no  tal  natal
joba tridente
I
da minha janela
ano   a ano      a ano         a ano
nosedifíciosquemecercam
janelas desnatalizadas
não mais um pi*ri*lam*pe*jar
aqui!                   acolá!                 ali!          adiante!
não mais um duelo de luzes
azuis*          verdes*          vermelhas* 
amarelas*          brancas*          lilases*
de janela a janela e prédio a prédio
não mais piscadeiras noite adentro
nos pinheirinhos artificiais
nos cantos habituais das salas e sacadas
com seus enfeites de terras outras
com sua neve de estações outras..., de longe..., 
lonnge..., lonnnge..., lonnnnge..., 
 
       que não daqui
ano   a ano      a ano         a ano
desnatalizando sentimentos
a primavera cede ao verão
dias loooooooooongos
chuvas loooooooooongas
noites estreladas
..., de ver planetas distantes
..., da lua mudar de cor
..., de ainda ouvir algum sabiá solitário
o silêncio urra sua mágoa
em tempo de pandemia viral
a solidão das janelas é maior
a dor não tem luminescência 
o deus menino é natimorto
II
: uma criança de ontem
  monta seu Matinho de
Natal
  com laminado de maço
de cigarros
          as
florezinhas amareladas
          as
pequenas bolotas prateadas
           os fiapos
coloridos do celofane 
       das cestas de Natal
 caixinhas e pedrinhas embrulhadas
                     com
papel de bala de fruta
 
                   com páginas coloridas de revistas
 ..., dão cor à fantasia infantil
      gravetos são gentes e animais
   
  ao pé do Matinho de Natal
   
  ali rente à cerca
   
  no caminho de formigas
   
  e de minhocas e de tatuzinhos bola
    
 talvez uma borboleta pouse de
ponteira
   
  talvez os vaga-lumes pousem de pisca-pisca
: amanhã a brincadeira será outra
  catar pedras entre as
vigas da linha do trem
  e montar o presépio 
                      
sobre a estante azul
                                            do rádio
                      
bem ali na passagem da sala
                                             
para o corredor
   bem ali
sobre a estante azul
   forrada
com papel imitando pedra
  o
presépio
           a gruta de pedras
                           
com seus personagens de louça lascada
   e uma
pequena árvore de natal
   coberta
de bolas coloridas e pisca-pisca
   sobre
um chão de terra 
                     com laguinho de espelho
   caminho
de pastores e de animais 
                     entre
a plantação de arroz
                             
   que cresce dia a dia
  até ser jogada fora
               ..., no Dia de Santos Reis
III
duas janelas
um olhar que dilui no passado
um olhar que não compõe o presente
em tempos de pandemia
há uma piscadela no fim do túnel
as janelas estão abertas
jt.16.12.2020
joba tridente
à noite
em meio ao grito desesperado das sirenes
das ambulâncias recheadas de infectados
que cruzam com motoqueiros imbecilizados 
e motoristas sem rumo e ciclistas sem rumo
..., in delivery covid 
pisca que
pisca
nas janelas
que avizinham
à minha
frente e ao meu lado 
o
pisca-pisca nas árvores natalinas
                         vestidas à toa para um natal
               paralisado
no calendário
               da
agenda jamais preenchida
ainda
montada no canto da sala
com suas
bolas coloridas
refletindo o
tino dos dias
pestilentos
e nefastos
piscam que
piscam
nas janelas
que me avizinham
filigranas
da memória natalina
        de um não-ontem
        de um
talvez-amanhã 
incertas do
brilho cadencioso
na
ambulância no pinheirinho no camburão
na sirene no
sino..., que tilinta pequenino 
até o de
novo a outra vez da data 
a se comemorar os sobreviventes
a se lamentar os mortos
a se abominar os imprudentes
à frente e à
esquerda de mim
piscam e
piscam lamuriosas luzinhas
nos
pinheirinhos de ráfia
notívagas
conversas luzindo
         nas noites e
noites de verão 
sonâmbulos
balbucios luzindo 
         nas noites e
noites de outono
piscam que piscam
entre si
iluminando o
silêncio na sala vazia
em colorida balburdia 
ali  e     aqui
e    ali    e    aqui
  e
      ali
verde branco vermelho azul
amarelo
lilás
sinais
atravessando a noite 
                                    
