Marcílio Farias: Os
poemas desta seleção, escritos num período de mais ou menos dez anos, em
lugares e circunstâncias tão diferentes quanto as paisagens que evocam, foram
agrupados em quatro partes, definidas em relação ao veio temático que exploram,
e não à época em que foram escritos — a ordem é totalmente metacrônica. (...)
Os temas e motivos entremeiam a minha visão de mundo com as múltiplas visões do
homem que o mundo nos revela — evidenciadas no trato da linguagem. E o que
seria a literatura se não o abrir universalizante de um particular, objetivado
via linguagem? Acredito, como Baudrillard, que nosso tempo é um cipoal de
falsos indicadores: indicadores de vida e de negação da vida, de uma
civilização tecnofeita e endurecida por diretrizes rarefeitas, reificadas, que
destroçam o veio sentimental e emotivo, sensual e prazenteiro, que deveria ser
o traço característico dos seres humanos.
(Diálogo visto de longe na Praça da Sé)
Ele
beija a mão dela,
Confere
o contracheque
E pede
abatimento.
Ela
zomba,
Mexe as
mãos para cima e para baixo,
Chega
perto de seu ouvido direito e cochicha.
E ri
E
arrota
Cerveja.
Ele - "Mesmo assim, você insiste nesse
roteiro noturno,
Fabricando
sonho, gonorreia e febres todas as
Noites
nesse roteiro soturno
Deixa,
deixa, deixa eu te alisar, deixa
Deixa
eu fabricar meu sonho no seu roteiro noturno"
Ela – “No meu corpo só existe esquecimento.
Meu
prazer se chama esquecimento
E
não sinto nada quando você toca no meu seio
Só
sinto a dor, o fogo da dor, e a chaga crescendo"
(*)
Ilustração de Joba Tridente: 2013
Marcílio
Farias é formado e pós-graduado pela UnB em Jornalismo, Cinema
e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre
Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas: Visual Field (poemas), 1996 - Watermark
Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo
Cor-de-Rosa (poemas), 2007, e Rito
para Ressuscitar um Elefante (poemas), 2010, ambos pela Scortecci Editora,
São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo.
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