sábado, 23 de julho de 2016

Seamus Heaney: Voltando da Republica da Consciência

Seamus Heaney é outro grande escritor que estrou conhecendo através da tradução de Marcílio Farias. Prêmio Nobel de 1995, Seamus Heaney (1939-2013) é considerado um dos poetas modernos mais influentes da Irlanda e uma das vozes mais importantes de nosso tempo. O poema From the Republic of Conscience - traduzido para o português (do Brasil) por Marcílio, com o título Voltando da Republica da Consciência - foi publicado em The Haw Lantern, Farrar-Strauss-& Giroux, NY 1989. A versão espanhola Desde la república de la conciencia é uma postagem de 25 de junho de 2007 do site Innisfree 1916, de Chesús Yuste Cabello, mas não sei se a tradução é dele. A mesma versão se encontra na edição digital gratuita Desde la república de la conciencia y otros poemas - Seamus Heaney, Irlanda - Muestrario de Poesía 40, editada em abril de 2009 pelo dominicano Aquiles Julián..., onde, infelizmente, também não consta o nome do tradutor.


       
  
Voltando da Republica da Consciência
de Seamus Heaney
em tradução livre de Marcílio Farias*

I
Quando aterrissei na republica da consciência e
As turbinas pararam, o silencio foi tão grande que
Pude ouvir o batuíra lá no alto voando sobre a pista

Na Imigração o agente era um velho que
De uma carteira antiga como seu casaco remendado
Tirou e mostrou a foto do meu avô

A mulher da alfandega pediu-me para declarar apenas
As palavras mais usadas para cura, e feitiços pra derrubar
Burrice e olho-grande

Vi nenhum porteiro. Nenhum intérprete. Nenhum taxi.
Cada qual carregava seu peso e viam com o tempo
Os privilégios e confortos desaparecerem.

II
Névoa é mau-presságio na republica. Raios
Anunciam o bem universal – e pais e mães
Enforcam nas arvores crianças bem agasalhadas durante tempestades

O símbolo nacional é um barco estilizado.
O símbolo da vela, uma orelha. O mastro, uma caneta torta.
O casco é uma boca. A quilha um olho arregalado.

Na posse, os políticos juram defender a
Lei natural e gemem lamentando a presunção orgulhosa
Dolorosa de desejar cargos públicos

E reafirmam sua fé de que a vida surge
Sempre do sal das lagrimas do deus-no-firmamento, lagrimas
Vertidas quando ele descobriu ser um deus eternamente solitário.

III
Eu retornei daquela republica frugal com
A mulher da alfandega liberando apenas a mim mesmo
E aos meus braços cansados

Um ancião olhou pra mim
E disse que essa volta equivalia a
Minha dupla-cidadania

E então recomendou que ao chegar em casa
Eu aceitasse ser o representante legitimo daquela terra
E mais um porta-voz

“as embaixadas deles estão em toda parte
E operam cada uma pro seu lado e
Nenhum embaixador jamais se aposenta...”

*
foto de Joba Tridente.2013

NOTA: Esta tradução não foi autorizada por ninguém. Mas gosto demais desse Irlandês. Nola, Julho de 2016. Marcilio Farias.



From the Republic of Conscience
by Seamus Heaney

I
“When I landed in the republic of conscience
it was so noiseless when the engines stopped
I could hear a curlew high above the runway.

At immigration, the clerk was an old man
who produced a wallet from his homespun coat
and showed me a photograph of my grandfather.
The woman in customs asked me to declare
the words of our traditional cures and charms
to heal dumbness and avert the evil eye.
No porters. No interpreter. No taxi.
You carried your own burden and very soon
your symptoms of creeping privilege disappeared.

II
Fog is a dreaded omen there but lightning
spells universal good and parents hang
swaddled infants in trees during thunderstorms.
Salt is their precious mineral. And seashells
are held to the ear during births and funerals.
The base of all inks and pigments is seawater.
Their sacred symbol is a stylized boat.
The sail is an ear, the mast a sloping pen,
the hull a mouth-shape, the keel an open eye.
At their inauguration, public leaders
must swear to uphold unwritten law and weep
to atone for their presumption to hold office -
and to affirm their faith that all life sprang
from salt in tears which the sky-god wept
after he dreamt his solitude was endless.

III
I came back from that frugal republic
with my two arms the one length, the customs
woman having insisted my allowance was myself.
The old man rose and gazed into my face
and said that was official recognition
that I was now a dual citizen.
He therefore desired me when I got home
to consider myself a representative
and to speak on their behalf in my own tongue.
Their embassies, he said, were everywhere
but operated independently
and no ambassador would ever be relieved.

publicado em 30.08.2013 no site Amnesty Iternational




Desde la República de la Conciencia
de Seamus Heaney
traducción (?)

I
Cuando aterricé en la república de la conciencia
y los motores se callaron, era tal el silencio
que pude escuchar el canto de un pájaro por encima de la pista.
El funcionario de inmigración, un hombre viejo,
extrajo una billetera de su abrigo tejido a mano
para mostrarme una fotografía de mi abuelo.
La mujer de la aduana me hizo declarar
las palabras de nuestros tradicionales rezos
contra el mal de ojo y de nuestros remedios para la mudez.
No hubo ningún portero. Ningún intérprete. Ni un taxi.
Uno llevaba su propio bulto y muy pronto desaparecían
los síntomas del recién adquirido privilegio.

II
Allá la neblina es un agüero temido, mas los rayos
anuncian la bonanza universal y los padres, durante la tempestad,
cuelgan a sus infantes en los árboles.
Su mineral precioso es la sal. Y ponen conchas marinas contra el oído
a la hora de los nacimientos y de los entierros.
Todos los pigmentos y tintas tienen por base el agua del mar.
Su símbolo sagrado es una barca estilizada.
La vela es una oreja y una pluma inclinada, el mástil.
El casco tiene forma de boca, la quilla es un ojo abierto.
Al asumir sus cargos, los funcionarios públicos
deben jurar su defensa de la ley no escrita, llorar
de vergüenza por atreverse a ocupar sus puestos
y afirmar su convicción de que la vida nació
de sal en las lágrimas derramadas por el Dios-del-cielo
cuando soñó que su soledad era infinita.

III
Regresé de aquella república frugal
con los dos brazos de igual tamaño, pues la aduanera insistía
que uno mismo representa el límite de los recursos permitidos.
El viejo se levantó, me miró a la cara y declaró
que en eso consistía el reconocimiento oficial
de que ahora disfrutaba de la doble nacionalidad.
Quiso por lo tanto que yo, al llegar a casa,
me considerara un representante de ellos
y que, usando mi propia lengua, hablara en su nombre.
Tenían embajadas, dijo, en todas partes, pero que cada una operaba independiente
y ningún embajador sería retirado jamás.

*
postagem de 25 de junho de 2007 no site Innisfree 1916



Seamus Heaney e seu retrato pintado por Colin Davidson.
Foto: Wikimedia Commons

SEAMUS HEANEY (Londonderry, 13.04.1939 - Dublin, 30.08.2013), poeta e escritor laureado com o Nobel de Literatura de 1995, é considerado um dos maiores autores irlandeses. A sua bibliografia é extensa. Sugiro a leitura de artigo e de biografia em Poetry Foundation: Seamus Heaney e Wikipedia: Seamus Heaney.


MARCÍLIO FARIAS é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

2 comentários:

  1. Grato, amigo Joba, pelo presente! Abraços.

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    1. ..., obrigado por sua visita, leitura e comentário, grande Pedro Du Bois! abs!

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