A Lua
é um astro fascinante. Há inúmeras lendas sobre ele em todo o mundo. Conheça
agora uma fantástica versão recolhida pelos irmãos Jacob Grimm (1785-1863), Wilhelm
Grimm (1786-1859).
A LUA
Irmãos Grimm
Em tempos muito antigos, havia uma terra
onde a noite era sempre escura e o céu estendia-se sobre ela como um lenço
negro, pois ali a Lua nunca subia e nenhuma estrela piscava na escuridão.
Certa vez, quatro rapazes saíram dali, decididos
a viajar pelo mundo, e chegaram a um reino onde, quando à noite o Sol
desaparecia atrás dos montes, havia uma esfera brilhante pendurada num
carvalho, que deitava uma luz suave em todas as direções. Embora não fosse uma
luz tão forte como a do Sol, era possível ver e distinguir tudo muito bem.
Admirados com o fenômeno, os jovens pararam um
lavrador, que passava por ali com o sua carroça, e perguntaram que luz era
aquela. - “Aquilo é a Lua”, respondeu ele, “o nosso prefeito comprou-a por três
moedas e pendurou-a no carvalho. Tem de lhe deitar óleo todos os dias e
mantê-la limpa, para que continue brilhando. Por isso lhe pagamos uma moeda por
semana.”
Assim que o lavrador partiu, disse um deles:
- “Esta lanterna fazia-nos jeito, também lá
temos um carvalho, tão alto como este, onde podemos pendurá-la. Que grande
alegria andar na escuridão sem tropeçar!”
- “Sabem que mais?”, disse o segundo,
“precisamos arranjar um carro e um cavalo e levar a Lua embora. As pessoas
daqui bem podem comprar uma outra.”
- “Eu trepo com muita facilidade”, disse o
terceiro, “trago-a já para baixo!”
O quarto trouxe um carro e um cavalo e o
terceiro trepou pela árvore acima, fez um buraco na Lua, passou-lhe um fio e a
desceu. Assim que a Lua brilhante ficou dentro do carro, a cobriram com um pano,
para que ninguém se apercebesse do roubo. Assim, sem problemas, levaram a Lua para
a sua terra e a penduraram num carvalho muito alto. Velhos, jovens e crianças se
alegraram, quando a nova lanterna começou a estender a sua luz sobre os campos
e a iluminar os quartos e as salas. Os anões saíram dos seus buracos nas rochas
e os pequenos elfos, com os seus casacos vermelhos, faziam rodas nos prados.
Os quatro rapazes tratavam da Lua com óleo, limpavam
e recebiam a sua moeda semanal. No entanto, envelheceram e quando um deles
adoeceu e se apercebeu de que a morte estava próxima, ordenou que um quarto de Lua
que lhe pertencia fosse levado com ele para a sepultura. Quando morreu, o
prefeito subiu na árvore e, com a tesoura da poda, cortou um quarto da Lua que
meteu no caixão. A luz da Lua diminuiu, mas não muito. Quando morreu o segundo,
foi-lhe dado o segundo quarto e a luz minguou. Mais fraca ficou ainda quando
morreu o terceiro, que também levou o seu quarto e, quando o quarto homem foi
sepultado, instalou-se de novo a velha escuridão. Sempre que as pessoas saíam à
noite sem lanterna, batiam com as cabeças umas nas outras.
Porém, assim que os quartos da Lua se juntaram
no Inferno, os mortos, habituados à escuridão, agitaram-se e acordaram do seu
sono. Ficaram espantados por enxergar novamente: a luz da Lua chegava-lhes bem,
pois os seus olhos estavam tão fracos que não teriam podido suportar a luz do
Sol. Ergueram-se, alegraram-se e retomaram os seus hábitos de vida. Alguns
deles dedicaram-se ao jogo e à dança, outros foram para as tabernas onde
pediram vinho, embriagaram-se, vociferaram e lutaram e, por fim, pegaram em
cacetes e bateram uns nos outros. O barulho era cada vez maior até que, por
fim, chegou ao Céu.
São Pedro, guardião das portas do céu, imaginando
uma revolução no Inferno, chamou as hostes celestes para lutar contra o Diabo,
porque este e os seus associados pretendiam assolar a morada dos abençoados.
Como os “revoltados” não chegavam nunca, São Pedro montou no seu cavalo,
atravessou as portas do Céu e foi ao Inferno. Aí sossegou os mortos, fez com
que voltassem de novo às sepulturas e levou com ele a Lua, pendurando-a no Céu.
*
Ilustração de Joba Tridente.2015
Jacob Grimm
(1785-1863) e Wilhelm Grimm
(1786-1859) são dois dos mais importantes compiladores da tradição oral
europeia. Tradutores, estudiosos de história e de linguística, os irmãos ganharam
maior notoriedade ao publicar, em 1812 e 1815, Contos da Criança e do Lar (Kinder und Hausmärchen), com narrativas
que se tornaram clássicas (Branca de
Neve, Cinderela, O Flautista de Hamelin, O Príncipe Sapo, Os Músicos de Bremen,
Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, João e Maria). Na web há farto material sobre os Grimm.
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