A vida da
gente é feita de lembranças e de esquecimentos. Dizem que o cérebro escolhe o
que lembrar e o que esquecer. Será? Às vezes somos atropelados por algo que
queríamos esquecido ou saudado pela memória afetiva. Se escritor, as lembranças
viram prosa ou poesia, como esta de Helena
Kolody:
Cantiga
de Recordar (1970)
Doce lembrança orvalhada
de madrugadas antigas.
Fumaça de chaminé
subindo na manhã fria.
Florescida malva-rosa
debruçada no jardim.
Uma revoada de sonhos
na vida que amanhecia.
Cantiga de recordar...
Ai, que saudade de mim!
..., ou,
ainda, como esta de Carlos Drummond de
Andrade (1902 - 1987) em Boitempo:
Copo d’água
no sereno
O copo no peitoril
convoca os eflúvios da noite.
Vem o frio nevoso
da serra.
Vêm os perfumes brandos
do mato dormindo.
Vem o gosto delicado
da brisa.
E pousam na água.
ilustração
de Joba Tridente
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