O Dia
Nacional da Literatura Infantil se comemora nesta data em homenagem ao
nascimento de Monteiro Lobato: Um País se faz com Homens e Livros!
Fábula:
O Ratinho, o Gato e o Galo
Monteiro
Lobato em Memória de Emília - Fábulas
- Ed. Brasiliense, 1935.
Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira
vez.
Queria conhecer o mundo e travar relações com
tanta coisa bonita de que falavam seus amigos. Admirou a luz do sol, o verdor
das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou
penetrando no quintal duma casa da roça.
- Sim senhor! É interessante isto!
Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de
milho e a estrebaria. Em seguida, notou no terreiro um certo animal de belo pelo,
que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o, sem receio nenhum.
Nisto, aparece um galo, que bate as asas e canta. O ratinho, por um triz, não
morreu de susto.
Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a
toca. Lá contou à mamãe as aventuras do passeio.
- Observei muita coisa interessante - disse ele.
- Mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um de pelo
macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa
gente, e lamentei que estivesse a dormir impedindo-me de cumprimentá-lo. O
outro… Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas
amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas
barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho, que quase caí de
costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso
gato, que tamanha destruição faz no nosso povo.
A mamãe rata assustou-se e disse:
- Como te enganas, meu filho! O bicho de pelo
macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado,
de olhar feroz e crista rubra, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez
mal. As aparências enganam. Aproveita, pois, a lição e fica sabendo que: Quem
vê cara não vê coração.
José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté-SP, 18 de Abril de 1882 – São
Paulo-SP: 4 de Julho de 1948), jornalista, crítico, cronista, artista plástico,
tradutor, editor. Um dos mais importantes escritores brasileiros. Por vezes
contraditório (ainda amado e censurado), deixou ao alcance do público adulto uma
curiosa e polêmica literatura, onde se destacam: Urupês (1918); Cidades Mortas
(1919); Ideias de Jeca Tatu (1919); Negrinha (1920); Contos
escolhidos (1923); O Presidente Negro e o Choque de Raças (1926). Ao
público infantojuvenil o genial autor legou uma série (atemporal) de aventuras vividas
por Emília, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, Dona Benta no Sítio do Pica-Pau
Amarelo.
ilustração:
Boneco Ratinho - criado por Joba Tridente