domingo, 14 de outubro de 2018

Franz Kafka: Cinco Aforismos


Em novembro de 2012 publiquei, aqui no Falas ao Acaso, dois Aforismos de Franz Kafka, no original e em tradução do escritor catarinense Silveira de Souza para o português brasileiro. Dia desses, relendo o material em arquivo, decidi publicar mais cinco Aforismos de Kafka. Agora, além do original e das traduções do escritor e tradutor catarinense Silveira Souza, posto também as traduções feitas pelo filósofo, ensaísta e tradutor espanhol José Rafael Hernández Arias, publicadas em Franz Kafka - Aforismos, visiones y sueños (Lectulandia, 1998).



Cinco Aforismos de Franz Kafka

01. Der wahre Weg geht über ein Seil, das nicht in der Höhe gespannt ist, sondern knapp über dem Boden. Es scheint mehr bestimmt stolpern zu machen, als begangen zu werden.

01. O caminho verdadeiro segue por sobre uma corda, que não está esticada no alto, mas se estende quase rente ao chão. Parece mais determinado a fazer tropeçar, do que a ser transitável.

01. El camino verdadero transcurre sobre una cuerda que no ha sido tendida en las alturas, sino apenas a escasa distancia del suelo. Parece haber sido dispuesta para tropezar antes que para pasar sobre ella.

***

05. Von einem gewissen Punkt an gibt es keine Rückkehr mehr. Dieser Punkt ist zu erreichen.

05. A partir de um certo ponto não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado.

05. Si se llega a un punto determinado, ya no hay regreso posible. Hay que
alcanzar ese punto.

*** 

15. Wie ein Weg im Herbst: kaum ist er rein gekehrt, bedeckt er sich wieder mit den trockenen Blättern.

15. Como um caminho no outono: mal é varrido para limpeza, cobre-se de novo de folhas secas.

15. Como un camino en otoño: tan pronto como se barre, vuelve a cubrirse de hojas secas.

***

36. Früher begriff ich nicht, warum ich auf meine Frage keine Antwort bekam, heute begreife ich nicht, wie ich glauben konnte fragen zu können. Aber ich glaubte já gar nicht, ich fragte nur.

36. No passado eu não compreendia porque não encontrava respostas às minhas perguntas; hoje não compreendo como podia acreditar que pudesse perguntar. Entretanto, eu não acreditava, perguntava somente.

36. Antes no entendía por qué no recibía ninguna respuesta a mi pregunta, hoy no comprendo cómo pude creer que podía preguntar. Pero antes no creía en absoluto, sólo preguntaba.

 ***

47Es wurde ihnen die Wahl gestellt Könige oder der Könige Kuriere zu werden. Nach Art der Kinder wollten alle Kuriere sein. Deshalb gibt es lauter Kuriere, sie jagen durch die Welt und rufen, da es keine Könige gibt, einander selbst die sinnlos gewordenen Meldungen zu. Gerne würden sie ihrem elenden Leben ein Ende machen, aber sie wagen es nicht wegen des Diensteides.

47. Foi dada a eles a escolha de se tornarem reis ou mensageiros de reis. Com a ingenuidade das crianças todos escolheram ser mensageiros. Eis porque só existem mensageiros, que correm pelo mundo e, como não há mais reis, gritam uns para os outros mensagens que não têm mais sentido.

47. Se les concedió la facultad de elegir entre ser reyes o mensajeros de los reyes. Como los niños, eligieron ser mensajeros. Por esta causa hay mensajeros vocingleros que recorren el mundo y, como ya no hay reyes, intercambian entre ellos mismos las noticias carentes de sentido. Con placer pondrían fin a sus vidas miserables, pero no osan hacerlo por el juramento profesional.


