entre a Inocência e a Experiência
Alguns
autores são tão incandescentes que é praticamente impossível classificá-los. É
o caso do inglês William Blake: escritor,
tipógrafo, artista gráfico, gravurista, ilustrador, artista plástico..., cujas
obras, literalmente fantásticas, trazem resquícios do iluminismo (1650-1800) e
vão do romantismo ao simbolismo. Sem se ocupar muito com os “ismos” de sua
época, Blake, além da originalidade plástica e literária, foi um artista
coerente com sua visão político-social e religiosa, mesmo diante das
adversidades profissionais que o mantiveram praticamente na linha da pobreza
até o fim da vida.
Em 2017, quando se comemora 260 anos de seu nascimento (Londres:
28.11.1757) e 190 da sua morte (Londres: 12.08.1827), estou publicando, de 28 a 30 de novembro, poemas (em inglês, português e
espanhol) do seu notável livro Canções de Inocência (1789) e Canções
de Experiência (1794). A
luz e a sombra no caminho das crianças de ontem e de hoje.
Serão
dois poemas de William Blake a cada postagem, um relacionado à inocência (luz)
e outro à experiência (sombra): "os dois Estados contrários da Alma
Humana". As ilustrações são fac-símiles das publicações originais. Na montagem gráfica, acima, William Blake em aquarela de Thomas Phillips (1770-1845).
Ontem você conheceu as duas traduções dos impressionantes poemas O Limpador de Chaminés (El Deshollinador), hoje confere a doçura de O Cordeiro (em Canções de Inocência)..., nas versões de Adriano Scandolara¹ (em Tigres e Cordeiros de Blake - parte 1 - site escamandro) e de Nicolás Suescún Peña² (em Canciones de inocência y de experiência, ed. epulibre (ano?), e a ferocidade de O Tigre (em Canções de Experiência)..., na visão de José Paulo Paes³ (em Gregos & Baianos - Ensaios. ed. Brasiliense, 1985) e de Pablo Mañé Garzón⁴ (em William Blake - Obra poética - ed. 69, 1980).
Ontem você conheceu as duas traduções dos impressionantes poemas O Limpador de Chaminés (El Deshollinador), hoje confere a doçura de O Cordeiro (em Canções de Inocência)..., nas versões de Adriano Scandolara¹ (em Tigres e Cordeiros de Blake - parte 1 - site escamandro) e de Nicolás Suescún Peña² (em Canciones de inocência y de experiência, ed. epulibre (ano?), e a ferocidade de O Tigre (em Canções de Experiência)..., na visão de José Paulo Paes³ (em Gregos & Baianos - Ensaios. ed. Brasiliense, 1985) e de Pablo Mañé Garzón⁴ (em William Blake - Obra poética - ed. 69, 1980).
THE LAMB
William Blake
in Songs of Innocence
Little Lamb,
who make thee
Dost thou
know who made thee,
Gave thee
life, and bid thee feed
By the stream
and o’er the mead;
Gave thee
clothing of delight,
Softest
clothing, wolly, bright;
Gave thee
such a tender voice,
Making all
the vales rejoice?
Little Lamb,
who made thee?
Dost thou
know who made thee?
Little Lamb,
I’ll tell thee;
Little Lamb,
I’ll tell thee:
He is called
by thy name,
For He calls
Himself a Lamb
He is meek,
and He is mild,
He became a
little child.
I a child,
and thou a lamb,
We are called
by His name.
Little Lamb,
God bless thee!
Little Lamb,
God bless thee!
O CORDEIRO
William Blake em Canções de Inocência
Tradução de Adriano Scandolara²
Cordeiro, quem te fez?
Tu sabes quem te fez?
Deu-te vida & deu repasto
Pelo riacho & sobre o pasto
Deu-te traje em puro agrado
Fofo traje, iluminado;
Deu-te a terna voz que bale,
Alegrando todo o vale?
Cordeiro, quem te fez?
Tu sabes quem te fez?
Tu sabes quem te fez?
Deu-te vida & deu repasto
Pelo riacho & sobre o pasto
Deu-te traje em puro agrado
Fofo traje, iluminado;
Deu-te a terna voz que bale,
Alegrando todo o vale?
Cordeiro, quem te fez?
Tu sabes quem te fez?
Cordeirinho, eu te digo,
Cordeirinho, eu te digo:
Pelo teu nome ele atende,
Como Cordeiro se entende.
Ele é de alma calma & mansa;
Ele se tornou criança.
Tu um cordeiro, criança eu,
A atender ao nome seu.
