quinta-feira, 12 de julho de 2012

Helena Kolody - 100 anos - 7



A primeira vez quer ouvi falar de hai-kai foi na adolescência, não tinha a menor noção da sua origem japonesa, mas gostava daqueles poemas curtos e divertidos de Millôr Fernandes (1923 - 2012). Muito tempo depois conheci as obras de Leminski (1944 - 1989), Kolody e dos grandes Mestres Japoneses.

A primeira vez que ouvi falar de tanka foi nos anos 1990, quando fiz a Direção de Arte do Jornal Nicolau (1990 - 1995), editado pelo jornalista e escritor Wilson Bueno (1949 - 2010), através da Secretaria da Cultura do Paraná. Bueno era um grande admirador de Helena Kolody. Apreciava principalmente os seus poemas curtos e entre eles os tankas, que publicou com exclusividade na edição de dezembro de 1992 do Nicolau (1987 - 1995).


Inverno (1992)

No céu de cristal
cintila o sol sem calor.
Sopra um vento frio.

Tiritam árvores nuas
nos campos que a geada veste

Em sua pesquisa: A influência da arte oriental na poesia de Helena Kolody e o ensino-aprendizagem do haicai, Antonio Donizeti da Cruz (Professor de Teoria da Literatura da Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná) cita o seguinte depoimento de Kolody ao Jornal do Livro, em 1985: Eu sou uma poeta que não faz o poema na hora que quer. É a poesia quem quer. Ela me agita, me obriga, é uma compulsão interior (...). Às vezes o poema já vem mais ou menos pronto (...). Outras vezes é preciso suar muito (...). É uma luta terrível com as palavras. Mas há ocasião que estou em estado de poesia e os poemas vão saindo: um, dois, três poemas seguidos.


Aquarela (1993)

Sol de primavera.
Céu azul, jardim em flor.
Riso de crianças.

Na pauta de fios elétricos,
uma escala de andorinhas.



Helena Kolody tinha o seu jeito todo especial de tratar a poesia japonesa. Era mais intuitiva e menos formal que o rigoroso Wilson Bueno, que declarou em uma entrevista à escritora Marília Kubota, publicada no Jornal Memai, em novembro de 2009: (...) Acho a nossa Helena Kolody, a minha mais decisiva influência e estímulo para ir ao tanka como quem vai com gula a um pote de  mel. A saudosa Helena tem tankas lindíssimos, de uma delicadeza que era dela sua maior marca.

Mudança
(em Pequeno Tratado de Brinquedos)

minha mãe nas costas
atravessamos aldeias
mais de cem quilômetros

tanto  a levamos nos braços
que agora somos aéreos

(...) o tanka, sabemos, carrega consigo o chamado “olho” do haicai e ainda pede uma “conclusão” em dois versos finais. Sempre, claro, na rigorosa métrica que inventamos para ele, para transfigurá-lo, creio. Uma “matemática” que me seduz, - 5/7/5 (o haicai!) e 7/7 a dita “conclusão”, uma sutil “moral” da história… (...) A métrica, inventada aqui, também é um exercício de humildade - você se vê obrigado a desprezar o que julga um achado precioso porque este tal de “precioso” o poema só pode acolhê-lo se em rigorosas e calculadas sílabas poéticas… Temos que recusar, jogar literalmente no lixo o que consideramos grandes “insights”, porque não cabem no metro do poema, você me entende?

Migrantes
(em Pequeno Tratado de Brinquedos)

em cinquenta e cinco
chegamos à ferroviária
as malas e os filhos

ante o súbito pinheiro
primeiro pasmo do exílio

Estes dois tankas de Wilson Bueno, publicados em Pequeno Tratado de Brinquedos, são de uma pré-edição que me foi presenteada pelo autor no inverno de 1994. Alguns eu até ilustrei. Hora dessas posto aqui.

ilustração de Joba Tridente.2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...