sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Joba Tridente: Livros Encantados


Livros Encantados
Joba Tridente

Livros que falam. Livros em pano. Livros em plástico.
Livros que se montam. Desmontam. Fragmentam.
Livros que viram castelos. Que viram peixes. Viram cobras. Borboletas.
Livros pincelados de prata. Tinta metálica refletindo a luz na água, nas estrelas, no papel.
Livros que buscam a atenção total dos pequenos e iniciantes leitores, com ilustrações para todos os gostos. Com efeitos especiais para todos os bolsos. Sim, porque gosto e bolso nem sempre são compatíveis e/ou cabem na mesma carteira. Assim...

As boas ilustrações sempre foram um grande convite à leitura, para quem precisa de algum incentivo para abrir um livro e se deixar levar por emoções outras. A arte de ilustrar um texto para contar uma história ou ser a própria história sem qualquer texto, acompanha o homem, e alguns outros animais não-humanos, desde a pré-história. Não são poucos os animais não-homens que, no acasalamento, ilustram as suas qualidades com cantos, danças, vôos, construção de fantásticos abrigos ou ninhos e ensinam aos filhotes as cores e as texturas que diferenciam a caça boa da venenosa. Para muitos, a camuflagem é uma arte que faz todos parecerem ser o que nunca foram. Ilusão que acompanha textos, personagens, ilustrações e animais de todas as ordens, até os humanizados.

Muitos dizem que, antigamente (sempre lá!), um livro não precisava de tanto subterfúgio para chamar a atenção do pequeno leitor, explorando (por exemplo) ilustrações que desviassem a atenção do texto. Bastava ter uma boa história. Hoje é preciso muito mais que uma boa história. Ele tem que interagir. Ser mais que virtual. É a tal da multimídia influenciando o ato de ler, o ato de ver, o ato de ouvir uma história. As ilustrações que­ já foram básicas, em preto e branco ou coloridas, agora obedecem aos padrões (ou seria patrões?) do mercado das idades. O caminho que era suave, agora oferece curvas rápidas, encruzilhadas inesperadas. Frutos do nosso tempo que serão questionados amanhã, se não surtirem o efeito esperado pelos editores, autores e ilustradores.

Lia-se mais antes, é claro. Principalmente quem era do interior e não tinha e nem sabia o que era ou fazia uma televisão. Então, ocupava-se o tempo de uma forma diferente. Havia um mundo, além das ruas, cercas, muros e quintais, para ser descoberto e gibis (HQ) para serem lidos às escondidas. Havia a noitada de causos e outras histórias, vagando entre cadeiras esparramadas nas calçadas, no verão, ou aconchegadas na cozinha, junto ao fogão de pó de serra ou a lenha, no inverno. Havia a antologia escolar reunindo contos de autores nacionais e (principalmente) estrangeiros, cujos nomes nem eram citados. Ah, os belos livros das Fábulas de La Fontaine ilustrados por Gustave Doré! Para onde será que foi o tempo?

Hoje a imaginação é cada vez mais coletiva. Cada vez mais lugar comum. Mesmo que cada um continue sendo cada vez mais cada um. Ela já vem pronta para o consumo e ao gosto do freguês. Está ao toque do controle remoto ou do ‘rato’ do computador. Os ilustradores precisam bem mais que simples ousadia, se querem prender a atenção do leitor pelos olhos, pela cor, pelo som e (quem sabe?), pelo sabor, antes mesmo que pelo texto. A ‘embalagem’ de um produto para a educação ou puro lazer, é mais que fundamental para o sucesso de uma publicação. Os pequenos multimidiados leitores não querem menos. Não esperam menos, mesmo não sabendo o que esperar de um livro destinado ou imposto às suas idades.

ilustração: capa de Manoel Victor Filho

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