Benza Deus, Cordeirinho!
Benza Deus, Cordeirinho!
Cordeirinho, eu te digo:
Pelo teu nome ele atende,
Como Cordeiro se entende.
Ele é de alma calma & mansa;
Ele se tornou criança.
Tu um cordeiro, criança eu,
A atender ao nome seu.
Benza Deus, Cordeirinho!
Benza Deus, Cordeirinho!
EL CORDERO
William Blake: Canciones de Inocencia
traducción: Nicolás Suescún Peña³
¿Quién te hizo, Corderito?
¿Conoces a quien te creó?
¿Quién te dio la vida y te irguió
junto al arroyo y sobre el prado;
te dio un abrigo delicioso,
manto suave, lanoso, brillante;
te dio una voz tan tierna,
que causa regocijo en los valles?
¿Quién te hizo, Corderito?
¿Conoces a quien te creó?
Yo te lo diré, Corderito;
yo te lo diré, Corderito:
es llamado con tu nombre
pues a sí mismo se llama Cordero.
Es manso, y es sutil;
se volvió un niño pequeño.
Yo un niño, y
tú un cordero,
nos llaman con el mismo nombre.
¡Que Dios te bendiga, Corderito!
¡Que Dios te bendiga, Corderito!
THE TIGER
William Blake
in Songs of Experience
Tiger, tiger,
burning bright
In the forest
of the night,
What immortal
hand or eye
Could Frame
thy fearful symmetry?
In what
distant deeps or skies
Burnt the
fire of thine eyes?
On what wings
dare he aspire?
What the hand
dare seize the fire?
And what
shoulder and what art
Could twist
the sinews of thy heart?
And, when thy
heart began to beat,
What dread
hand and what dread feet?
What the
hammer? what the chain?
In what
furnace was thy brain?
What the
anvil? what dread grasp
Dare its
deadly terrors clasp?
When the
stars threw down their spears,
And watered
heaven with their tears,
Did he smile
his work to see?
Did he who
made the lamb make thee?
Tiger, tiger,
burning bright
In the
forests of the night,
What immortal
hand or eye
Dare frame
thy fearful symmetry?
O TIGRE
William Blake em Canções da
Experiência
Tradução: José
Paulo Paes⁴
O tigre Tigre, Tigre, viva chama
Que as florestas da noite inflama.
Que olho ou mão imortal podia
Traçar-te a horrível simetria?
Em que abismo ou céu longe ardeu
O fogo dos olhos teus?
Com que asas ousou ele o voo?
Que mão ousou pegar o fogo?
Que arte & braço pôde então
Torcer-te as fibras do coração?
Quando ele já estava batendo,
Que mão e que pés horrendos?
Que cadeia? Que martelo,
Que fornalha teve o teu cérebro?
Que bigorna? Que tenaz
Pegou-lhe os horrores mortais?
Quando os astros alancearam
O céu e em pranto o banharam,
Sorriu ele ao ver seu feito?
Fez-te quem fez o Cordeiro?
Tigre, Tigre, viva chama
Que as florestas da noite inflama,
Que olho ou imortal mão ousaria
Traçar-te a horrível simetria?
EL TIGRE
William Blake em Canciones de
Experiencia
traducción: Pablo Mané Garzón⁵
Tigre, tigre, que te enciendes en luz
por los bosques de la noche
¿qué mano inmortal, qué ojo
pudo idear tu terrible simetría?
¿En qué profundidades distantes,
en qué cielos ardió el fuego de tus ojos?
¿Con qué alas osó elevarse?
¿Qué mano osó tomar ese fuego?
¿Y qué hombro, y qué arte
pudo tejer la nervadura de tu corazón?
Y al comenzar los latidos de tu corazón,
¿qué mano terrible? ¿Qué terribles pies?
¿Qué martillo? ¿Qué cadena?
¿En qué horno se templó tu cerebro?
¿En qué yunque?
¿Qué tremendas garras osaron
sus mortales terrores dominar?
Cuando las estrellas arrojaron sus lanzas
y bañaron los cielos con sus lágrimas
¿sonrió al ver su obra?
¿Quien hizo al cordero fue quien te hizo?
Tigre, tigre, que te enciendes en luz,
por los bosques de la noche
¿qué mano inmortal, qué ojo
osó idear tu terrible simetría?
por los bosques de la noche
¿qué mano inmortal, qué ojo
pudo idear tu terrible simetría?
¿En qué profundidades distantes,
en qué cielos ardió el fuego de tus ojos?
¿Con qué alas osó elevarse?
