sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Poemas Chineses - 2: Chang Wu Kian



Não me lembro desde quando guardo comigo um livro: Cem Poemas Chineses, com tradução, apresentação e notas de Hugo de Castro, publicado pela Vertente Editora, em 1978. Nada encontrei sobre o tradutor, na web. A edição traz belíssimos poemas, como este Seis Quadros, de Chang Wu Kian (1879),que parece uma prosa em verso.

Para Hugo de Castro: A poesia chinesa é, simultaneamente, verso, canto, desenho, cor e sugestão. Abordá-la é mergulhar num oceano de inesperado e de beleza, cujo fundo não se chega a atingir.


Chang Wu Kian (1879)

Seis Quadros
nos quais sorri o meu filhinho

O Começo
Ele deu seu primeiro passo lento
levando uma laranja em cada mão.

Os arbustos resistem mais ao vento
quando seus galhos vergam para o chão.

Sua Canção
Põe-se a cantar para dormir, enquanto
a mãe quer que ele cale... mas em vão
pois antes ele quer que o próprio canto
adormeça, embalado na canção.

Os dois prisioneiros
A sua rã de jade transparente
estava, um dia, fato extraordinário,
junto da porta; então, prudentemente,
prendeu-a na gaiola do canário.

O fogo
Do fogo tem um medo enorme; quando
vê qualquer chama quase perde a fala,
mas tenta reagir, pronunciando
palavras graves, para intimidá-la.

O espelho
Procura a mãe; procura-a sob a esteira
e até no espelho; e salta, de contente,
pois parece com a mãe de tal maneira
que a julga atrás do espelho, sorridente.

As gravuras
Com muita perfeição, já tenta o som
das vozes imitar, dos animais,
que mostra e aponta nas gravuras com
ecos, à voz dos bichos quase iguais.

E os animais e os homens das gravuras
que ele observa, quedam-se parados,
sem o mínimo gesto, deleitados
ante suas feições gentis e puras.


Ilustração de Joba Tridente - 2012

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