Não me lembro desde quando guardo comigo um
livro: Cem Poemas Chineses, com
tradução, apresentação e notas de Hugo
de Castro, publicado pela Vertente
Editora, em 1978. Nada encontrei sobre o tradutor, na web. A edição traz
belíssimos poemas, como este Seis
Quadros, de Chang Wu Kian (1879),que
parece uma prosa em verso.
Para Hugo de Castro: A poesia chinesa é, simultaneamente, verso, canto, desenho, cor e
sugestão. Abordá-la é mergulhar num oceano de inesperado e de beleza, cujo
fundo não se chega a atingir.
Chang Wu Kian (1879)
Seis
Quadros
nos quais sorri o meu filhinho
O
Começo
Ele deu
seu primeiro passo lento
levando
uma laranja em cada mão.
Os
arbustos resistem mais ao vento
quando
seus galhos vergam para o chão.
Sua
Canção
Põe-se
a cantar para dormir, enquanto
a mãe
quer que ele cale... mas em vão
pois
antes ele quer que o próprio canto
adormeça,
embalado na canção.
Os dois
prisioneiros
A sua
rã de jade transparente
estava,
um dia, fato extraordinário,
junto
da porta; então, prudentemente,
prendeu-a
na gaiola do canário.
O fogo
Do fogo
tem um medo enorme; quando
vê
qualquer chama quase perde a fala,
mas
tenta reagir, pronunciando
palavras
graves, para intimidá-la.
O
espelho
Procura
a mãe; procura-a sob a esteira
e até
no espelho; e salta, de contente,
pois
parece com a mãe de tal maneira
que a
julga atrás do espelho, sorridente.
As
gravuras
Com
muita perfeição, já tenta o som
das
vozes imitar, dos animais,
que
mostra e aponta nas gravuras com
ecos, à
voz dos bichos quase iguais.
E os
animais e os homens das gravuras
que ele
observa, quedam-se parados,
sem o
mínimo gesto, deleitados
ante
suas feições gentis e puras.
Ilustração
de Joba Tridente - 2012
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