domingo, 3 de julho de 2016

Joba Tridente: Coisa de Criança

É mês de julho. É mês de férias, no Brasil. A criançada se espalha alvoroçada pra todo lugar. Para algumas delas, eu vou orientar Oficinas Culturais de Bonecos e Brinquedos feitos com Material Reciclável. Mas, antes, uma pausa para uma lembrança lúdica da minha própria infância. Três instantes fugazes..., Coisa de Criança.



Coisa  de  Criança
Joba Tridente

I
Criança, olhava o céu. O azul era redondo e circular. Rasgando essa calma um fio longo de fumaça. Um rastro deixado por um jato. Não era sinal de morte ou do fim do mundo. Eu sabia. Os adultos não. Temiam o apocalipse. Não esperavam por invasão extraterrestre. Não o sabiam. Eu sim. Tentava imaginar como seria viver na lua ou em planetas que acreditava habitados. Perguntava se em outros planetas os dias e semanas seriam os mesmos. Seriam os mesmos também os fins de semana? Pensava nos sábados e domingos em outros planetas.

II
Criança, olhava o céu azul. O azul era infinito. Ou quase, não fosse rasgado por um arco de fumaça. Um fio algo algodão desfiado cruzando o espaço. Parecia sem começo e sem fim quando atravessava nuvens branquelas. Fora delas, às vezes, um ponto prateado traçava o caminho. Outras vezes, era como se nascesse de um buraco invisível.

III
Criança, olhava um arco de fumaça contornando o céu. Um arco de fumaça se desmanchando no céu. Nas pontas eu imaginava se teriam surpresas. Como no arco-íris. Talvez potes de prata. Sabia que antes que alguém ali chegasse o arco de fumaça já teria se misturado às nuvens ou desaparecido. E com ele todo e qualquer segredo. ..., Eu era criança.

*
JT - texto: 08.03.2000 e ilustração: 20.05.2011



Joba Tridente em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

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