ilustração: desenho original de Franz Kafka


Franz Kafka (Praga-República Checa: 03.07.1883 - Klosterneuburg-Áustria: 03.08.1924), com formação em direito e trabalhando em uma companhia de seguros, começou a escrever em suas horas vagas, que reclamava serem poucas para se dedicar ao “seu chamado literário”. Kafka, que é considerado um dos mais influentes autores do séc. XX, cresceu sob as influências das culturas judia, tcheca e alemã, publicou A Metamorfose (1915), Carta a meu Pai (1919), Na Colônia Penal (1919), Um Médico Rural (1919), Um Artista da Fome (1922)..., sem muita repercussão. A fama veio logo após a sua morte, com o patrocínio de seu amigo Max Brod para o lançamento de O Processo (1925); O Castelo (1926); O Desaparecido (1927); A Grande Muralha da China (1931). Para saber muito mais: Wikipédia: Franz Kafka; El País: Franz Kafka;  Almanaque Folha.UOL: Franz Kafka; Cultura Genial: Livro A Metamorfose de Franz Kafka; CULT: Franz Kafka; Revista Bula: Meus Encontros com Kafka; Scielo: Kafka, Benjamin: o natural e o sobrenatural; Revista Serrote: Os Aforismos reunidos de Franz Kafka; Revista Terceira Margem: Quatro glosas a Kafka; Revista USP: Franz Kafka: Raízes; NCBI: Franz Kafka (1883-1924); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações: As múltiplas religiosidades na literatura de Franz Kafka; Periódicos UFPB: Franz Kafka; Guimarães Rosa; Sociedade do Controle Integrado; France Culture: Franz Kafka (1883 - 1924): l'étrange étranger.

João Paulo Silveira de Souza (Florianópolis-SC, 27.07.1933) é jornalista, tradutor e escritor brasileiro. Entre outras atividades educacionais e culturais, foi diretor do mensário de literatura e arte Roteiro; diretor da Divisão de Informação e Divulgação do Departamento de Extensão Cultural da UFSC e coordenador das seguintes Edições FCC da Fundação Catarinense de Cultura: Boi-de-Mamão (79 a 81); Cadernos da Cultura Catarinense (84-85) e Escritores Catarinenses (90-91); Dirigiu o grupo teatral TESC (Teatro Experimental de SC); Integrante do Círculo de Arte Moderna conhecido como Grupo O Sul, movimento literário e artístico Modernista, Silveira de Souza, escritor eleito para a cadeira 33 da Academia Catarinense de Letras, é autor de O Vigia e a Cidade (1960); Uma Voz na Praça (1962); Rumor de Folhas (1966); Quatro Alamedas (1976); Os Pequenos Desencontros (1977); O Cavalo em Chamas (1981); Canário de Assobio (1985); Ybris (1989); Um ônibus e Quatro Destinos (1984); Relatos Escolhidos (1998); Trololó para Flauta e Cavaquinho (1999); Contas de Vidro (2002); Janela de Varrer (2006); Ecos no porão: contos selecionados pelo autor (2010-2011). Para saber mais: Ecos no Porão, obra maior de Silveira de Souza; Contista Silveira de Souza lança duas obras pela editora da UFSC.

José Rafael Hernández Arias é advogado, filósofo, ensaísta e tradutor espanhol. Autor de inúmeros artigos sobre a cultura alemã e anglo-saxã, é tradutor, entre outros de Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer, Max Stirner, Franz Kafka, Thomas de Quincey, Jean Gebser, GK Chesterton, Gustav Meyrink, E.T.A Hoffman, Hanns Heinz Ewers, Kar Hans Strobl, F. Adolph Knigge, Georg Christoph Lichtenberg, Georg Simmel, Oscar Wilde, Paul Creswick, Herman Melville. Infelizmente não encontrei outras informações além destas na web, sobre o tradutor Caso saiba de algo mais, entre em contato.

2 comentários:

  1. Muito bom, como sempre!
    Desconhecia esses aforismos. Obrigado pela publicação.
    Abraços.

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  2. ..., gratíssimo, Renê Oliveira, por mais esta visita e considerações. ..., grande abraço!

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