Topázio
Houve
um tempo candango. De cartas datilografadas.
DIAS DE PAX
quando viajo além da minha janela
por estradas que nascem
lindas
em um recanto chamado Topázio
onde, entre pouca árvore e muita pedra,
águas cristalinas correm suaves
e
desembocam em piscinas de águas mansas
ou despencam em cachoeiras,
rumando
a uma profunda e maravilhosa garganta...,
com tanta gente bonita ao redor
com tanta estrela no céu breu ao redor
(além, evidentemente,
dos famosos
mosquitos, sempre à espera de comida nova)
e que fica logo ali,
na entrada de Brasília
onde a gente pode até esquecer os
DIAS DE GREVE
quando a gente acorda
e logo alguns passos à frente
dá
de cara e corpo e mente com os batalhões
armados, até os dentes, para uma guerra
de nervos e esperanças e bombas e faixas
e cães e palavrões e cassetetes e dores
para se restabelecer a
“ordem”
na
“desordem” estabelecida
onde ninguém conhece
o responsável
da balbúrdia engolida
a seco
no café da manhã ou almoço ou jantar
com direito a sobremesa de pancadaria
numa estranha partida
onde os jogadores do
front
nunca se
deram ao luxo ou ao lixo
de perguntar
o porquê de um jogo
onde todos perdem
na roleta viciada,
fazendo
a gente libertar pequenos demônios
numa brincadeira de
derruba-dominó
e rir
de imaginar
aqueles perfilados
homens armados,
contornando
o “avião”,
caindo
uns sobre os outros
feito as pedras montadas
no espetáculo da paciência...,
deixando
a gente fugir para os
DIAS DE SONHO
em que toda a
pax do mundo é possível
inclusive mergulhar de cabeça
num quadro que a gente ama
e
misturar-se
às pinceladas
e dele fazer parte
quem sabe?, ficar largado
num gramado
noturno contando estrelas soturnas
sem se preocupar com a data do término
sem se preocupar com erros e com as errantes
sem se preocupar com o que quer que seja
dentro e fora do mundo
ao contrário de quando a gente
é
alçado pelos
DIAS DE TRABALHO
que tristemente vão virando rotina da rotina
e a gente nem se
preocupa mais com a fantasia
ou a máscara que vai usar a cada dia
para enfrentar o festival de
mediocridade
onde os ignorantes se
apresentam aos analfabestas
com seus currículos de demagogia
vomitando
uma retórica aleijada
sustentada por muletas apodrecidas
como se
o suprassumo de uma verdade
que a gente já não vê desde os
DIAS DE
RECUERDOS
quando criança descobria
as brincadeiras sexuais
quando adolescente descobria
as mentiras religiosas
quando rapaz descobria
a beleza da mitologia
quando entre as idades descobria
a arte
quando entre as idades descobria
as querências
quando entre as idades descobria
os amigos
quando entre as idades viajava entre as idades
como viajo ainda hoje nos sonhos, pesadelos
e fora deles..., sempre
que distraído...
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Joba Tridente: Carta - início da década de
1980
Joba Tridente: Ilustração - 2013
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