É mês de julho. É mês de férias, no Brasil. A criançada se
espalha alvoroçada pra todo lugar. Para algumas delas, eu vou orientar Oficinas
Culturais de Bonecos e Brinquedos feitos com Material Reciclável. Mas, antes,
uma pausa para uma lembrança lúdica da minha própria infância. Três instantes
fugazes..., Coisa de Criança.
Coisa de Criança
Joba
Tridente
I
Criança, olhava o céu. O azul era redondo e circular.
Rasgando essa calma um fio longo de fumaça. Um rastro deixado por um jato. Não
era sinal de morte ou do fim do mundo. Eu sabia. Os adultos não. Temiam o
apocalipse. Não esperavam por invasão extraterrestre. Não o sabiam. Eu sim.
Tentava imaginar como seria viver na lua ou em planetas que acreditava
habitados. Perguntava se em outros planetas os dias e semanas seriam os mesmos.
Seriam os mesmos também os fins de semana? Pensava nos sábados e domingos em
outros planetas.
II
Criança, olhava o céu azul. O azul era infinito. Ou quase,
não fosse rasgado por um arco de fumaça. Um fio algo algodão desfiado cruzando
o espaço. Parecia sem começo e sem fim quando atravessava nuvens branquelas.
Fora delas, às vezes, um ponto prateado traçava o caminho. Outras vezes, era
como se nascesse de um buraco invisível.
III
Criança, olhava um arco de fumaça contornando o céu. Um arco
de fumaça se desmanchando no céu. Nas pontas eu imaginava se teriam surpresas.
Como no arco-íris. Talvez potes de prata. Sabia que antes que alguém ali
chegasse o arco de fumaça já teria se misturado às nuvens ou desaparecido. E
com ele todo e qualquer segredo. ..., Eu era criança.
*
JT - texto: 08.03.2000 e ilustração: 20.05.2011
Joba Tridente em Verso : 25 Poemas
Experimentais (1999); Quase Hai-Kai
(1997, 1998 e 2004); em Antologias:
Hiperconexões: Realidade Expandida (2015);
101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo
da minha janela (2014); Ebulição da
Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos
Stankienambás (2000); Cidades
Minguantes (2001); O Vazio no Olho
do Dragão (2001). Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
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