¿Qué mano osó tomar ese fuego?
¿Y qué hombro, y qué arte
pudo tejer la nervadura de tu corazón?
Y al comenzar los latidos de tu corazón,
¿qué mano terrible? ¿Qué terribles pies?
¿Qué martillo? ¿Qué cadena?
¿En qué horno se templó tu cerebro?
¿En qué yunque?
¿Qué tremendas garras osaron
sus mortales terrores dominar?
Cuando las estrellas arrojaron sus lanzas
y bañaron los cielos con sus lágrimas
¿sonrió al ver su obra?
¿Quien hizo al cordero fue quien te hizo?
Tigre, tigre, que te enciendes en luz,
por los bosques de la noche
¿qué mano inmortal, qué ojo
osó idear tu terrible simetría?
Nota: Você encontra diferentes traduções do poema O Cordeiro em Tigres e cordeiros de Blake - parte 1 e do
poema O Tigre em Tigres e cordeiros de Blake - parte 2, na
revista digital escamandro. Há
material bem
interessante (em espanhol) sobre William
Blake em Club de Pensadores Universales..., e sobre o poema O Tigre, no site Rocko: Calvin, Hobbes & Blake: Después vendrían otros tigres...; no blog Borges todo el año: Blake y Swedenborg; no blog Salvo el Crepúsculo, alguns poemas com Tigre.
1. William Blake (1757-1827) foi
escritor, tipógrafo, artista gráfico, gravurista, ilustrador, artista plástico.
Há farto material (principalmente em inglês) na web: como biografia e obras,
ensaios críticos sobre a produção literária e plástica deste humanista genial. Recomendo:
William Blake Archive-1; William Blake Archive-2; William Blake Archive-3; Poetry Foundation; A cidade de Londres nas canções da experiência de William Blake (Flavia Maris Gil Duarte); Romantismo Inglês; Templo Cultural Delfos: William Blake - o poeta visionário. William
Blake é autor de: Poetical
Sketches (1783); There is no Natural
Religion (1788); All Religions Are
One (1788); Songs of Innocence
(1789); Book of Thel (1789); The French Revolution: A Poem in Seven Books
(1791); Ilustrações para Original Stories
from Real Life, de Mary Wollstonecraft (1791); A Song of Liberty (1792); The Marriage of Heaven and Hell (1793); Visions of the Daughters of Albion
(1793); America, A Prophecy (1793); Songs of Experience (1794); Songs of Innocence and of Experience (1794);
Europe, a Prophecy (1794); The Book of Urizen (1794); The Song of Los (1794); The Book of Ahania (1795); The Book of Los (1795); Ilustrações para Night Thoughts,
de Edward Young (1797); Milton
(1804); Ilustraçõe do livro The Grave,
de Robert Blair (1808);Everlasting
Gospel (1818); Jerusalem (1820); The Ghost of Abel (1822); Ilustrações para Dante's Divine Comedy
(1825); ilustrações para O livro de Jó
(1826). Fonte
Bibliográfica: Wikipédia.
2. Adriano Scandolara (nasceu em 1988) é
Bacharel em Letras - Português e Inglês, com ênfase em Estudos da Tradução,
pela Universidade Federal do Paraná. Mestre e Doutorando em Letras no programa
de Estudos Literários da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência com os
temas: poesia, literatura inglesa, romantismo, tradução, mito e filosofia da
linguagem. Lançou em 2013 o livro de poemas Lira de Lixo, e em 2017 o experimentalismo poético PARSONA. É colaborador do blog escamandro. Traduziu Oliver Stuenkel, Yaacov Hecht, Percy Bysshe
Shelley, John Milton, Marjorie Perloff, Hari Kunzru, Eduardo F. Calcines, R. L.
Hunter, William Faulkner, Prof. Hoffman, Robert E. Howard, E.W. Hornung, Henry
Rider Haggard, Robert Louis Stevenson, James Joyce, Thomas Wolfe , Samuel
Taylor Coleridge, Thomas Peacock, John Ashbery, James Joyce, W. B. Yeats. No
site de Adriano Scandolara onde você encontra o link para
conferir suas publicações e o currículo Lattes.
