Numa época
em que impostores e falastrões se apoderam do poder estabelecido com ou sem a conivência
do povo..., em dias politicamente podres em quase todo o planeta..., há que se
ficar atento para evitar a demência ampla, geral e irrestrita.
A minha arte
vem da observação do mundo ao meu redor. Foi um olhar oportuno, em entrevistas
indecentes, das mãos nervosas de quem se faz ou é feito comandante de nação, que,
após c.h.ã.o (2016), me fez cometer m.ã.o.s (2017). Qualquer semelhança com algumas mãos (re)conhecidas por você pode não ser mera coincidência.
m . ã . o . s
joba tridente
tuas gélidas mãos
tão suas no suor frio
arrepiam minha lógica
na tela em que te vejo
nem bocejo
tuas magricelas mãos
carregadas de longos dedos
que apontam que desdenham
que anunciam que empossam
mãos de todos os pesos
na latrina do palácio de todos os pecados
onde sempre encontras um bacio
a servir em comum às outras trêmulas mãos
que nas esquinas da labirintite palaciana
sabem temer
não apenas o degelo da munheca
que (en)torna escorregadia
a rampa do poder
mas também o degrau sul-republicano
capaz de lhe sequestrar o sol
tuas viscosas mãos
tão temerosamente suas
exalam a seiva peçonhenta
comum aos sujeitos iagos
que gotejam hipocrisia
que cortejam vassalos
em serões aziagos
nas noites de lua nova
e estrelas cerradas
ofuscando o salão
de tortos bailados
tuas trágicas mãos
num drama federal
vagam tontas
vagam tolas
vagam tagarelas
vagam canastronas
num palco de idiossincrasias alugadas
a preços tão módicos
que fazem tremer as bolsas
que fazem temer os boçais
em suas cadeiras aveludadas
tão dadas ao vinho filante
tuas finórias mãos
tão apegadas
uma à outra tão suas
teus finórios dedos
tão apegados
uns aos outros tão seus
desdenham da sorte arruaceira
porque a câmera que tv
insiste em não ver
o quê d’ócio padece
na tela
bate o gongo emissor
o eco midiático na cabeça vazia
zonzeia o tongo
mãos alheias na boca nos olhos nas orelhas
tapam..., tapeiam..., esbofeteiam
: entorpecem!
na janela
bate o gongo remissor
o ego midiático na cabeça vadia
zonzeia o tongo
tuas maquiavélicas mãos
tão ardilosamente suas
de dedos maquinando canetas
tão mecanicamente suas
de dedos maquiando palavras
tão falsamente suas
de dedos esmaltando laivos
que a acetona do tempo
um dia desvelará
tuas lascivas mãos
tão lubricosamente suas
nas carícias de ossos de
outra conjuntura
nos cafunés tamborilantes na calva da justiça
tuas lancinantes mãos
tão ferinamente suas
na tatuagem macabra do
vocábulo subliminar
na panfletagem inócua do
voto sustenido
tuas nulas mãos
tão cegamente suas
que se negam uma
a outra lavar
temerosas dos dedos
uma os da outra arrancar
no cotoco maneta
a concha que acolhe
e a concha que abafa
já não farão eco
os vermes da plateia
já deixaram o palco central
nos bastidores la commedia
è finita
e apenas a tua boca
tão aborrecidamente sua
insiste em não desgrudar da máscara...
cwb.10.02.2017
Joba Tridente, artesão de palavras e imagens em Verso : 25 Poemas
Experimentais (1999); Quase Hai-Kai
(1997, 1998 e 2004); em Antologias:
Hiperconexões: Realidade Expandida (2015);
101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo
da minha janela (2014); Ebulição da
Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos
Stankienambás (2000); Cidades
Minguantes (2001); O Vazio no Olho
do Dragão (2001). Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
Clap, clap, clap, clap...
ResponderExcluir(apenas para os versos e, logicamente, não para o mote.
Marcelo Finholdt
..., grato, Marcelo Finholdt!
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