segunda-feira, 15 de março de 2021

Mulheres Poetizam

 


MULHERES POETIZAM

Neste março de 2021 que, ao reflexo de 2020, ainda nos aborrece e nos amortece com a pestilência do coronavírus..., a Revista Carlos Zemek - Arte e Cultura, está lançando mais um ebook literário grátis. Desta vez, em comemoração ao mês dedicado às mulheres, a antologia Mulheres Poetizam, organizada pela escritora Isabel Furini.

Em seu prefácio, a escritora e editora Chris Herrmann, enfatiza: Mulheres Poetizam é mais do que simplesmente uma antologia que empilha poemas de autoras ‘de versos’. É um projeto que já carrega em si, mesmo antes de se ler os poemas, vários aspectos que fazem toda a diferença. (...) Estamos no mês dedicado às mulheres, em um momento pandêmico e político terrível, doído e complicado, onde as vozes femininas, especialmente nas artes, são ainda mais necessárias e urgentes. (...) Obviamente que a antologia não tem a pretensão de abarcar vozes de todas as grandes poetas existentes em um país imenso e continental como o Brasil. Contudo, esta seleção de 26 poetas é, por excelência, uma mostra honrosa da boa literatura poética feita por mulheres em nosso país. (...) Como espelhos do cristal mais fino que existe, seus textos são sutis e provocantes. (...) Refletem a essência da verdade em seus ‘gritos e sussurros’: espelham a alma feminina-feminista ancestral, contemporânea e universal.”

Para esta postagem especial, selecionei e ilustrei poemas de cinco autoras: Bárbara Lia (Poema sem título), Adriane Garcia (Leve), Jéssica Iancoski (Sem a palavra, o amor não acontece), Flávia Quintanilha (Estrela) e Etel Frota (Trágico). Para conhecer os poemas das outras vinte e uma escritoras, basta acessar o link Mulheres Poetizam, baixar o ebook gratuitamente e ou ler online



 

 







Poema sem título

Bárbara Lia

 

ruas respiram o calor da vida

quando as portas se abrem

na madrugada

 

só da minha porta escoa

a aragem fria

da solidão calcinada

 

lençóis de linho

em desalinho

de saudade

 

silêncio

de paredes

órfãs

 

tudo ignorado

pela ikebana

sorrindo luz

no canto da sala

 

Bárbara Lia (1955). Poeta e Escritora. Livros publicados: O sal das rosas (Lumme), A última chuva (Mulheres Emergentes), Solidão Calcinada (Imprensa Oficial - PR/), A flor dentro da árvore, Forasteira (Vidráguas), As filhas de Manuela (Triunfal.), Não o convidei ao meu corpo (Kazuá), entre outros. Vive em Curitiba. http://www.chaparaasborboletas.blogspot.com

 

 










Leve

Adriane Garcia

 

Abrir gavetas e armários

Retirar coisas

Tudo que sobra

 

Não ter medo de olhar

Para dentro das gavetas e armários

E retirar tudo que sobra

 

Passar adiante

Com menos, sempre menos

Até voar sem as horas.

 

Adriane Garcia (BH/MG), poeta. Publicou Fábulas para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018), Arraial do Curral del Rei – a desmemória dos bois (ed. Conceito Editorial, 2019) e Evaproto-poeta (ed. Caos & Letras, 2020).

 

 










Sem a palavra, o amor não acontece

Jéssica Iancoski

 

para Christian Dunker

 

o sexo representa o infantil

preenche-se a falta com

o gozo da infância indolente

onde não há uma palavra gentil

há o gosto do beijo

que sedento toma a frente

a vagina oca molhada

consumindo o falo sustenido

num vagido puro da libido

quanto mais se aprende a fala

quanto menos a laringe entala

menor é o vazio, maior é o brio

sem a palavra não conjuga-se

o verbo da fala,

o desejo é a regência

da falta.

 

Jéssica Iancoski é escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas. Teve o poema Rotina Decadente reconhecido pela Academia Paranaense de Letras. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify. Com mais de 36 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo. www.jessicaiancoski.com e @Euiancoski

 











estrela

Flavia Quintanilha

 

quando amei aquela estrela

deixei o cinza no fundo da gaveta

sorri colorido

e foram verdes minhas mãos

 

em seus olhos vi o universo

espalhado em folhas

numa muda de alfazema

e meus cabelos ventavam alecrim

 

em seus beijos desenhei a pétala

o jardim cantava pimentas

num lençol de algodão

e os quadros se firmaram no ar de

nossos poemas

 

tentei alcançar aquela estrela

nas receitas que não cozi

nas rendas que acabei ao tecer

fechaduras

e meu corpo já não me comporta

 

nem as folhas

nem as asas

 

quando amei aquela estrela

virei pó

 

Flavia Quintanilha é poeta e filósofa. Membro colaborador no Instituto de Estudos Filosóficos na Universidade de Coimbra e editora associada na revista Philosophy International Journal. Pesquisa sobre hermenêutica filosófica principalmente nos temas metaética, metapoesia e deep ecology. Publicou os livros Aporias da Justiça (Novas edições Acadêmicas - 2015), A mulher que contou a minha história (Kotter - 2018) e Desabotoar (Patuá – 2020).

 

 










Trágico

Etel Frota

 

para Abílio

 

lavra o árido

cala o ávido

anacrônico

 

verte o cálido

fala o óbvio

pentatônico

 

lega o ótimo

vai, num átimo

cessa, anônimo

 

Etel Frota, nasceu em 1952, em Cornélio Procópio (PR). Médica, começou a escrever depois dos 40 anos. Em 2002 lançou Artigo oitavo - poesia escrita, falada e cantada. Letrista de canções, em 2007 publicou Lyricas, a construção da canção, reunindo em songbook uma produção que tem sido gravada por importantes artistas da cena musical brasileira. Seu primeiro romance, O herói provisório é de 2017. Em 2019 participou de Mahadevi, a árvore da vida, poesia para a fotografia de Dani Leela. Premiada em certames de literatura, música e dramaturgia. Membro da Academia Paranaense de Letras.



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