..., do raiar
do dia ao cair da noite dos últimos anos o Brasil claudica com uma crise
sociopolítica e econômica sem precedentes na sua história. ..., com a baixa
credibilidade dos poderes constituídos, não há túnel que chegue ao fim e muito
menos luz que ilumine o caminho da saída. ..., ao serviço de costura política e
gastura governamental servidos pelas mídias, não há antiácido que dê jeito. ..., recentemente, os biliardários “irmãos friboi”
protagonizaram o padrasto de todos os escândalos envolvendo “autoridades” e
saindo ilesos. ..., ou quase! ..., assim que a boiada “passou” e a poeira
baixou o prêmio da delação foi retirado e a dupla (Joesley e Wesley) Batista foi
parar na cadeia. ..., no afã da notícia, um antigo jornal até se engasgou,
trocando a palavra “cela” (de prisão) por “sela” (de cavalo).
..., como meu
desespero literário varia com a ironia poética, decidi proverbiar com os fatos em
ebulição e criei sete máximas totalmente sem compromisso (ou quase): é nóis na sela – anexins de açougue (2017).
..., o título é uma “brincadeira” com dois erros gramaticais: “sela” (do jornal) e “nóis num vai ser preso” (discordância
verbal nos diálogos matutos de Joesley).
é nóis na sela - anexins de açougue
de Joba Tridente
I - língua
brother freeboy:
- nóis foi preso porque nóis não sabe conjugar verbo?
federal:
- não..., porque sabem conjugar verba!
II - peito
cascos ruminando:
- riqueza e esperteza nem sempre
caminham juntas...
pé de boi direito:
- ou se tem berço d’ouro
anda nas nuvens
nina com “brilha, brilha estrelinha”
em lençóis finos e travesseiro de penas de ganso...
pé de boi esquerdo:
- ou se tem cama de palha
pisa na bosta de vaca
dorme com “boi da cara preta”
em lençóis de chita e travesseiro de paina...
pé de boi direito:
- quem pode se ajeita sob o mosquiteiro.
pé de boi esquerdo:
- quem não pode abana as varejeiras.
III - rabo
mosca da carne:
- quando não se herda
a riqueza que vem certa por caminhos tortos
ou que vem torta por caminhos incertos
o sortudo esperta a grana,
afofa a grama e toma conta do curral.
na questão do dinheiro
quanto mais se sonha grande,
mais se conhece boiadeiro
mais se tem companheiro
que a(ssa)ssinam tudo por uma rima
pois parelha
é de político, bandido ou eleitor.
IV - lombo
músculo:
- Maquiavel não é para
iniciantes
e maquiavelices já não
se embrulham com jornal de ontem.
ao maquiavelhaco
a ignorância econômica
move cifras no tabuleiro sobre o banco.
o que a mesa determina
é o mesmo chiclete velho sob o tampão
que de boca em boca pode perder o sabor
mas continua elástico...,
toda via de valor
porém, a goma
uma hora arrebenta.
V - estômago
tripa:
- não importa se a grana veio da corte
ou se a grama veio do corte
em mão ligeiras e boca mansa
o tutu traçará outro erário...,
a carne só é fraca
se posta a mesa
o corpo é todo gula.
VI - olhos
orelha esquerda:
- o falastrão açougueiro
morre pela boca ou pelo verbo.
o açougueiro professor
que não conjuga mais é co-julgado menos.
orelha direita:
- falhas de grave ação: o up! virou ôpa!
na cartilha digital
do pobre menino rico
que recorreu ao rosário
e mediu terço à Aparecida Padroeira
e mediu terço ao Raimundo Nonato dos Mulundus
e mediu terço ao freguês oculto
pra socorrer o aflito
nessa hora de grades
e de iminente perigo.
a fé amolada cega qualquer faca.
é de dar nó nas intrigas!
orelha esquerda:
tanto arroubo
tanta carne fedida
tanto sangue de barata
chega dar dó das tripas.
VII - cupim
brother freeboy I:
- nóis robamo mas nóis entregô
quem nóis pagô...,
e quem nóis encheu as burra lá deles
catapultô
nóis da sela pra cela.
brother freeboy II:
- nóis é muito
burro mesmo
querendo ensiná fazê mortadela e coxinha
pros professor de cozinha.
brother freeboy I:
- que país é esse que não respeita
os empresário que de mamada
em mamata se deu bem nas parada?
rato pretérito:
- é como diz aquele carrapacto de sangue
saltando de califa em califa:
de friboi a freeboy a cowboy a boi de aparate
aquele que desdenha a origem, dorme na fuligem !
..., foto.de.joba.tridente.2017
Joba Tridente,
artesão de palavras e imagens em Verso : 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015);
101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo
da minha janela (2014); Ebulição da
Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos
Stankienambás (2000); Cidades
Minguantes (2001); O Vazio no Olho
do Dragão (2001). Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
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