terça-feira, 4 de abril de 2017

Joba Tridente: b.o.c.a

Os dias nos perseguem politicamente febris mundo afora e américa latina adentro. O radicalismo é amplo e geral na maioria dos corpos governamentais. Economia, corrupção, ditadura, tomada de poder estão na flauta desafinada a cada lusco-fusco..., e (re)viram aborrecidas (ou seria indigestas?) pautas nas mídias, inclusive “sociais”. Estamos todos à mercê da demência?

Observando os gestos repercutindo nos sons do mundo ao meu redor. Olhando o homem político por trás (ou por dentro) do homem do povo..., na sarjeta ou no palácio..., na rua ou no teatro, em performance digna de mestre ou de canastrão..., cheguei ao ..., c.h.ã.o (2016), que me fez cometer m.ã.o.s (2017)..., dois poemas que me levaram até a b.o.c.a (cwb.03.04.2017)..., com que encerro uma trilogia sobre os meandros do poder estabelecido. Qualquer semelhança desta boca com a boca de alguém (re)conhecido, pode não ser mera coincidência.


                 
b. o. c. a
joba tridente

tua boca
tão maldosamente sua
é mera rasgadura
na máscara sobre máscara
que mascara tua cara mamulenga
de tacho cuspideiro

tua boca
tão verborragicamente sua
a mover seus lábios toscos
num vocalize de impropérios
                                aveludados
aos ouvidos viciados à ordem midiática
                                               chita rasgada
aos ouvidos desconfiados da ordem midiática
mergulhada no cuspe
                  que escorre
das engrenagens enferrujadas
que desafinam tuas vocais
na consonância chantagista
                                  do poder...,
                                  de poder insuflar o medo
                                                             consoante
da perda de privilégios coletivos
privados na privada palaciana vogal

tua boca
tão trêmula
faz temer suas falas
tão vagas
aos absurdos monumentais
                                   tão seus
na reverência fantasmagórica
às demências governamentais
                          a cada alvorada
                          : pão de fel no café do amanhã
                            desvela o linguado ao molho parvo
                            no lusco-fusco das negociatas

tua boca
tão fétida
cloaca de falácias tão suas
na mediocridade ideológica
da vilania partidária
que comungas nos bastidores
        a cruzada de malditos asseclas
        no assalto ao cidadão
        que sangra que cala que grita que rola indigente
        na burocracia gananciosa
        do pavilhão que encerra a ordem
        e desterra o progresso

tua boca
septuagenária mente
ordinária suga gota a gota o labor
de inocentes (e desavisados indecentes)
incongruências tão suas
tão sumariamente suas
soam taquara rachada
ardendo no lombo
a supremacia que não tens

: seus dedos
finos rabos de ratazana
                   se atropelam
se embaraçam
                   se dão nós...,
mas não te calam
         não alcançam
a tua boca bagaceira
a tua língua vã
a tua fala logomáquica
           ..., e maquiavélicos
se recolhem acovardados
no recôndito da sua insignificância
                        tão politicamente sua
                        ...................................
: pena de prata em corpo de ouro
                      também borra mãos
: palavra só é prata..., se perene
                                               a fala
: silêncio só é ouro..., se constante
                                                    o ato

..., eu recuso o seu dito
..., eu recuso a sua boca
..., eu recuso o seu repulsivo beijo traidor
               ao apagar também das suas luzes
                     num modorrento e definitivo:
                                                               adeus!
                                                  ou eloquente:
                                                             adiabo!
...................................................................
                                                                  oras!

                                                                                     *
                    ilustração: foto de joba tridente.2011



Joba Tridente, artesão de palavras e imagens em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

4 comentários:

  1. "tacho cuspideiro", "cloaca de falácias", "privados na privada palaciana vogal",
    "septuagenária mente": isso é muito bom. (na poesia)

    Também recuso veementemente essas condutas nojentas que ferram com milhões de pessoas honestas. Horrível tais posturas, e eles? Ela acham lindo serem malandrões e vigaristas: quanto mais, melhor.
    Assemelham-se a ratos de esgoto numa capa Homo Sapiens, mas, por dentro; além de ratos são ´víboras.

    Obrigado, Joba (por escrever assim e por me marcar)

    Gratidão

    Marcelo Finholdt

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  2. na mosca, como se disse por um tempo, Joba Tridente. suas falas não são ao acaso, pois marcam o tempo e a linguagem.

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    Respostas
    1. ..., obrigado, meu amigo jornalista e escritor, tão mais perto da ebulição distrital que eu, e, com certeza, mais ciente, hoje, do que só será notícia amanhã!

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