segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ascenso Carneiro: Trem de Alagoas


Ascenso Carneiro pode não ser aquele autor de “ponta da língua” para muitos amantes da poesia, mas nos legou uma excelente obra. Em 1975, eu e milhares de outros telespectadores, que não tiveram acesso ao Festival Abertura, viram e ouviram pela TV, um desconhecido e enlouquecido Alceu Valença cantar Vou Danado pra Catende. Em 2013 soube que Alceu adaptou um trecho de Trem de Alagoas em sua famosa e arrebatadora Vou Danado pra Catende. Parceria perfeita! Inezita Barroso também musicou o poema de Ascenso.


Trem de Alagoas

O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…

          - Vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende
          com vontade de chegar...

Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.

          - Adeus!
          - Adeus!

Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...

          - Adeus morena do cabelo cacheado!

Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar

          - Vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende
          com vontade de chegar...

Na boca da mata
há furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar:

          - Ali dorme o Pai-da-Mata!
          - Ali é a casa das caiporas!

          - Vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende
          vou danado pra Catende
          com vontade de chegar...

Meu Deus! Já deixamos
a praia tão longe…
No entanto avistamos
bem perto outro mar...

Danou-se! Se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada! É um partido
já bom de cortar...

          - Vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende
          vou danado pra Catende
          com vontade de chegar...

Cana caiana,
cana roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar...

          - Adeus morena do cabelo cacheado!

          - Ali dorme o Pai-da-Mata!
          - Ali é a casa das caiporas!

          - Vou danado pra Catende,
          vou danado pra Catende
          vou danado pra Catende
          com vontade de chegar... 


Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira (1895 - 1965), escritor regionalista pernambucano, abolicionista, modernista, já em 1912 publicava seus versos em jornais. A sua poesia, além de ricamente visual, têm um ritmo contagiante. É autor de: Catimbó (1927); Cana Caiana (1939); Poemas (1951); Catimbó e Outros Poemas (1963); Poemas: Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhém (1981); Eu Voltarei ao Sol da Primavera (1985). Há um bom material sobre Ascenso Carneiro no Portal Fundação Joaquim Nabuco em Pesquisa Escolar.

Ilustração de Joba Tridente - 2013

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