sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Nicanor Parra: Santo Antônio

No dia 23 de janeiro de 2018 o antipoeta chileno Nicanor Parra fez a sua antipassagem espiritual para o antimundo e, em sua memória, o Falas ao Acaso abre um pós-espaço para  homenageá-lo. Em 2015, em aplauso aos seus 101 anos, publiquei publiquei Dos ChistesSe Canta Al MarAutorretratoCartas A Una Desconocida e Epitáfio, presentes na antologia digital bilíngue Nicanor Parra e Vinícius de Moraes (2009), com tradução e introdução de Carlos Nejar e Maximino Fernández, disponibilizada pela Academia Brasileira de Letras e a Academia Chilena de la Lengua.

Nesta nova série você acompanha a postagem de cinco antipoemas em espanhol e em traduções de Carlos Nejar e de João Carlos Martins. Você que anteriormente conheceu o Solo de Piano e Desordem No Céu e Madrigal, confere Santo Antônio (San Antonio), do livro Poemas e Antipoemas (1954), em tradução de João Carlos Martins para a edição digital NicanorParra - Poemas e antipoemas (2014), disponibilizada pela kza1/editora livre.


                           
SAN ANTONIO
Nicanor Parra

En un rincón de la capilla
El eremita se complace
En el dolor de las espinas
Y en el martirio de la carne.

A sus pies rotos por la lluvia
Caen mañana-, materiales
Y la serpiente de la duda
Silba detrás de los cristales.

Sus labios rojos con el vino
De los placeres terrenales
Ya se desprenden de su boca
Como coágulos de sangre.

Esto no es todo, sus mejillas
A la luz negra de la tarde
Muestran las hondas cicatrices
De las espinas genitales

Y en las arrugas de su frente
Que en el vacío se debate
Están grabados a porfía
Los siete vicios capitales.



SANTO ANTÔNIO
Nicanor Parra
tradução: João Carlos Martins

Num canto de uma capela
Um eremita se contenta
Na dor das costas
E no martírio da carne.

A seus pés enrugados pela chuva
Caem maçãs materiais
E a serpente da dúvida
Assobia por trás dos cristais.

Seus lábios rubros como o vinho
Dos prazeres terrenos
Já se desprendem de sua boca
Como coágulos de sangue.

Isso não é tudo, suas bochechas
Sob a luz negra da tarde
Mostram as fundas cicatrizes
Das espinhas genitais.

E nas rugas de seu rosto
Que no vazio se debate
Estão inscritos à porfia
Os sete vícios capitais.
  
*
ilustração de Joba Tridennte.2018


Nicanor Parra (San Fabián de Alico, Chile em 5 de setembro de 1914 - La Reina, Chile em 23 de janeiro de 2018). Formou-se em Matemática e Física no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Estudou Mecânica avançada na Universidade de Brown, Rhode Island (1943-1945). Foi diretor interino da Escola de Engenharia da Universidade do Chile, discípulo do Cosmólogo E.A. Miner em Oxford e professor de Mecânica Teórica na Universidade do Chile. Nicanor Parra tinha grande afinidade com as obras de Federico Garcia Lorca e Walt Whitman e os seus antipoemas teriam sido influenciados por filmes de Charles Chaplin, e o surrealismo de autores como Franz Kafka, Thomas Stearns EliotEzra PoundJohn Donne e William Blake. O escritor chileno, que recebeu, em 2011, o Prêmio Cervantes, oferecido pelo Ministério da Cultura da Espanha, estreou na literatura com Cancioneiro sem Nome (1937). A publicação da obra que o consagrou deu-se em 1954, Poemas y Antipoemas. Em seguida vieram: La cueca larga (1958) e Versos de Salón (1962), Manifiesto (1963), Canciones rusas (1967), Obra gruesa (1969), Los professores (1971), Artefactos (1972), Sermones y prédicas del Cristo de Elqui (1977), Nuevos sermones y prédicas del Cristo de Elqui (1979), El anti-Lázaro (1981), Plaza Sésamo (1981), Poema y antipoema de Eduardo Frei (1982), Cachureos, ecopoemas, guatapiques, últimas prédicas (1983), Chistes para desorientar a la policía (1983), Coplas de Navidad (1983), Poesía política (1983), Hojas de Parra (1985), Poemas para combatir la calvície (1993), Páginas en blanco (2001), Lear Rey & Mendigo (2004), Obras completas I & algo + (2006), Discursos de Sobremesa (2006), Antiprosa (2015). Fontes: Wikipedia e Antologia de Nicanor Parra e Vinicius de Moraes - ABL/ACL.
Nota: O Portal da Universidad de Chile disponibiliza a obra de Nicanor Parra e de outros grandes nomes em Retablo de Literatura Chilena.


João Carlos Martins (?). Não encontrei informação alguma sobre o tradutor, nem no site da editora kza1. Não sei se é homônimo do pianista e maestro brasileiro e ou se o próprio.

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