Dia desses, pesquisando textos para um novo Projeto de Contação de Histórias, dei
de cara com a poesia/conto A Boneca,
de Olavo Bilac (1865 - 1918). Ela se encontra no seu famoso livro Poesias Infantis (1895), que conheço
desde a minha infância.
O curioso é que, logo depois de reencontrar a singela
poesia de Bilac, eu acordei, numa manhã de domingo, certo de que já havia lido
aquela história (envolvendo uma boneca)
em algum outro lugar e nas palavras de outro autor. Pensei até que (A Boneca) pudesse ser uma tradução de
Bilac para algum conto dos Grimm ou Andersen, já que era tradutor e perambulou
pela Europa.
Lá fui eu revirar arquivos, inclusive digitais,
e acabei encontrando duas variações do tema: A Boneca, compilada por Guerra Junqueiro (1850 - 1923), publicada
em Contos Para A Infância - Escohidos Dos
Melhores Autores, Lisboa (1877), e Mary
and Lucy, que se encontra em Little
Stories for Little Children, by Anonymous,
Londres (18..), ambos disponibilizados pelo Projeto Gutemberg. Para quem gosta de literatura o Gutemberg (entre
outros sites DP) é um Clássico Paraíso, onde é possível encontrar até raridades
musicais. A maioria do material disponível (em vários formatos de download)
está em inglês. Mas há um bocado de literatura em português (de Portugal). Guerra
Junqueiro, por exemplo, fica ao gosto do leitor: português arcaico ou
atualizado.
Estou compartilhando esta curiosidade, com quem gosta
de Literatura e ou trabalha com Contação de Histórias, porque acho divertido e
importante conhecer variações de linguagem de um tema em comum na obra de
autores contemporâneos ou não. Além de aproveitar o contexto para dar alguma
ocupação aos macaquinhos do meu sótão, que também pensam por conta própria. Será
que o tema (A Boneca) dos três contos
publicados em datas próximas, na Inglaterra (Anonymous), Portugal (Junqueiro) e
Brasil (Bilac), é mera coincidência? Ou tem a ver com a moral vigente e o
estilo literário destinado ao público infantojuvenil que via o raiar de um novo
dia? Por que os contos são tão iguais (conteúdo) nas suas diferenças (formas)? Ah,
o inconsciente coletivo a cada dia mais singular, num mundo em que o cidadão se
torna cada vez mais cada um.
Além da forma/estilo dos autores, o interessante
nos três contos é o preceito (ou seria conceito?) moral que encerrava a
literatura em fins do Século 19. O que aconteceu com ele nos anos 1900 e 2000?
Mudaram os preceitos ou mudamos nós os conceitos de educação, moral e até mesmo
de civilidade (ou seria de civismo?) nas escolas e nas comunidades? Ah, o politicamente
(in)correto de hoje e a insana caça ao ideário literário de ontem. Como se
fosse possível pensar o verbo de ontem com a cabeça verborrágica de hoje! Ou
racionalizar o lúdico de hoje isento (ou seria ausente?) de “porquê”! A arte
“não tem quê” isso ou aquilo. A arte é arte, independente de lhe atribuírem
funções (terapêuticas?)!
O lúdicontemporâneo é uma febre colorida com
efeitos colaterais. É tão multicolorido quanto multifacetado! Estou em meio a
um processo de pesquisa (quantos contos falando de boneca já foram escritos?) e ainda longe de respostas que me
satisfaçam. Afinal, sou um livre
pensador livre (ou seria contestador?). O conto A Boneca, colhido por Guerra Junqueiro, não é o que acredito ter
lido no passado.
Leia a versão atualizada (e abrasileirada) de A
Boneca/Junqueiro. Leia o conto A
Boneca/Bilac. Leia a tradução (sem compromisso) que fiz de Mary and Lucy/Anonymous (seja ele quem
for!).
LINKS das Edições Integrais de
Olavo Bilac, Guerra Junqueiro e Anonymous (em inglês). O livro de Olavo Bilac é
raríssimo e, depois de muito fuçar na rede, o encontrei, entre outras preciosidades,
no site da Unicamp.
- Olavo Bilac: Poesias
Infantis
- Guerra Junqueiro: Contos Para A Infância
LINKS - Cortando caminho
- Projeto Gutemberg: Autores
- Projeto Gutemberg: Página inicial em
português
*Artigo e ilustração/colagem de Joba
Tridente - 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário