Massacres e Mortes dos Irantxe
marechal
Cândido Rondon
“Nada se
deve temer da índole pacífica e até mesmo tímida dos Iranche. Mas, apesar
disso, o truculento seringueiro entendeu que era necessário expeli-lo das proximidades
do ponto em que se estabelecera; e como por ali existisse uma aldeia, assentou
dar-lhe cerco, com o auxílio dos camaradas, todos armados de carabinas.
Pela
madrugada, ao recomeçar a cotidiana labuta daquela misérrima população, a
celerada emboscada rompeu fogo, abatendo os que primeiro saíram das casas para
o terreiro. Os que não morreram logo, encerraram-se nas palhoças, na vã
esperança de encontrarem aí abrigo contra a sanha de seus bárbaros e gratuitos inimigos.
Estes porém já estavam exaltados pela vista do sangue das primeiras vítimas e
nada os impedia de darem largas à sua fome de carnagem. Então, um deles, para
melhor trucidar os misérrimos foragidos, resolveu trepar à coberta de um dos
ranchos, praticar nela uma abertura e, por esta, metendo o cano da carabina,
foi visando e abatendo uma após a outra as pessoas que lá estavam, sem
distinguir sexo nem idade. Acuados assim com tão execrável impiedade, os índios
acabaram tirando do próprio excesso do seu desespero a inspiração de um
movimento de revolta: uma flecha partiu, a primeira e única desferida em todo
este sanguinoso drama, mas essa embebeu-se na glote do crudelíssimo atirador,
que tombou sem vida.
A só
lembrança do que então se seguiu faz tremer de indignação e vergonha. Onde
haverá alma de brasileiro que não vibre uníssona com a nossa, ao saber que toda
aquela população, de homens, mulheres e crianças, morreu queimada, dentro de
suas palhoças incendiadas?”
Fonte: Brasil Indígena - Ano III nº5 - dezembro/janeiro 2007 -
publicação da Fundação Nacional do Índio – FUNAI.
NOTA: O índio da foto (FUNAI) não esta relacionado à matéria. Hoje é o Dia (oficial) do Índio. Antes todo dia era dia de índio!
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