3. Nicolás Suescún Peña (Bogotá/Colômbia: 05/05/1937-14/04/ 2017) foi escritor de prosa e verso,
jornalista, professor, artista gráfico, artista plástico. Dirigiu a revista
literária Eco e foi chefe de redação
da revista Cromos, onde publicou artigos
sobre política internacional. Traduziu, entre outros, Ambrose
Bierce, Anne Marie Garat, Arthur Rimbaud, Christopher
Isherwood, Gustave Flaubert, Honore de Balzac, Jaime
Manrique, Robert Louis Stevenson, Stephen Crane, Wade
Davis, William Blake, William Butler Yeats, William
Shakespeare, William Somerset Maugham. É autor de contos: El
retorno a casa (1971); El último
escalón (1974); El extraño y otros
cuentos (1980); Oniromanía
(1996); de poemas: La vida es (1986);
Trés a.m. (1986); La voz de nadie (2000); Bag bag (2003); Este realmente no es el momento (2007); Empezar en cero (2007); Jamás
tantos muertos y otros poemas (2008); de novelas: Los cuadernos de N (1994); Opiana
(2015).
4.
José Paulo Paes (Taquaritiga-SP: 22/07/1926 – São Paulo-SP: 09/10/1998):
escritor de verso e prosa, tradutor, crítico literário e ensaísta brasileiro.
Morou e estudou em Curitiba, onde colaborou com a revista literária Joaquim,
dirigida por Dalton Trevisan. Em 1947 lançou O Aluno, seu primeiro livro. Colaborou com poemas e artigos para o
Jornal Notícias, O Tempo, Revista Brasiliense, O Estado de S.Paulo e Folha de
S.Paulo. Foi secretário da Associação Brasileira de Escritores e diretor da
Editora Cultrix. Traduziu William Blake, Charles Dickens, Joseph Conrad,
Konstantinos Kaváfis, Lawrence Sterne, Lewis Carrol, Pietro Aretino, W. H.
Auden, William Carlos William, J.K. Huysmans, Paul Éluard, Hölderlin, Paladas
de Alexandria, Edward Lear, Rilke, Seféris, Ovídio. José Paulo Paes é autor,
entre outros, de: Cúmplices (1951), Novas Cartas Chilenas (1954), Epigramas (1958); Anatomias (1967), Meia
Palavra (1973), Resídua (1980), É Isso Ali (1984), Gregos e Baianos (1985), A Poesia Está Morta Mas Juro Que Não Fui Eu
(1988), Poemas para Brincar - 1990, Prosas Seguidas de Odes Mínimas (1992), A Meu Esmo (1995), Um Passarinho Me Contou (1996), Poesia
Para Crianças (1996), A Revolta das
Palavras (1999) , Ri Melhor Quem Ri
Primeiro (1999), O Lugar do Outro (1999), Socráticas (1999).
5. Pablo Mañé Garzón nasceu em Montevideo
(Uruguai): 21/01/1921 e morreu em Barcelona (Espanha): 20.12.2004. O pintor,
escritor e tradutor uruguaio viveu na França de 1933 a 1939. Garzón estudou em
Paris, onde conheceu a arte vanguardista, e foi discípulo do escultor, pintor e
crítico de arte André Lhote (1885-1962). No retorno ao Uruguai se especializou
em crítica de musical e de artes plásticas e, a partir de 1956, foi colaborador
do semanário Marcha e do diário El País e expôs suas obras em Montevideo,
Buenos Aires e São Paulo. Doutor em Direito e Ciências Sociais, pela
Universidad de la República Oriental del Uruguay, não abandonou as artes
plásticas, mas começou a questionar pintura política e socialmente. Em 1969 se
mudou para Barcelona e em 1972 expôs na Sala Gaudí. Fundou a Academia de
Pintura e Desenho, em Mataró, em 1973. Por essa época divide-se entre as artes
plásticas (expôs em Barcelona, Madrid, Sevilla, Bilbao, Valladolid, Palma de
Mllorca) e as traduções de poetas clássicos e românticos, como William
Shakespeare, Walt Whitman, William Blake Edgar Allan Poe, Stéphane Mallarmé,
Paul Verlaine, Yukio Mishima, H. D. Lawrence. Pablo Mañé Garzón, que tem obras
de artes plásticas no Museo Nacional de Artes Visuales de Montevideo, Museu de
Arte Moderna de São Paulo, Museo de Arte de Toledo, em coleções do Banco de
España e Banco de Sabadell, é autor da novela El Rey Arturo y los Caballeros de La Tabla Redonda (1990).
"O cordeiro" é tão singelo e belo. Fez-me lembrar minha avó rezando para mim quando era bem pequeno.
ResponderExcluir..., que grata memória, Renê Oliveira. ..., a literatura é a mais confiável máquina do tempo. ..., até agora, pelo menos. ..., grato pela visita, leitura e compartilhamento de emoções.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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