Neste março de 2021 que, ao reflexo de 2020, ainda nos aborrece e nos amortece com a pestilência do coronavírus..., a Revista Carlos Zemek - Arte e Cultura, está lançando mais um ebook literário grátis. Desta vez, em comemoração ao mês dedicado às mulheres, a antologia Mulheres Poetizam, organizada pela escritora Isabel Furini.
Em seu prefácio, a escritora e editora Chris Herrmann, enfatiza: “Mulheres Poetizam é mais do que simplesmente uma antologia que empilha poemas de autoras ‘de versos’. É um projeto que já carrega em si, mesmo antes de se ler os poemas, vários aspectos que fazem toda a diferença. (...) Estamos no mês dedicado às mulheres, em um momento pandêmico e político terrível, doído e complicado, onde as vozes femininas, especialmente nas artes, são ainda mais necessárias e urgentes. (...) Obviamente que a antologia não tem a pretensão de abarcar vozes de todas as grandes poetas existentes em um país imenso e continental como o Brasil. Contudo, esta seleção de 26 poetas é, por excelência, uma mostra honrosa da boa literatura poética feita por mulheres em nosso país. (...) Como espelhos do cristal mais fino que existe, seus textos são sutis e provocantes. (...) Refletem a essência da verdade em seus ‘gritos e sussurros’: espelham a alma feminina-feminista ancestral, contemporânea e universal.”
Para esta postagem especial, selecionei e ilustrei poemas de cinco autoras: Bárbara Lia (Poema sem título), Adriane Garcia (Leve), Jéssica Iancoski (Sem a palavra, o amor não acontece), Flávia Quintanilha (Estrela) e Etel Frota (Trágico). Para conhecer os poemas das outras vinte e uma escritoras, basta acessar o link Mulheres Poetizam, baixar o ebook gratuitamente e ou ler online.
Poema sem título
Bárbara Lia
ruas respiram o calor da vida
quando as portas se abrem
na madrugada
só da minha porta escoa
a aragem fria
da solidão calcinada
lençóis de linho
em desalinho
de saudade
silêncio
de paredes
órfãs
tudo ignorado
pela ikebana
sorrindo luz
no canto da sala
Bárbara Lia (1955). Poeta e Escritora. Livros
publicados: O sal das rosas (Lumme), A última chuva (Mulheres Emergentes),
Solidão Calcinada (Imprensa Oficial - PR/), A flor dentro da árvore,
Forasteira (Vidráguas), As filhas de Manuela (Triunfal.), Não
o convidei ao meu corpo (Kazuá), entre outros. Vive em Curitiba. http://www.chaparaasborboletas.blogspot.com
Leve
Adriane Garcia
Abrir gavetas e armários
Retirar coisas
Tudo que sobra
Não ter medo de olhar
Para dentro das gavetas e armários
E retirar tudo que sobra
Passar adiante
Com menos, sempre menos
Até voar sem as horas.
Adriane Garcia (BH/MG), poeta. Publicou Fábulas
para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca
do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com
peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Garrafas ao mar (ed. Penalux,
2018), Arraial do Curral del Rei – a desmemória dos bois (ed. Conceito
Editorial, 2019) e Evaproto-poeta (ed. Caos & Letras, 2020).
Sem a palavra, o amor não acontece
Jéssica Iancoski
para Christian Dunker
o sexo representa o infantil
preenche-se a falta com
o gozo da infância indolente
onde não há uma palavra gentil
há o gosto do beijo
que sedento toma a frente
a vagina oca molhada
consumindo o falo sustenido
num vagido puro da libido
quanto mais se aprende a fala
quanto menos a laringe entala
menor é o vazio, maior é o brio
sem a palavra não conjuga-se
o verbo da fala,
o desejo é a regência
da falta.
Jéssica Iancoski é escritora, poeta e artista
plástica. Publicou em várias antologias e revistas. Teve o poema Rotina
Decadente reconhecido pela Academia Paranaense de Letras. É idealizadora do
Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de
poesias, segundo o Spotify. Com mais de 36 mil ouvintes diferentes, ao longo
do tempo. www.jessicaiancoski.com e @Euiancoski
estrela
Flavia Quintanilha
quando amei aquela estrela
deixei o cinza no fundo da gaveta
sorri colorido
e foram verdes minhas mãos
em seus olhos vi o universo
espalhado em folhas
numa muda de alfazema
e meus cabelos ventavam alecrim
em seus beijos desenhei a pétala
o jardim cantava pimentas
num lençol de algodão
e os quadros se firmaram no ar de
nossos poemas
tentei alcançar aquela estrela
nas receitas que não cozi
nas rendas que acabei ao tecer
fechaduras
e meu corpo já não me comporta
nem as folhas
nem as asas
quando amei aquela estrela
virei pó
Flavia Quintanilha é poeta e filósofa. Membro
colaborador no Instituto de Estudos Filosóficos na Universidade de Coimbra e
editora associada na revista Philosophy International Journal. Pesquisa sobre
hermenêutica filosófica principalmente nos temas metaética, metapoesia e deep
ecology. Publicou os livros Aporias da Justiça (Novas edições Acadêmicas
- 2015), A mulher que contou a minha história (Kotter - 2018) e Desabotoar
(Patuá – 2020).
Trágico
Etel Frota
para Abílio
lavra o árido
cala o ávido
anacrônico
verte o cálido
fala o óbvio
pentatônico
lega o ótimo
vai, num átimo
cessa, anônimo
Etel Frota, nasceu em 1952, em Cornélio
Procópio (PR). Médica, começou a escrever depois dos 40 anos. Em 2002 lançou Artigo
oitavo - poesia escrita, falada e cantada. Letrista de canções, em 2007
publicou Lyricas, a construção da canção, reunindo em songbook
uma produção que tem sido gravada por importantes artistas da cena musical brasileira.
Seu primeiro romance, O herói provisório é de 2017. Em 2019 participou de
Mahadevi, a árvore da vida, poesia para a fotografia de Dani Leela.
Premiada em certames de literatura, música e dramaturgia. Membro da Academia Paranaense
de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário