Não me lembro desde quando guardo comigo um livro: Cem Poemas Chineses, com tradução, apresentação e notas de Hugo de Castro, publicado pela Vertente Editora, em 1978. Nada encontrei sobre o tradutor, na web. A edição traz belíssimos poemas.
Para Hugo de Castro: De certos poemas chineses exsurgem verdadeiros desenhos, semelhantes à
sua pintura, de suavíssimos e evanescentes contornos. De outros versos flui um
grave e sereno sentido humano; e uma ironia muito sutil ressalta em grande
número deles. Pelo fato de ser essencialmente pagãos, no sentido de exaltação
da natureza, emana do poema chinês um litúrgico aroma de desejo de amor, que se
observa, aliás, com muito mais frequência nas poetisas do que nos poetas...
Pê Yu Ki
(1621 –
1693)
Noite de Inverno
Diz-me
o estalido dos bambus
que,
fora, a neve,
cai, na
noite sem luz,
muito
de leve...
Tchan So Su
(1428 -
1473)
Ki Fong
A brisa
sopra célere. Há, naquela
árvore,
ao longe, frêmitos de amor.
Brilham
peixes no lago de aquarela
policromo,
irisado, multicor.
Sobre
ele, as asas pandas, transformando,
as
borboletas vão, num barco a vela,
cada
pétala ou flor que está boiando.
Minha
mulher não vai saber, por certo,
que em
vez de trabalhar fiquei sonhando,
perambulando
neste céu aberto.
Kung Fu Tsê
Exortação
Para não viver em vão
e sim
num suave delírio,
se
tiveres mais de um pão
vende
um e compra um lírio.
Kun Fu Tsê (551 - 479 a.C.), filósofo, poeta e
compilador de uma extensa tradição oral relativa à história, à literatura, à
musica, aos códigos, às crenças e lendas da China anterior ao seu tempo. Tsê é um termo de veneração que se
aplicava antigamente às pessoas de profundo conhecimento ou elevada posição; é,
também uma forma elíptica da expressão Fu
Tsê, que significa Mestre. Informações
baseada em notas de Hugo Castro in Cem Poemas Chineses.
Ilustração
de Joba Tridente - 2012
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