sábado, 5 de dezembro de 2015

Thomas Merton: Paisagem com Criança

Não conhecia a obra de Thomas Merton até ler o poema Paisagem com Criança, a belíssima tradução (livre) do escritor Marcílio Farias, já publicado por aqui (confira os links na biografia), para o indescritível Landscape, da edição The Complete Poems of Thomas Merton, lançada por New Directions em 1999. Para Marcílio, que traduz Merton há mais de vinte anos (tomando liberdades que tenho certeza ele aprovaria) e o lê desde os treze: Thomas Merton é um dos poetas mais expressivos do século XX, tão forte poeticamente quanto Pound, Eliot, Williams. Marcílio Farias me garantiu o envio de algumas traduções (pessoais) para uma postagem maior de Thomas Merton (1915-1968)..., por enquanto, deslumbre-se com Landscape, em português e inglês.


                   

PAISAGEM COM CRIANÇA
Thomas Merton
tradução de Marcílio Farias

1
Um Personagem é visto a distancia
reclinado sobre almofadas
bordadas com girassóis

Uma Criança brota
segurando um lápis de cor

"Este é um desenho que fiz
(diz a Criança ao Personagem)
do Vortex"

"Então desenhe do seu jeito"
(diz o Personagem)

(ao longe ouve-se uma melodia alegre
como saindo do mar e da espuma que banham o
litoral particular ensolarado infinito da Criança -
sua casa de corais)

E por trás de uma montanha azul
coberta por árvores feitas pelo homem com pés de galinha
um sol mofado aparece
uma flor de mau-gosto exageradamente maquiada

O Personagem encosta na montanha azul
com o sol na mão direita
e o lápis de cor da Criança
na mão esquerda

"Este é um desenho
(diz o Personagem à Criança)
do começo do Mundo"

"Ou do seu fim!!!" grita a Criança
se escondendo entre as almofadas
bordadas de girassóis


2
Uma mulher aparece
apoiando-se no ombro da criança
que olha para mim:

"Esta é minha Mãe
(diz a Criança ao Personagem)
Mais antiga que a Lua"

(cavalos Gregos saem do mar e da espuma
resfolegando beleza e suor
refletidos nas janelas dessa ilha
e no horizonte da criança)

"Minha Mãe é um mundo
(diz a Criança ao Personagem)
enfeitado por cravos e gladíolos"

"Pinte então do seu jeito, Menino"
(diz o Personagem a Criança)
e erguendo o lápis,
Risca o Sol



LANDSCAPE
by Thomas Merton

1
A Personage is seen   
Leaning upon a cushion   
Printed with cornflowers.

A Child appears   
Holding up a pencil.

“This is a picture
(Says the Child to the Personage)   
Of the vortex.”

“Draw it your own way,”
Says the Personage.

(Music is heard
Pure in the island windows,
Sea-music on the Child’s
Interminable shore, his coral home.)

Behind a blue mountain   
Covered with chickenfoot trees,
The molten sun appears,   
A heavy, painted flower.

A Personage is seen
Leaning upon the mountain   
With the sun in one hand   
And a pencil in the other.

“This is a picture
(Says the Personage to the Child)   
Of the beginning of the world.”

“Or of its end!” cries the Child   
Hiding himself in the cushions.


2
A Woman appears
Leaning upon the Child’s shoulder.   
He looks up again.

“This is my Mother
(Says the Child to the Personage)   
Older than the moon.”

(Grecian horses are heard   
Returning from the foam
Of the pure island’s windows,   
And the Child’s horizons.)

“My Mother is a world
(Says the Child to the Personage)   
Printed with gillyflowers.”

“Paint her your own way”
(Says the Personage to the Child).   
And, lifting up his pencil,

He crosses out the sun.

*
ilustração de Joba Tridente,2015



Thomas Merton  (1915-1968), escritor e monge trapista da Abadia de Getsêmani, Kentuchy, foi ativista social, pacifista e estudioso de religiões comparadas. Escreveu mais de setenta livros de prosa e verso, a maioria sobre espiritualidade. Em 1944 publicou Thirty Poems. O segundo livro, A Man in the Divided Sea, foi lançado em 1946. Entre suas obras de grande repercussão se destacam The Seven Storey Mountain (1948); No Man Is An Island (1955); The Way of Chuang Tzu (1965). Fontes: Wikipédia e Thomas Merton Center.

Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

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