuda Jesus
Jesus, na sua humildade, aceita que um humilde homem do povo o ajude a carregar a cruz ao cimo do Monte Calvário. Ajudemos a carregar a pesada cruz dos homens do povo sem emprego.



A Verônica enxuga o rosto de Jesus
Uma mulher enfrenta os ferozes guardas e enxuga o sangue de Jesus. No lenço fica impresso o rosto de Jesus sofredor. Em tua alma está impresso o sofrimento das mulheres por seus filhos sem escola, sem médicos?



Jesus cai pela segunda vez
Sob o peso da cruz, Jesus cai outra vez. Mas a força de seu amor pela humanidade o faz levantar-se e seguir rumo ao Calvário. Nós podemos ajuda-lo a levantar-se, ajudando a levantar os caídos pelo peso das drogas e da aids.



Jesus consola as mulheres
Jesus esquece seus sofrimentos para consolar as mulheres que choravam. Ele fez isso para que não esqueças o sofrer das mulheres que fazem trabalhos acima das suas forças e ganham menos do que merecem.



Jesus cai pela terceira vez
A humilhação pelo peso redobrado dos pecados do mundo faz Jesus cair sob o peso esmagador da cruz ao chegar ao Calvário. E quantos de nós somos esmagados por leis injustas ou pela falta de leis que nos protejam da corrupção que corrói o país?



Jesus é despido
Jesus é humilhado na sua divindade e nos seus direitos humanos ao ser despojado de suas vestes. Nós devemos nos sentir humilhados ao ver os direitos humanos de nossos semelhantes serem negados, e devemos lutar contra isso.



Jesus é pregado na cruz
Os pregos ferem a carne de Jesus e a tortura continua com a cruz levantada e os soldados ferindo-O com suas lanças. A tortura de inocentes prossegue em muitas partes do mundo. Cabe a nós lutarmos contra isso.



Jesus morre na cruz
O véu de Templo rasgou-se ao meio e Jesus exclamou num grito: “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito!”, e morreu por nós. Quantos de nós estamos morrendo de fome, frio, e em guerras e por mãos criminosas? O que faremos para cessar essas mortes?



Maria recebe Jesus morto
Não existe dor maior que a de uma mãe receber nos braços o seu filho morto. E que podemos fazer pelas mães que têm seus filhos mortos por traficantes de drogas, por desmandos da polícia e por falta de segurança no país?



Jesus é sepultado
Jesus morto nos deu a vida verdadeira. Seu sepulcro foi o caminho da ressurreição e nos céus velará por nós e nos dá a esperança de que, aqui na Terra, alguém há de velar por nós.



Ressurreição


Valêncio Xavier (1933-2008): jornalista, escritor, cineasta. Entre suas obras mais importantes estão os livros: Desembrulhando as Balas Zequinha (1973); Mez da Gripe (1981); O Mistério da Prostituta Japonesa & Mimi-Nashi-Oichi (1986); Minha Mãe Morrendo e o Menino Mentindo (2001), Crimes à Moda Antiga (2004)..., e os filmes: A Visita do Velho Senhor; Carta a Fellini; O Pão Negro - Um episódio da Colônia Cecília. Para mais informações sugiro a leitura do artigo As Muitas Vidas de Valêncio Xavier no portal Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.

Joba Tridente: artesão de palavras e imagens. Individuais: 1991 - Sagrados e Profanos - Hall da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná - Curitiba-PR; 1986 - Sagrados e Profanos - Galeria “B” da Fundação Cultural do Distrito Federal - DF; 1983 - I Comício Cósmico de Brasília - Centro Cultural Le Corbusier – DF. Coletivas: 2015 - Bench Artes - São Paulo-SP; Nem Tudo Termina em Pizza - São Paulo-SP. 2013 - Mail Art Cupcake - MuBE - Museu Brasileiro de Escultura. 2000 - Fandango Subindo a Serra - SESC da Esquina - Curitiba-PR.  1997 - Guido Viaro, 100 Anos: Interpretação 97 - Museu de Arte do Paraná - Curitiba - PR. 1996 - V Concurso de Presépios - Memorial da Cidade de Curitiba - PR; 1994 (itinerante: 1995/1996) - Suite Vollard, Picasso - Uma Interpretação Paranaense - Museu de Arte do Paraná - Curitiba - PR; 1987 - Salão de Artes Plásticas de Brasília - Galeria da Fundação Cultural do Distrito Federal - DF e Levante Centro-Oeste - Galeria da Fundação Cultural do Distrito Federal - DF; 1986 - Salão de Artes Plásticas de Brasília - Galeria “B” da Fundação Cultural do Distrito Federal - DF; 1983 - I salão de Arte Mística/Mítica/Mediúnica - Hall da Prefeitura Municipal de Petrópolis - RJ e II Salão de Arte Mística/Mítica/Mediúnica - Centro de Convenções de Brasília - DF; 1977 - II Salão de Arte e Pensamento Ecológico - Touring Club de Brasília - DF; 1974 - I Encontro de Artes do ABC - Hall do Teatro Municipal de São Bernardo do Campo - SP. Gráficas, Humor: 1997 - 1ª Mostra da Ilustração Paranaense - Museu de Arte Contemporânea do Paraná - Curitiba - PR; 1993 - Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro - RJ; 1991 - Arkivo Gráphico - Gibiteca de Curitiba - PR; 1980 - Brasília 20 Anos - Hall do SESC - DF e  Caricatura e Desenho de Humor de Ontem e de Hoje - Criatura-I - Exposição itinerante organizada pela FUNARTE em: DF/SP/RJ/BA/CE/PR; 1977 - II Salão de Humor de Brasília - Fundação Cultural do Distrito Federal - DF; 1976 - Salão de Humor de Brasília - Fundação Cultural do Distrito Federal - DF.

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