terça-feira, 21 de agosto de 2018

Gabriela Mistral: A Terra


A escritora chilena Gabriela Mistral foi a primeira autora latino-americana a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1945. Os escritores só começaram a compor a lista vinte e dois anos depois, com o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1899-1974), em 1967; o chileno Pablo Neruda (1904-1973), em 1971, o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), em 1982; o mexicano Octavio Paz (1914-1998), em 1990; o peruano Mario Vargas Llosa (1966), em 2010. Diplomata, feminista e pedagoga, Gabriela Mistral (1889-1957), cujo retrato ilustra a nota de cinco mil pesos chilenos, é dona de uma poesia pungente (mas sem perder o lirismo ao falar de amor e ou de dor) e de uma prosa incômoda e reflexiva (ao abordar temas relacionados à educação e ao papel da mulher e do índio na sociedade, principalmente na América Latina). Há um bom material, na internet, sobre a autora do premiado Sonetos de La Muerte, Tala e Desolación..., veja alguns links na sua biografia abaixo.

Para esta breve homenagem a Gabriela Mistral selecionei quatro poemas, que serão publicados (um a cada dia) ao longo da semana, no original espanhol e em tradução para o português. Comecei com Medo, e sigo com La Tierra..., ou A Terra, em tradução de José Jeronymo Rivera, presente em Poemas escolhidos de Gabriela Mistral (Delta, 1969).


                 

LA TIERRA
Gabriela Mistral

Niño indio, si estás cansado,
tú te acuestas sobre la Tierra,
y lo mismo si estás alegre,
hijo mío, juega con ella...

Se oyen cosas maravillosas
al tambor indio de la Tierra:
se oye el fuego que sube y baja
buscando el cielo, y no sosiega.
Rueda y rueda, se oyen los ríos
en cascadas que no se cuentan.
Se oye mugir los animales;
se oye el hacha comer la selva.
Se oyen sonar telares indios.
Se oyen trillas, se oyen fiestas.

Donde el indio lo está llamando,
el tambor indio le contesta,
y tañe cerca y tañe lejos,
como el que huye y que regresa...

Todo lo toma, todo lo carga
el lomo santo de la Tierra:
lo que camina, lo que duerme,
lo que retoza y lo que pena;
y lleva vivos y muertos
el tambor indio de la Tierra.

Cuando muera, no llores, hijo:
pecho a pecho ponte con ella
y si sujetas los alientos
como que todo o nada fueras,
tú escucharás subir su brazo
que me tenía y que me entrega
a la madre que estaba rota
tú la verás volver entera.



A TERRA
Gabriela Mistral
Tradução: José Jeronymo Rivera

Indiozinho, se estás cansado
Tu te recostas sobre a Terra,
fazes igual se estás alegre,
vai, filho meu, brinca com ela...

Que de coisas maravilhosas
soa o tambor índio da Terra:
se ouve o fogo que sobe e desce
buscando o céu, e não sossega.
Roda e roda, se ouvem os rios
em cascatas que não se contam.
Se ouve mugir os animais;
comer o machado a selva.
Ouve-se soar teares índios.
Se ouvem trilhos e se ouvem festas.

Aonde o índio está chamando,
o tambor índio lhe contesta,
e tange perto e tange longe,
como o que foge e que regressa...

Tudo toma, tudo carrega
o corpo sagrado da Terra:
o que caminha, o que adormece,
o que se diverte e o que pena;
os vivos e também os mortos
leva o tambor índio da Terra.

Quando eu morrer, não chores, filho:
peito a peito junta-te a ela
e se dominas o teu fôlego
como quem tudo ou nada seja,
tu ouvirás subir seu braço
que me jungia e que me entrega
e a mãe que estava quebrantada
tu a verás tornar inteira.

