domingo, 9 de dezembro de 2018

Joba Tridente: Palhaço


a cada dia a saída da crise constitucional se adia nas américas e arredores. são poucos os lugares onde a luz chega antes do fim do túnel nas américas e arredores. a grande lona do circo das ilusões é esticada ao extremo nas américas e arredores. sob ela o povo se espreme para saborear o pão do palhaço que o diabo amassou. palhaço é um poema (inacabado?) catártico..., o meu epílogo para 2018 nas américas e arredores desgovernados.

                         
palhaço
joba tridente

I
cada povo tem
o círculo que merece
cada círculo tem
o circo que aparece
cada circo tem
o palhaço que padece

conforme a conveniência do ato
                          recebe
palmas ou palmadas

ovação ou uivo
                   é mera questão de métrica

II
o palhaço só é de estima
                           se partido
                           se inteiro
                           o palhaço só é bucha

III
no picadeiro
sempre há
                              ..., verá!
alguém da arquibancada
aparando a grama
afofando a serragem

nas cadeiras
sempre há
                             ..., verá!
alguém a (a)pagar ratos
sem deixar rastros
                     na cova do leão
que na reta
             guarda silêncio
             se dela a ação
             miado vira urro

IV
o ingresso do comum
não garante
o espetáculo no globo
                        da morte à sorte
cabeças não rolam
pra quem sabe a arte
                            de rapinar

a magia com números
                        e cartas
                        marcadas não é
para amadores
se cabe em qualquer caixa
para armadores

V
nem trapézio
          nem corda bamba
         nem malabares

a função do palhaço
                      é confundir
                      os inocentes
(in)úteis
os que creem no seu sermão
de pai paspalho da pátria
                              armada
a salva aleatória que rico chateia
                                      na retórica
do bobo do congresso
que entorna a dialética
            na fantasia bufa
            que induz o risco
                               franco
na gargalhada interrompida
ao final do algodão
                         doce
no palito envenenado

VI
enquanto ilude o público
o palhaço da vez
considera sua dor privada
                                        ..., e
                  em meio a tapas
na circunstância circular do picadeiro
borra a maquiagem
              cômica na intenção
              que se faz trágica
na face sugestiva
que lhe sucede ao ato
          afiado na língua
                         mordaz

VII
..., palhaço de dentadura
      ladra até dentes de leite derramados

*
ilustração: joba tridente. 2018


Joba Tridente, um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

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