atravessando as paredes 
lilás amarelo
azul vermelho
branco
verde
......................................................,
piscam que piscam entre si
talvez a promessa pela cura
do pestilento coronavírus
piscam que piscam entre si
talvez a memória de quem se foi
piscam que piscam entre si
talvez a dor de quem ficou
piscam que piscam entre si
na sua conversa insone
talvez da gana assassina 
do genocida da nação
e sua quadrilha descerebrada
.........................................................
piscam que
piscam sem se saber
um e outro
um do outro 
                     além do brilho fátuo
os
pisca-piscas em seus pretéritos 
                                              
natais
jt.14.04.2021
ao gosto natalino
joba tridente
I
agosto ainda pelo meio
pandemia arrefecendo
nas notícias de obituário
entre máscaras e termômetros e álcool-gel 
lojas armam-se de árvores de natal
tão cedo e tão crentes
a mirar nos desejos consumidores
nos arredores 
longe dos piscas-piscas 
e enfeites multicoloridos
à sombra das notícias capitais
brasileiros famintos 
chafurdam caçambas de lixo
escalam depósitos de rejeitos
antes dos porcos de abate
garimpando pelancas e ossos e restos
escorrendo sangue de esgoto 
de quaisquer (outros) animais 
descartados pelos açougues
e matadouros vinte e quatro horas
de matança irracional 
feito zumbis em fuga
protegendo seus salvados
e que refletidos disformes
nas bolas brilhantes da árvore de artifício
coberta de flocos de neve de algodão
não se reconhecem humanos
não se reconhecem filhos da mesma mãe gentil
protetora de políticos e assemelhados
II
chuva e frio nos dias de primavera-invernal
que adentram setembro e outubro
e novembram sextas-feiras negras
nas semanas torpes de velhos enfeites
do ano passado do passado ano
de antes da pandemia que da China
de outra crença chegaram nas cores
e nos brilhos da ideia coca-cola natalina
de papais e mamães e filhos Noel
ao redor de renas e de mulas e presépios
que no lusco-fusco enternece o mendigo
que sem teto e sem panetone
reza ao brinquedo que dança e dança
e o saúda e o abençoa em ho! ho! ho!
em frente à loja de quinquilharias
por um prato de comida 
e um emprego depois
antes que a droga lhe dê mais
uma rasteira no crack e no álcool
um anjo voa capenga na ponta
de um verde galho da árvore
disfarçada de pinheiro americano
enquanto luzes piscam e piscam
no mesmo tom da canção de Assis Valente
a lembrar que nem todo mundo
é filho do tal Papai Noel
ou tem pai ou tem mãe ou tem deus
- tio*tia*senhor*senhora*
  me*dá*um*troco*
  cinquenta*centavo*um*real*cinco*real*
  pra*comida*pra*bebida*pro*crack*
- tó*não*tenho*procura*assistência*social*
......................................................................,
o deus*te*abençoe*
soa como praga
da frase que enfeita a mendicância
escoaaaaaaannnnnnndooo atrás 
do bon*do*so*blém*blim*blom*
escoaaaaaaannnnnnndooo atrás
do mal*do*so*blim*blom*blém*
no badalo vivo da graça
no badalo seco do aflito
..., céu e inferno na porta
      da loja de
bugigangas 
jt.14/11/2021
• n • a • t • a • l •
joba tridente
01
: há alguns anos
             não mais 
p*e*r*i*l*a*m*p*e*j*a*m 
             em casas
             em
apartamentos 
             em redor
luzetas coloridas
prenunciando árvores de natal 
nevadas de algodão
..., e de melancolia
na memória
piscam e piscam
coloridas lembranças 
                 
infantis
de quando o natal 
era coisa de dezembro
assim como a manga
que vai perdendo o sabor
              durante o
ano
                                 inteiro
02
na ânsia capital 
                do
presente
o natal que começa
entre abóboras e caldeirões
                           
na confusão 
das bruxas de outubro
invocadas em setembro
vira-rá-rá e vira-lá-lá guirlanda-dá-dá
         no grito de carnaval
         no distraído
janeiro 
                          
..., de reis
jt.2019/2021
Joba Tridente,
um livre pensador livre. artesão de imagens e de palavras em 
Nenhum comentário:
Postar um comentário