quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Poemas Chineses - 1: Li Tai Pô



Não me lembro desde quando guardo comigo um livro: Cem Poemas Chineses, com tradução, apresentação e notas de Hugo de Castro, publicado pela Vertente Editora, em 1978. Nada encontrei sobre o tradutor, na web. A edição (do autor?) traz belíssimos poemas. Alguns lembram o Hai-Kai, o Tanka...

Para Hugo de Castro: A poesia teve sempre uma grande importância na China: cultivaram-na durante mais de trinta séculos, rainhas, e imperatrizes, imperadores e reis, nobres, favoritas, guerreiros, bonzos, magistrados, toda a gente, enfim. Incentivada pelos príncipes, que a julgavam tão necessária a seus súditos quanto o arado, aureolava com carinhoso halo de consideração os seus poetas.

Li Tai Pô (702 - 763) é um dos grandes autores presentes nesta breve antologia. Conheci seus poemas nos anos 1990, quando fazia direção de arte do Jornal Nicolau, que também o publicou.  

Li Tai Pô

A Alva Garça Real

Aquele floco de neve
que surge no fundo azul
é uma garça.
Quieta, leve
com o olhar longínquo e vago
onde há saudades do Sul,

contempla o inverno no lago.



Montanha da Porta Celeste

O rio vara um sulco da montanha
aberto ali por uma força estranha.

Se em suas águas boia a meia-lua,

parece um junco de ouro que flutua.



Tristeza

O luar argentino se derrama
Como alva neve em torno à minha cama.

Levanto os olhos para a lua cheia...

Baixo-os, porém, lembrando minha aldeia.


Li Pô (702 - 763), posteriormente Li Tai Pô, viveu na corte do grande imperador Ming Hoang Ti. Independente por natureza, foi desterrado e perambulou vários anos por longínquas províncias da China. Numa dessa viagens escreveu o seu, talvez, mais melancólico poema: Tristeza. Li Pô era amante do vinho e da lua. Conta-se que certa noite, em que bebia, num barco sobre um lago calmo, ele viu a lua no fundo e atirou-se para buscá-la. O problema é que não sabia nadar... A partícula “Tai” (imáculo) acrescentada ao seu nome é de sentido reverencial. Informações baseada em notas de Hugo Castro in Cem Poemas Chineses.

Ilustração de Joba Tridente - 2012

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