“A
poesia de Adalgisa Nery acusa um extraordinário poder de convicção e é sempre
um largo gesto de solidariedade humana. Mesmo quando se está procurando a si
mesma, Adalgisa Nery tem o pensamento na humanidade, palavra que exprime também
(e principalmente) algo que é seu, que faz parte de seu ser. A arte de Adalgisa
Nery, se bem que cheia de feminilidade e doçura, se impõe pela força da sua
angustia, verdadeiramente apocalíptica em certos momentos. Em Adalgisa Nery não
importa tanto a fôrma, a adequação artística dos seus grandes temas, mas a
própria substância da sua poesia, os seus temas mesmos. Não estamos assim
relegando a sua técnica tão equilibrada, apenas valorizamos o sentido da sua
obra tão carregada de sofrimento.” em Antologia da Moderna Poesia Brasileira.
O poema Fragmento (1938), de Adalgisa Nery se encontra em Antologia da Moderna Poesia Brasileira - Revista Acadêmica, de 1939, do acervo
Brasiliana USP Digital.
F
R A G M E N T O
Adalgisa
Nery
Se a
escuridão do ventre materno
Não
tivesse fecundado nos meus olhos
A
angústia eterna,
As
minhas carnes seriam inundadas pelo espírito
[resplandecente
Da
primeira estrela que brotou
E eu
poderia correr de um lado para outro do firmamento
Com a
mesma brandura dos ventos refrescantes e suaves.
Eu
poderia cantar bem alto sem temor
E
esperar que o eco enroscasse em meus ouvidos os sons
[da minha garganta livre
Porque
os meus pecados não estariam guardados em segredo.
Eu
seria como o orvalho que chega antes do sol
E
brotaria do meu corpo o acre perfume da açucena plantada
em terra negra e úmida.
A minha
alegria seria como a raiz que rompe o solo para
[receber a luz
E a
minha sabedoria instruiria as mulheres por sonho
E os
homens por visões!
Se a
escuridão do ventre materno não me tivesse acompanhado.
As
minhas mãos poderiam rasgar em dois pedaços os corações
E
lavá-los em regatos de terras não imaginadas
Para
que perdessem a memória do seu lado esquerdo.
As
nascentes que mitigassem as bocas impiedosas
Seriam
sacadas em seu veio apenas com o toque do meu dedo.
Eu
teria braços como fogo, devorando com as chamas
[as árvores que abrigassem
Os que
não compreendem e os que não perdoam.
Eu
desceria como as nuvens das madrugadas sobre as cabeças
[em desespero
E atrás
das minhas pálpebras estariam escondidas todas as
[consolações.
Não
haveria ventres estéreis e seios secos
Errando
entre as nações.
Eu me
transformaria em ar, atravessaria as grades das prisões
E
penetraria nas narinas ofegantes dos condenados.
Eu
estaria esquecida dos profetas
Que me
representam em múltiplas figuras.
Se a
escuridão do ventre materno
Não
houvesse fecundado nos meus olhos a angústia eterna
E
esperado o meu Princípio me reduzindo a um momento
Eu
seria então a GRANDEZA ABSOLUTA
E não
um FRAGMENTO!
*
ilustração: foto de Joba
Tridente.2017
Adalgisa
Nery
(Rio de Janeiro, 29.10.1905 - Rio de Janeiro, 07.06.1980). Jornalista e
escritora modernista de prosa e verso. Publicou Poesia: Poemas (1937); A Mulher
Ausente (1940); Ar do Deserto
(1943); Cantos da Angústia (1948);
As Fronteiras da Quarta Dimensão (1952);
Mundos Oscilantes (1962); Erosão (1973); Contos: Og (1943) e 22 menos 1 (1972); Romance: A
Imaginária (1959) e Neblina
(1972); Crônicas: Retrato sem Retoque
(1966). Numa próxima postagem falo um pouco mais desta grande autora, que foi casada
com o artista plástico Ismael Nery (1900-1934) e com o jornalista Lourival
Fontes (1899-1967), e da sua militância política.
夜昇日落'中有寄情。水中煙:自碧藍色e河中一浮昇。ㄧ層薄薄e白煙。將熱天e河邊-染色。彼時、因為父親外有查某'媽媽ㄧ面行__面擦目屎。
ResponderExcluirvia tradutor google:
ResponderExcluirHá um sentimento na noite. Fumaça na água: subindo do rio azul. Fina fumaça branca. O dia quente e rio - manchado. Naquela época, por causa do check-up de seu pai, "cara de macarrão da mamãe" cara a cara. Yan Yan Zhan
..., grato, Yan Yan Zhan pela visita, leitura e compartilhamento do seu poema.