Gosto muito deste poema de Orlando Mendes. Absurdamente lírico e comovente: Noiva. Ele foi publicado em Adeus Gutucumbui e o conheci na Antologia de Autores Africanos: Do Rovuma
ao Maputo, organizada por Carlos Pinto Pereira, em 1999.
N O I V
A
Orlando Mendes
Eu te daria frescas flores de laranjeira
para uma grinalda na carapinha desfrisada.
Eu te daria um colar de missangas coloridas
para uma cruz de outra carne a fogo marcada
sobre o seio esquerdo ao rasgar da
virgindade.
Eu te daria um trevo de quatro folhas
verdes
para que te nascesse o primeiro filho
varão.
Eu te daria se não fosses a noiva de todos
fazendo bandeira com uma capulana garrida
às nove da noite naquela rua de areia suburbana.
Uma rosa encarnada se desfolha
na fonte do teu corpo em cada lua nova como
se fosses a virgem noiva a quem eu daria
flores de laranjeira, um colar e um trevo
que te darei talvez para usares quando não
puderes ser noiva de todos fazendo bandeira
às nove horas da noite naquela rua de
areia.
*
Ilustração de Joba Tridente
Orlando
Marques de Almeida Mendes (Ilha de Moçambique, 1916 - Maputo, 1990).
Crítico Literário, poeta, romancista, dramaturgo. Influenciado pelo neorrealismo
português, colaborou em diversos jornais moçambicanos e estrangeiros e produziu
uma vasta obra literária: Trajectória
(1940); Portagem (1966); Um minuto de Silêncio (1970); Adeus de Gutucumbui (1971); A Fome das Larvas (1975); Papá Operário mais Seis Histórias (1983);
Sobre Literatura Moçambicana (1982).
Recebeu os prêmios: Fialho de Almeida;
Jogos Florais da Universidade de Coimbra
(1946); Prémio de Poesia no concurso
literário da Câmara Municipal de Lourenço Marques. Fonte: Infopédia
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