*ilustração: Joba Tridente.2018


Gabriela Mistral (nasceu Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga em Vicuña/Chile: 07.04.1889 e morreu em Nova York/EUA: 10.01.1957) foi educadora, diplomata, feminista e escritora agraciada com o Nobel de Literatura de 1945. O pseudônimo Gabriela Mistral, em homenagem aos poetas Gabriele D’Annunzio (italiano) e Frédéric Mistral (francês), nasceu em 1914, ao ganhar o Concurso de Poesia Juegos Florais de Santiago com Sonetos de La Muerte. Em 1922 publicou seu primeiro livro de poesias, Desolación, ano em que foi convidada pelo Ministério da Educação do México a trabalhar nos Planos de Reforma Educacional, tornando-se referência em pedagogia. Gabriela foi Secretária do Instituto de Coperación Intelectual de la Sociedade de Naciones e Consulesa do Chile e também redatora da revista El Tiempo, de Bogotá e escreveu para o Jornal do Brasil. Viajou pela Europa, Estados e América Latina representando seu país e ou orientando conferências culturais. Seus poemas são pungentes e tematizam tanto o amor quanto a dor. A sua bibliografia traz os seguintes títulos: Desolación (1922); Lectura para mujeres (1924); Ternura (1924); Tala (1938); Lagar (1954); Recados contando a Chile (1957); Páginas en prosa (1962); Los motivos de San Francisco (1965); Poema de Chile (1967); Cartas de amor de GM (1978); Materias (1978); Gabriela piensa en...Santiago de Chile (1978); Prosa religiosa de GM (1978); GM en el "Repertorio Americano" (1978); Gabriela anda por el mundo (1978); Grandeza de los ofícios (1978); Croquis mexicanos (1979); Magisterio y niño (1979); Elogios de las cosas de la tierra (1979); Magistério y Niño (1982); Epistolario de G M y Eduardo Barrios (1988); G M y Joaquín García Monge (1989); Vendré olvidada o amada (1989); Italia caminada (1989); Poesías completas (1989); Memorias y correspondencia con G M y Jacques Marit (1989); Lagar II (1991); En batalla de sencillez (1993); Vuestra Gabriela (1995); Epistolario de G M e Isolina Barraza (1995); Dolor (2001). Para saber mais: Templo Cultural Delfos: Gabriela Mistral - uma viagem pela linguagem poética; Cultura UNAM: Gabriela Mistral – Poesia Moderna; Blog da Inês Büschel:  Gabriela Mistral - Prêmio Nobel de Literatura ; Poetry Foundation: Gabriela Mistral; Antonio Miranda: Gabriela Mistral;  PGL.gal: Gabriela Mistral: filme ‘A Gabriela’ e vários documentários; Vermelho: Gabriela Mistral, para ler à noite, perder o sono e ter pesadelos; Blog Oficial: Gabriela Mistral; Memória Chilena: Gabriela Mistral: A Cien Años de su Nascimiento; Chile para Niños: Gabriela Mistral - Vida y Pensamiento; Repositório Unicamp: Gabriela Mistral: das danças de roda de uma professora consulesa no Brasil; Poemas del Alma: Poemas de Gabriela Mistral;

José Jeronymo (Ribeiro) Rivera (Rio de Janeiro/RJ: 12.6.1933) é escritor e tradutor. Como autor e organizador publicou, na coleção Livro na Rua, da Thesaurus Editora, as seguintes obras: Aprendizado de Poesia (2004); Humberto de Campos: Poesia (2004); Xavier Placer: Poemas (2006); Miguel Torga: Contos (2006); Almeida Garrett: Poesias (2006). Jeronymo Rivera também está presente nas antologias: Alma Gentil (1994), Caliandra: Poesia em Brasília (1995); Antologia de Haicais Brasileiros (2003); Vozes na Paisagem (2005). Traduziu: Poesia Francesa: Pequena Antologia Bilíngue (1998 e 2005); Cidades Tentaculares, de Émile Verhaeren (1999); Rimas, de Gustavo Adolfo Bécquer (2001); Gaspard de la Nuit, de Aloysius Bertrand (2003). Traduziu em parcerias: Poetas do Século de Ouro Espanhol (2000); Victor Hugo: Dois Séculos de Poesia e O Sátiro e Outros Poemas (2002); Antologia Poética Ibero-Americana (2006); Poetas Portugueses y Brasileños - de los Simbolistas a los Modernistas (tradução do português para o  espanhol, publicada pela Embaixada de Portugal na Argentina/Instituto Camões em 2002); Antologia Pessoal, de Rodolfo Alonso (2003). Recebeu os prêmios Joaquim Norberto de Tradução (2001, da União Brasileira de Escritores do Rio de janeiro), por Poetas do Século de Ouro Espanhol, e o prêmio Cecília Meireles de Tradução (2002, UBE-RJ), por Rimas, de Gustavo Adolfo Bécquer. Foi colaborador da Revista de Poesia e Crítica (São Paulo); Revista da Academia Brasiliense de Letras (Brasília); Boletim da Associação Nacional de Escritores (Brasília). Para saber mais: Antonio Miranda: José Jeronymo Rivera; Miscelânea: Revista de Literatura e Vida Social: Entrevista com José Jeronymo Tivera; Academia Leopoldinense de Letras e Artes: José Jeronymo Tivera: poeta e tradutor.

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