A
primeira vez quer ouvi falar de hai-kai foi na adolescência, não tinha a menor
noção da sua origem japonesa, mas gostava daqueles poemas curtos e divertidos de
Millôr Fernandes (1923 - 2012). Muito tempo depois conheci as obras de Leminski
(1944 - 1989), Kolody e dos grandes Mestres Japoneses.
A
primeira vez que ouvi falar de tanka foi nos anos 1990, quando fiz a Direção de
Arte do Jornal Nicolau (1990 - 1995),
editado pelo jornalista e escritor Wilson
Bueno (1949 - 2010), através da Secretaria da Cultura do Paraná. Bueno era
um grande admirador de Helena Kolody.
Apreciava principalmente os seus poemas curtos e entre eles os tankas, que
publicou com exclusividade na edição de dezembro de 1992 do Nicolau (1987 - 1995).
Inverno (1992)
No céu de cristal
cintila o sol sem calor.
Sopra um vento frio.
Tiritam árvores nuas
nos campos que a geada veste
Em sua
pesquisa: A influência da arte oriental
na poesia de Helena Kolody e o ensino-aprendizagem do haicai, Antonio Donizeti da Cruz (Professor de
Teoria da Literatura da Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
cita o seguinte depoimento de Kolody ao Jornal do Livro, em 1985: Eu sou uma poeta que não faz o poema na hora
que quer. É a poesia quem quer. Ela me agita, me obriga, é uma compulsão
interior (...). Às vezes o poema já
vem mais ou menos pronto (...). Outras
vezes é preciso suar muito (...). É uma luta terrível com as palavras. Mas há
ocasião que estou em estado de poesia e os poemas vão saindo: um, dois, três
poemas seguidos.
Aquarela (1993)
Sol de primavera.
Céu azul, jardim em flor.
Riso de crianças.
Na pauta de fios elétricos,
uma escala de andorinhas.
Helena Kolody tinha o seu jeito todo especial de
tratar a poesia japonesa. Era mais intuitiva e menos formal que o rigoroso Wilson Bueno, que declarou em uma
entrevista à escritora Marília Kubota,
publicada no Jornal
Memai, em novembro de 2009: (...) Acho
a nossa Helena Kolody, a minha mais decisiva influência e estímulo para ir ao
tanka como quem vai com gula a um pote de mel. A saudosa Helena tem
tankas lindíssimos, de uma delicadeza que era dela sua maior marca.
Mudança
(em Pequeno
Tratado de Brinquedos)
minha mãe nas costas
atravessamos aldeias
mais de cem quilômetros
tanto
a levamos nos braços
que agora somos aéreos
(...) o tanka, sabemos, carrega consigo o chamado
“olho” do haicai e ainda pede uma “conclusão” em dois versos finais. Sempre,
claro, na rigorosa métrica que inventamos para ele, para transfigurá-lo, creio.
Uma “matemática” que me seduz, - 5/7/5 (o haicai!) e 7/7 a dita “conclusão”,
uma sutil “moral” da história… (...) A
métrica, inventada aqui, também é um exercício de humildade - você se vê
obrigado a desprezar o que julga um achado precioso porque este tal de
“precioso” o poema só pode acolhê-lo se em rigorosas e calculadas sílabas
poéticas… Temos que recusar, jogar literalmente no lixo o que consideramos
grandes “insights”, porque não cabem no metro do poema, você me entende?
Migrantes
(em Pequeno
Tratado de Brinquedos)
em cinquenta e cinco
chegamos à ferroviária
as malas e os filhos
ante o súbito pinheiro
primeiro pasmo do exílio
Estes
dois tankas de Wilson Bueno, publicados em Pequeno
Tratado de Brinquedos, são de uma pré-edição que me foi presenteada pelo
autor no inverno de 1994. Alguns eu até ilustrei. Hora dessas posto aqui.
ilustração
de Joba Tridente.2012
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