O livro
Viagem, de Cecília
Meireles,
publicado pelas Edições Oriente, em 1939, através da Editorial Império - Lisboa, reunindo poesias de 1929 a 1937, possivelmente é a obra mais absurdamente
amarga da escritora. A tristeza é tão grande que não permite uma leitura direta. Há que se
dar um tempo de poema a poema. VENTO é uma bela raridade neste mar de lágrimas. Cecília Meireles morreu no dia 9 de Novembro de 1964.
VENTO
Cecília Meireles
PASSARAM
os ventos de Agosto, levando tudo.
As
árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão.
Voaram
telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas:
os
ninhos que os homens não viram nos galhos,
e uma
esperança que ninguém viu, num coração.
Passaram
os ventos de Agosto, terríveis, por dentro da noite.
Em
todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel.
Mas, sobre
a paisagem cansada da aventura excessiva —
sem
forma e sem eco,
o sol
encontrou as crianças procurando outra vez o vento
para
soltarem papagaios de papel.
*
Ilustração de Joba Tridente - 2014
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964). Escritora, professora e
jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro,
o seu primeiro livro de poesia. Cecília
Meireles é autora de uma vasta obra onde se destacam: Criança, meu amor (1923), Nunca
Mais (1923), Poema dos Poemas
(1923). Batuque, Samba e Macumba
(1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga
Música (1942), Problemas de Literatura Infantil (1950), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963), Poemas de
Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964).
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