domingo, 1 de novembro de 2020

Dois Poemas para Carlos Drummond de Andrade



dois poemas 
para Carlos Drummond de Andrade 

Não sou muito ligado a datas. Para mim todo dia é dia de todo dia e do que e de quem quiser o dia. Carlos Drummond de Andrade teria completado 118 anos, ontem, dia 31 de outubro de 2020. Hoje faz 22 anos que escrevi, em sua homenagem, o poema comemORAÇÃO (1998). Há 23 anos foi publicado, no livro Traço de União, Poema para Carlos Drummond de Andrade (1997), do poeta angolano João Maimona. Então, como todo o passado é presente algum dia que também será passado, republico, aqui no Falas ao Acaso, os dois poemas.



comemORAÇÃO
 
Joba Tridente 

hoje é dia de todos os Santos e da Lua 

amanhã é dia de todos os Mortos e de Marte 

ontem foi o dia de Drummond e do Sol 

e as pedras continuam espalhadas por todos os caminhos 

por todos os caminhos continuam espalhadas as pedras 

alguns tropeçam e caem e ficam 

alguns tropeçam e caem e se levantam 

alguns tropeçam e se equilibram e vão 

alguns veem as pedras e desviam 

alguns já conhecem os caminhos 

outros nunca leram Drummond 






Poema para Carlos Drummond de Andrade
 
João Maimona 

É útil redizer as coisas 

as coisas que tu não viste 

no caminho das coisas 

no meio do teu caminho. 


Fechaste os teus dois olhos 

ao bouquet das palavras 

que estava a arder na ponta do caminho 

o caminho que esplende os teus dois olhos. 


Anuviaste a linguagem de teus olhos 

diante da gramática da esperança 

escrita com as manchas de teus pés descalços 

ao percorrer o caminho das coisas. 


Fechaste os teus dois olhos 

aos ombros do corpo do caminho 

e apenas viste uma pedra 

no meio do caminho. 


No caminho doloroso das coisas. 



Ilustrações: Joba Tridente.2015.2016.2020


Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre – O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

João Maimona (1955) nasceu em Kibokolona, Angola. Escritor, ensaísta e crítico literário licenciou-se em Medicina Veterinária. Maimona é membro fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo e da União dos Escritores Angolano. O premiado escritor é autor de Trajetória Obliterada (1985); Les Roses Perdues de Cunene (1985); Traço de União (1987, 1990);  Diálogo com a Peripécia (1987); As Abelhas do Dia (1988, 1990); Quando se ouvir os sinos das sementes (1993); Idade das Palavras (1997).

Para saber mais: União dos Escritores Angolanos: João Maimona; Portal São Francisco: João Maimona; Antonio Miranda: Poesia Angolana - João Maimona; Terezinha de Jesus Aguiar Neves: Do alarme do mundo e das celebrações da escrita na poética de João Maimona; Templo Cultural Delfos: João Maimona - universos poéticos; Revista Zunái: Uma Conversa com João Maomona.

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